domingo, 14 de novembro de 2021

Para acabar de vez com o amor

 


Relativamente ao encontro internacional subordinada ao "COP 26" titula, Andreia Sanches, no editorial do Público, de 14 de Novembro p.p.: “O que dirão os netos deles deste ‘acordo imperfeito´”?

Respondo já: Não irão dizer nada, pois nada sentirão. Quem foi educado fora do amor não reconhece a falta de amor, nem de quem os educou, logo, não sabem o que é amor. Foram educados na preocupação exclusiva consigo e com os seus próprios interesses. Para eles, o amor, o respeito pelos outros e pela liberdade não os realiza. A família, porque não alimenta o seu egocentrismo, deixará de ter importância; valerá, tão somente o seu individualismo. Escusa, quando necessitar, pedir ajuda porque ninguém lhes ligará. E, mesmo as manifestações dos resquícios de amor serão somente instinto. Este acordo fracassado é mais um passo para acabar de vez com o amor ou então o amor já acabou.

No princípio a socialização estará somente ligada ao prazer individual e à procriação; depois, nem isso.

Toda esta impotência da humanidade serve para acabar de vez com o amor.

Talvez nem cheguemos a esta fase porque, entretanto, o mundo acaba.

 

domingo, 17 de janeiro de 2021

PARA QUANDO A IGUALDADE DE GÉNERO…?

 


A Igreja não é somente para homens.

«Uma questão que está sempre em estudo, sem nenhuma conclusão, é o papel das mulheres na Igreja e nos chamados ministérios ordenados como, por exemplo, o da presidência da Eucaristia.

O Papa Francisco acaba de publicar uma Carta Apostólica sob a forma de “Motu Proprio”, Spiritus Domini. É tão breve que se pode chamar um bilhete cheio de ironia. Diz que “Os leigos que tiverem a idade e as aptidões determinadas com decreto pela Conferência Episcopal, podem ser assumidos estavelmente, mediante o rito litúrgico estabelecido, nos ministérios de leitores e de acólitos; no entanto, tal concessão não lhes atribui o direito ao sustento ou à remuneração por parte da Igreja.”

Posso estar muito enganado, mas esta Carta é um exercício magnífico de ironia pastoral. Bergoglio tem-se esforçado por realçar que o lugar das mulheres na Igreja está muito desfasado em relação ao papel que desempenham na vida social, cultural, económica e política em muitos países. Homens e mulheres gozam cada vez mais, ainda com muitas distorções, dos mesmos direitos e deveres cívicos.

No entanto, o Papa Francisco esbarra com a Carta Apostólica de João Paulo II, Ordinatio Sacerdotalis (22.05.1994): “A ordenação sacerdotal, mediante a qual se transmite a função confiada por Cristo aos apóstolos, de ensinar, santificar e reger os fiéis, foi reservada sempre, na Igreja Católica, exclusivamente aos homens.” Esta Carta precisa de uma hermenêutica rigorosa que mostre que ela continua com as imagens de um mundo que está condenado a desaparecer. Ao publicar um Motu Proprio sobre o que já não precisava de nenhuma publicação, o Papa Francisco manifesta o ridículo da situação actual. 1»


Cristo não entregou a missão de divulgação do reino somente a homens; fê-lo, também e por excelência, a mulheres. Lembremos:

Maria Madalena, quando chegou ao sepulcro e não encontrou lá o corpo do Senhor, julgou que alguém O tinha levado e foi avisar os discípulos. Estes vieram também ao sepulcro, viram e acreditaram no que essa mulher lhes dissera. Destes está escrito logo a seguir: E regressaram os discípulos para sua casa. E depois acrescenta-se: Maria, porém, estava cá fora, junto do sepulcro, a chorar.

Estes factos levam-nos a considerar a grandeza do amor que inflamava a alma desta mulher, que não se afastava do sepulcro do Senhor, mesmo depois de se terem afastado os discípulos. Procurava a quem não encontrava, chorava enquanto buscava e, abrasada no fogo do amor, sentia a ardente saudade d’Aquele que pensava ter-lhe sido roubado. Por isso, só ela O viu então, porque só ela ficou a procurá-l’O. Na verdade, a eficácia das boas obras está na perseverança, como afirma também a voz da Verdade: Quem perseverar até ao fim será salvo.

Começou a buscar e não encontrou; continuou a procurar e finalmente encontrou. Os desejos foram aumentando com a espera e fizeram que chegasse a encontrar. Porque os desejos santos crescem com a demora; mas os que esfriam com a dilação não são desejos autênticos. Todas as pessoas que chegaram à verdade, conseguiram-no porque lhe dedicaram um amor ardente. Por isso afirmou David: A minha alma tem sede do Deus vivo; quando irei contemplar a face de Deus? Por isso também diz a Igreja no Cântico dos Cânticos: Estou ferida pelo amor. E ainda: A minha alma desfalece.

Mulher, porque choras? Quem procuras? É interrogada sobre a causa da sua dor, para que aumente o seu desejo e, ao mencionar ela o nome de quem procurava, mais se inflame no amor que Lhe tem.

Disse-lhe Jesus: Maria! Depois de a ter tratado pelo nome comum de “mulher”, sem que ela O tenha reconhecido, chamou-a pelo nome próprio. Foi como se lhe dissesse abertamente: “Reconhece Aquele que te conhece a ti. Não é de modo genérico que te conheço, mas pessoalmente”. Por isso Maria, ao ser chamada pelo seu nome, reconhece quem lhe falou; e imediatamente lhe chama “Rabbúni”, isto é, “Mestre”. Era Ele a quem procurava externamente e era Ele quem a ensinava interiormente a procurá-l’O e a divulgá-l’O.

 

Quase desde sempre as mulheres eram excluídas da sucessão. Quando contraiam matrimónio recebiam um dote, constituído de bens que seriam administrados pelo marido. O casamento era um pacto entre duas famílias, o seu objectivo era simplesmente a procriação. A mulher era, ao mesmo tempo, doada e recebida, como um ser passivo.

O marido que amasse excessivamente a sua esposa era visto como adúltero (luta constante entre o amor platónico e o amor físico/carnal, defendido, também, no Renascimento). Não deveria usá-la como se fosse uma prostituta. A mulher não podia tratar o marido como se ele fosse o seu amante. Através do casamento, o corpo da mulher passava a pertencer ao seu esposo. Mas a alma dela deveria sempre permanecer na posse de Deus.

Para a maioria dos pensadores da IdadeMédia, a palavra latina que designava o sexo masculino – Vir –, lembrava-lhes “Virtus”, isto é, força, rectidão, virtude. Para Mulier, o termo que designava o sexo feminino lembrava –Mollitia –, relacionada à fraqueza, à flexibilidade e à simulação.

A mulher deveria ser vista como submissa, pois, era temida. Considerava-se que a mulher era o pecado, a carne fraca. O casamento não tinha, como objectivo unir pessoas que se amassem, ou dar prazer a alguma das partes, mas sim o propósito da procriação.

A mulher, quando se casava, simplesmente trocava de homem ao qual tinha de se submeter – de pai para, depois, marido.

A prostituição era considerada um “mal necessário”, pois curava vontades de jovens e clérigos, mas ainda assim as prostitutas eram, tal como ainda hoje, marginalizadas da sociedade.

Em algumas doutrinas diferentes do catolicismo a mulher poderia ter os mesmos direitos que os homens; todavia, embora a religião tenha evoluído bastante a partir da contra-reforma, a mulher continuava a ser discriminada pela Igreja.

Parece que o Papa Francisco continua solitário nesta grande tarefa. Creio, contudo, que a igualdade de género está para breve. Cristo escolheu uma mulher – Maria Madalena – para testemunhar a sua ressurreição e divulgar aos outros apóstolos este feito, em primeira mão.



 1-Frei Bento Domingues O.P., in Público. Domingo, 17 de Janeiro de 2021