terça-feira, 28 de agosto de 2012

A GRANDEZA DOS SIMPLES


 (Vila Real de Santo António, 18 de Fevereiro de 1899 — Loulé, 16 de Novembro de 1949)


Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um mundo novo a sério

Sem querer fazer juízos de valor ou, tão pouco, especular sobre os interesses obscuros que estão por detrás do "Negócio" da RTP (venda, oferta, pagamento-de-promessa, favor, etc.), lembrei-me de António Aleixo e da simplicidade dos seus versos na análise profunda e magnânima da sociedade; principalmente, dos poderosos opressores.

Lembrei-me, outrossim, do contraste deste homem – grande, na sua simplicidade – com a pequenez, mediocridade e incompetência daqueles que – não passando de meras marionetas – se arrogam a senhores do mundo…

Assim, à laia de desabafo, reproduzo alguns versos de António Aleixo – eloquente saber popular que ofuscaria, hoje, os "doutores" que nos governam.

Aleixo, esse sim!…Tinha créditos para ser doutor, não o foi. Mostrou somente a grandeza da sua simplicidade.

Sei que pareço um ladrão…
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu pareço.

Eu já não sei o que faça
p'ra juntar algum dinheiro;
se te vendesse a desgraça
já hoje eu era banqueiro.

Tu não me emprestas dinheiro
porque não tenho vintém;
mas se to pede um banqueiro
quer vinte, ofereces-lhe cem.

Desce à escala a que pertenço
que, com certeza, acharás
muito justo o mal que penso
dos que estão onde tu estás.

Entre leigos ou letrados,
fala só de vez em quando,
que nós, ás vezes, calados,
dizemos mais que falando.

Homem que te julgas fino
sem qu'rer que alguém em ti mande,
tornas-te mais pequenino
sempre que te julgas grande.

Que o mundo está mal, dizemos,
e vai de mal a pior;
e, afinal, nada fazemos
p'ra que ele seja melhor.

Como és vil, humanidade!…
não olhas para as desventuras:
as chagas da sociedade,
podes curar, e não curas

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