Alfred Heineken fez mais do que apenas cerveja. Também
pensou sobre coisas como o futuro da Europa e a melhor forma de agir. "Proponho uma Europa Unida de 75 Estados",
escreveu num panfleto publicado no verão de 1992.
Heineken, um idoso criativo, com imenso tempo e dinheiro,
era famoso por ter ideias bizarras. E a da sua Europa foi rapidamente
esquecida. Infelizmente, porque, vinte anos depois, é mais actual do que nunca.
O tempo em que as pessoas eram ignorantes e obedientes já
passou. Era o tempo em que os seus dirigentes não se incomodavam com exigências
de transparência, eficiência, democracia e responsabilidade. O progresso
tecnológico gerou sempre perturbações políticas, muitas vezes à custa de quem
está no poder. A Internet, como a imprensa antes dela, dá às pessoas acesso à
informação e poder para criar e distribuir, minando a ordem estabelecida por
toda a parte – não apenas no mundo árabe ou em outros países onde os direitos
humanos ainda não são reconhecidos.
É por isso que os Estados mais evoluídos fazem o que podem
para satisfazer gente cada vez mais exigente e emancipada – descentralizam. O Reino
Unido, a Alemanha, a França, a Espanha, a Itália, todos delegaram poderes nas
últimas duas décadas. Quanto mais próximo estiver o poder, mais transparente,
eficiente, democrático e responsável é.
Tudo o que tem uma função tem um tamanho ideal. Uma caneta
pode ser maior ou menor, mas precisa de ser utilizável. O Estado social europeu
tem várias funções. Precisa de proteger o seu território em relação ao
exterior, defender o Estado de direito, prestar cuidados de saúde, promover a
educação, cuidar das estradas e das florestas e – em maior ou menor grau –
distribuir a riqueza.
O problema é que cada uma dessas funções tem o seu tamanho
ideal e que, num mundo em permanente mudança, continuam a divergir. O resultado
não é o Estado deixar de funcionar – apenas deixa de funcionar bem. Como uma
caneta do tamanho de uma vassoura ou tão pequena como uma lasca de madeira –
continua a ser possível utilizá-la, mas não é muito prático
Crescemos tão acostumados à actual divisão do continente que
qualquer sugestão para mudar recebe um sorriso complacente – na melhor das
hipóteses.
Mas é assim tão disparatado?
Ganhemos um pouco de distância e tentemos ver a imagem no
seu conjunto. Não é uma ideia assim tão má, essa dos Estados Unidos da Europa. Teríamos
um pequeno governo federal, eleito diretamente, e inúmeros governos locais, de
Estados de tamanho similar – não muito diferentes dos EUA. Poderíamos assumir
uma posição conjunta no cenário global e, ao mesmo tempo, decidir a nível local
se devem ser autorizadas as touradas ou o consumo de marijuana. Muito dos
nossos problemas actuais desapareciam: criava-se, desta forma, um equilíbrio
entre os Estados grandes e os mais pequenos, o Norte a ter de apoiar financeiramente
o Sul.
Heineken chamou-lhe "Eurotopia" – uma fusão de
Europa e utopia. Estava perfeitamente ciente do cepticismo que a ideia iria
suscitar. Mas tempos radicais impõem medidas radicais. E perante o caminho que
tudo leva, prefiro utopia a distopia.
(Compilação de um artigo de Philip Ebels, em Presseurop).
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