quarta-feira, 8 de agosto de 2012

EUROTOPIA



Alfred Heineken fez mais do que apenas cerveja. Também pensou sobre coisas como o futuro da Europa e a melhor forma de agir. "Proponho uma Europa Unida de 75 Estados", escreveu num panfleto publicado no verão de 1992.


Heineken, um idoso criativo, com imenso tempo e dinheiro, era famoso por ter ideias bizarras. E a da sua Europa foi rapidamente esquecida. Infelizmente, porque, vinte anos depois, é mais actual do que nunca.
  
O tempo em que as pessoas eram ignorantes e obedientes já passou. Era o tempo em que os seus dirigentes não se incomodavam com exigências de transparência, eficiência, democracia e responsabilidade. O progresso tecnológico gerou sempre perturbações políticas, muitas vezes à custa de quem está no poder. A Internet, como a imprensa antes dela, dá às pessoas acesso à informação e poder para criar e distribuir, minando a ordem estabelecida por toda a parte – não apenas no mundo árabe ou em outros países onde os direitos humanos ainda não são reconhecidos.

É por isso que os Estados mais evoluídos fazem o que podem para satisfazer gente cada vez mais exigente e emancipada – descentralizam. O Reino Unido, a Alemanha, a França, a Espanha, a Itália, todos delegaram poderes nas últimas duas décadas. Quanto mais próximo estiver o poder, mais transparente, eficiente, democrático e responsável é.

Tudo o que tem uma função tem um tamanho ideal. Uma caneta pode ser maior ou menor, mas precisa de ser utilizável. O Estado social europeu tem várias funções. Precisa de proteger o seu território em relação ao exterior, defender o Estado de direito, prestar cuidados de saúde, promover a educação, cuidar das estradas e das florestas e – em maior ou menor grau – distribuir a riqueza.

O problema é que cada uma dessas funções tem o seu tamanho ideal e que, num mundo em permanente mudança, continuam a divergir. O resultado não é o Estado deixar de funcionar – apenas deixa de funcionar bem. Como uma caneta do tamanho de uma vassoura ou tão pequena como uma lasca de madeira – continua a ser possível utilizá-la, mas não é muito prático

Crescemos tão acostumados à actual divisão do continente que qualquer sugestão para mudar recebe um sorriso complacente – na melhor das hipóteses.

Mas é assim tão disparatado?

Ganhemos um pouco de distância e tentemos ver a imagem no seu conjunto. Não é uma ideia assim tão má, essa dos Estados Unidos da Europa. Teríamos um pequeno governo federal, eleito diretamente, e inúmeros governos locais, de Estados de tamanho similar – não muito diferentes dos EUA. Poderíamos assumir uma posição conjunta no cenário global e, ao mesmo tempo, decidir a nível local se devem ser autorizadas as touradas ou o consumo de marijuana. Muito dos nossos problemas actuais desapareciam: criava-se, desta forma, um equilíbrio entre os Estados grandes e os mais pequenos, o Norte a ter de apoiar financeiramente o Sul.

Heineken chamou-lhe "Eurotopia" – uma fusão de Europa e utopia. Estava perfeitamente ciente do cepticismo que a ideia iria suscitar. Mas tempos radicais impõem medidas radicais. E perante o caminho que tudo leva, prefiro utopia a distopia.

(Compilação de um artigo de Philip Ebels, em Presseurop).

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