domingo, 29 de setembro de 2013

FRANCISCO, UM AMIGO LÁ DE CASA



 Em seis meses de pontificado não aconteceu nada de extraordinário e aconteceu tudo o que é essencial.

Depois de vermos os partidos ditos de orientação cristã a destruírem todos os princípios propagandeados nas suas campanhas arregimentadoras dos mais incrédulos; de ouvirmos ou lermos (quem tiver estômago para tal) uma eminência serôdia do mais abjecto sentido de leigo cristão de outrora ou da sua projecção actual (João César das Neves); de sentirmos o oportunismo regente dos nossos governantes na proclamação de hipotéticos caminhos religioso-cristãos para apoucar o povo português ou silenciá-lo (como outrora a inquisição agia sobre os cristãos novos ou marranos) acenando com a falsa bem-aventurança da pobreza… Ler (mesmo que não se seja cristão ou religioso) um texto como o que Frei Bento Domingues escreveu no Público de hoje, 29 de Setembro, sabe bem e apresenta uma réstia de esperança para a humanidade:

1. A ressurreição do obviamente humano e cristão, nos gestos e nas palavras do Papa Francisco, depois dos artificiosos muros levantados, nas últimas décadas, por condenações e propaganda — ocultando crimes financeiros e comportamentos pedófilos — tornou-se a mais pacífica, profunda e surpreendente revolução do nosso tempo. Este processo exemplar tem uma história. Não esqueçamos que o anúncio do Vaticano II aconteceu de modo totalmente inesperado. João XXIII, sem consultar ninguém, desarrumou séculos de “tridentinismo”. O desenvolvimento do Magistério pontifício, depois do Concílio de Trento (1543-1563), acentuado no séc. XIX e prolongado na primeira metade do séc. XX, atingiu, com Pio XII, o paroxismo. A centralização romana multiplicou intervenções repressivas, alimentadas por delacções e processos tenebrosamente secretos. Por outro lado, depois da declaração da “infalibilidade papal” no Vaticano I (1869-1870), embora muito circunscrita, tudo o que vinha de Roma passou a ter uma auréola sagrada: era indiscutível.

2. A turbulência desencadeada antes, durante e depois do Vaticano II só se compreende tendo em conta esse longo e complexo tempo eclesial de resistência, criatividade e repressão. Ninguém de bom senso poderia supor que tudo se resolveria com a aplicação de documentos conciliares ao conjunto da Igreja situada em universos geográficos, culturais, religiosos, económicos e políticos tão diversos. A reforma desejada, na linha aberta por João XXIII, foi sistematicamente adiada em vários domínios e, mais do que isso, contrariada. Os processos instaurados pela Congregação para a Doutrina da Fé ao pensamento cristão mais inovador pareciam querer restaurar um tempo de má memória. A debandada de padres, religiosos, religiosas e militantes católicos foi uma tristeza. Quando se falava da necessidade de um novo concílio, a resposta disponível era sempre a mesma: ainda não foi posto em prática o Vaticano II, como se vai entrar na aventura de um terceiro? O próprio “Ano da Fé” serviu para abafar os questionamentos que o cinquentenário do concílio poderia levantar. Optou-se por fazer dele um assunto de arquivo, em vez de uma provocação para o século XXI. Bento XVI mostrou-se incapaz de reformar a cúria — a que pertenceu durante muitos anos — e de convocar um novo concílio. Preferiu demitir-se e provocar um conclave electivo, tornando possível outro caminho.

3. Nestes últimos anos, foram muitos os grupos e movimentos, de homens e mulheres, de religiosos, religiosas, de padres, de teólogos, teólogas que manifestaram a urgência de reformas na Igreja, em diversos sectores de vida, organização, ministérios e actividades. A divulgação das notícias, das análises e das propostas, a nível local e geral, alargou e aprofundou a consciência eclesial de muitos cristãos. Parece que essas iniciativas não encontraram muito eco na Cúria romana e nos últimos Papas. Por vezes serviram, até, para levantar, nas paróquias e nas dioceses, a suspeita de que se tratava de pessoas e grupos pouco católicos, de reduzido amor à Igreja, de falta de respeito pelos seus pastores e indignos de se reunirem nos espaços das congregações religiosas e das paróquias. Nenhum desses movimentos teve muito tempo para conferir o que este Papa estava a concretizar ou não, ao nível das reformas desejadas e formuladas. O próprio Papa não teve de esperar pela realização de algumas propostas e medidas que preconizou. Em seis meses de pontificado não aconteceu nada de extraordinário e aconteceu tudo o que é essencial. O Papa Francisco manifestou, por atitudes, gestos e palavras, que deseja ser um homem cristão ao serviço de uma Igreja de todos — todos somos Igreja — que sirva o mundo a partir dos mais pobres e excluídos. Não fez um tratado acerca do que deve ser um Papa, um bispo, um padre, um cristão no mundo de hoje. Começou por ser isso tudo, à vista de toda a gente. Teve, com certeza, de se converter ao longo da vida — ainda se confessa, com verdade, um pecador — para matar as tentações de carreirismo eclesiástico e tornar-se um pároco simples que considera o mundo todo, de crentes e não-crentes, como a sua paróquia. Perdeu a pose episcopal, cardinalícia, papal. As pessoas começaram a considerá-lo da sua família, um amigo lá de casa. Um amigo incómodo que levanta questões aos instalados no dinheiro e no poder. Foi à Sardenha dizer que o mundo tem um falso centro, o ídolo Dinheiro, que instala a cultura do descarte: descartam-se os idosos e os jovens, uns porque não podem trabalhar e outros porque não têm trabalho, condição da dignidade, pois significa levar pão para casa e amar. Deus colocou, no centro do mundo, a mulher e o homem, a família humana. Para denunciar, de modo eficaz, o actual centro idolátrico do mundo, é preciso não ser ingénuo. Bastará a astúcia da serpente e a bondade da pomba?
Continuaremos a conversar com o amigo lá de casa.

Os realces, os negritos e os sublinhados são nossos.


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

DESAPARECIDO…?





Li no “Página Global” uma notícia da Lusa, hoje, Quinta-feira, 26 de Setembro de 2013 que a “PSP NÃO CONSEGUE NOTIFICAR OLIVEIRA E COSTA”.

A PSP, a quem as Varas Criminais de Lisboa pediram há semanas ajuda para notificar o ex-presidente do BPN Oliveira e Costa, informou o tribunal que não o conseguiu fazer na morada indicada, revelou hoje à Lusa fonte judicial:
… “Dia 17 de Setembro, o colectivo de juízes que está a julgar o "caso Homeland/Duarte Lima", foi informado de que o tribunal não havia conseguido notificar, por carta, Oliveira Costa, para depor como testemunha no julgamento que tem Duarte Lima como arguido, pelo que foi solicitado à PSP que o tentasse fazer pessoalmente”.
… “As medidas de coacção extinguiram-se, com excepção do Termo de Identidade e Residência (TIR), e o tribunal viu-se obrigado a devolver-lhe o passaporte e a levantar a interdição de se ausentar para o estrangeiro”.
… “O próprio Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) pediu, por ofício, a confirmação do levantamento daquelas medidas de coacção, porque, entretanto, Oliveira e Costa havia pedido a revalidação do passaporte, que lhe permitiria viajar para o estrangeiro”.
… “Neste momento, e apesar de Oliveira e Costa ser obrigado a comunicar qualquer alteração de morada, o tribunal não sabe, em rigor, se o antigo presidente do BPN está, ou não, em território nacional”.

A primeira pergunta que me ocorre é: Desapareceu ou fizeram-no desaparecer?

A segunda: a quem interessa este desaparecimento?

Depois dos mal explicados (ou inexplicáveis) negócios das acções do BPN do Presidente Cavaco Silva e do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros Rui Machete, preocupa-me que o desaparecimento desta “ilustre figura” não venha comprometer o cabal esclarecimento destes “negócios”, “ilibando” os seus intervenientes. Pairará sempre (ou não) a dúvida de serem privilegiados…

Contudo, para o Ministro Rui Machete, a situação deverá ser um pouco mais complicada, pois a opinião pública não será tão complacente com ele como com a do Professor Cavaco. Porquê?



Porque as mentiras já são tantas e a estas vão acrescendo situações como as relatadas, hoje, no Público: Rui Machete tinha cargos sociais em cinco bancos concorrentes em 2008O Banco de Portugal legitima o princípio do exercício de funções em órgãos “de administração e fiscalização” de bancos desde que a idoneidade e a disponibilidade garantam “uma gestão sã e prudente”

Se calhar o desaparecimento de Oliveira e Costa impede que o seu testemunho reabilite o Ministro… ou não…

Vai ser muito difícil saber-se!


sábado, 21 de setembro de 2013

AS PROFESSIAS DE NATÁLIA




Natália Correia nasceu na Fajã de Baixo, em São Miguel (Açores), a 13 de Setembro de 1923; faleceu em Lisboa, a 16 de Março de 1993).

Até ler o livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta, desconhecia, em absoluto, a capacidade premonitória e profética da minha mui ilustre conterrânea; principalmente depois de sentir o ódio demonstrado por este governo (principalmente do PM, também ele retornado) pela geração que assinou a independência das colónias, instituiu a democracia e conquistou a liberdade – os actuais aposentados.

Eis algumas profecias de Natália Correia:

"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".
"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"
"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".
"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".
"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir".

Convém relembrar, principalmente para os mais novos, que Natália Correia foi uma dos fundadores do PPD – Partido Popular Democrático; mais tarde, PSD – Partido Social Democrático: actualmente PPD/PSD. Mas, Natália defendia ideais social-democratas e lutou sempre contra os oportunistas, os tíbios, os medíocres inconscientes, os vingativos e, principalmente, contra os neoliberais.

Quantas voltas não dará no túmulo ao aperceber-se do triste destino do partido que ajudou a criar…? Os actuais PPD/PSD rejeitaram a herança e a coragem de Natália Correia.


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

TANTO ÓDIO…

APRe! Causa grisalha


A GROSSEIRA INCONSTITUCIONALIDADE DA TRIBUTAÇÃO SOBRE PENSÕES

Se, há 10 meses, 28 Novembro 2012, António Bagão Félix escrevia no Público o texto que a seguir transcrevo, o que se deverá dizer da terrível ameaça que visa os pensionistas da CGA?

É importante que se leia tudo e se analise quem nos governa, ponderando seriamente de onde vem tanto ódio pela geração que assinou a independência das colónias, instituiu a democracia e conquistou a liberdadeos actuais aposentados.

Aprovado o OE 2013, Portugal arrisca-se a entrar no "Guinness Fiscal" por força de um muito provavelmente caso único no planeta: a partir de um certo valor (1350 euros mensais), os pensionistas vão passar a pagar mais impostos do que outro qualquer tipo de rendimento, incluindo o de um salário de igual montante! Um atropelo fiscal inconstitucional, pois que o imposto pessoal é progressivo em função dos rendimentos do agregado familiar [art.º 104.º da CRP], mas não em função da situação activa ou inactiva do sujeito passivo e uma grosseira violação do princípio da igualdade [art.º 13.º da CRP].
Por exemplo: um reformado com uma pensão mensal de 2200 euros pagará mais 1045 (?) de impostos do que se estivesse a trabalhar com igual salário (já agora, em termos comparativos com 2009, este pensionista viu aumentado em 90% o montante dos seus impostos e taxas!).
Tudo isto por causa de uma falaciosamente denominada "contribuição extraordinária de solidariedade" (CES), que começa em 3,5% e pode chegar aos 50%. Um tributo que incidirá exclusivamente sobre as pensões. Da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações. Públicas e privadas. Obrigatórias ou resultantes de poupanças voluntárias. De base contributiva ou não, tratando-se por igual as que resultam de muitos e longos descontos e as que, sem esse esforço contributivo, advêm de bónus ou remunerações indirectas e diferidas.
Nas pensões, o Governo resolveu que tudo o que mexe leva! Indiscriminadamente. Mesmo - como é o caso - que não esteja previsto no memorando da troika.
Esta obsessão pelos reformados assume, nalguns casos, situações grotescas, para não lhes chamar outra coisa.
Por exemplo, há poucos anos, a Segurança Social disponibilizou a oferta dos chamados "certificados de reforma" que dão origem a pensões complementares públicas para quem livremente tenha optado por descontar mais 2% ou 4% do seu salário. Com a CES, o Governo decide fazer incidir mais impostos sobre esta poupança do que sobre outra qualquer opção de aforro que as pessoas pudessem fazer com o mesmo valor...
Ou seja, o Estado incentiva a procura de um regime público de capitalização (sublinho, público) e logo a seguir dá-lhe o golpe mortal. Noutros casos, trata-se - não há outra maneira de o dizer - de um desvio de fundos através de uma lei: refiro-me às prestações que resultam de planos de pensões contributivos em que já estão actuarialmente assegurados os activos que caucionam as responsabilidades com os beneficiários.
Neste caso, o que se está a tributar é um valor que já pertence ao beneficiário, embora este o esteja a receber diferidamente ao longo da sua vida restante. Ora, o que vai acontecer é o desplante legal de parte desses valores serem transferidos (desviados), através da dita CES, para a Caixa Geral de Aposentações ou para o Instituto de Gestão Financeira da S. Social!
O curioso é que, nos planos de pensões com a opção pelo pagamento da totalidade do montante capitalizado em vez de uma renda ou pensão ao longo do tempo, quem resolveu confiar recebendo prudente e mensalmente o valor a que tem direito verá a sua escolha ser penalizada. Um castigo acrescido para quem poupa.
Haverá casos em que a soma de todos os tributos numa cascata sem decoro (IRS com novos escalões, sobretaxa de 3,5%, taxa adicional de solidariedade de 2,5% em IRS, contribuição extraordinária de solidariedade (CES), suspensão de 9/10 de um dos subsídios que começa gradualmente por ser aplicado a partir de 600 euros de pensão mensal!) poderá representar uma taxa marginal de impostos de cerca de 80%!
Um cataclismo tributário que só atinge reformados e não rendimentos de trabalho, de capital ou de outra qualquer natureza! Sendo confiscatório, é também claramente inconstitucional. Aliás, a própria CES não é uma contribuição. É pura e simplesmente um imposto.
Chamar-lhe contribuição é um ardil mentiroso. Uma contribuição ou taxa pressupõe uma contrapartida, tem uma natureza sinalagmática ou comutativa. Por isso, está ferida de uma outra inconstitucionalidade. É que o já citado art.º 104.º da CRP diz que o imposto sobre o rendimento pessoal é único.
Estranhamente, os partidos e as forças sindicais secundarizaram ou omitiram esta situação de flagrante iniquidade. Por um lado, porque acham que lhes fica mal defender reformados ou pensionistas desde que as suas pensões (ainda que contributivas) ultrapassem o limiar da pobreza. Por outro, porque tem a ver com pessoas que já não fazem greves, não agitam os media, não têm lobbies organizados.
Pela mesma lógica, quando se fala em redução da despesa pública há uma concentração da discussão sempre em torno da sustentabilidade do Estado social (como se tudo o resto fosse auto-sustentável...). Porque, afinal, os seus beneficiários são os velhos, os desempregados, os doentes, os pobres, os inválidos, os deficientes... os que não têm voz nem fazem grandiosas manifestações. E porque aqui não há embaraços ou condicionantes como há com parcerias público-privadas, escritórios de advogados, banqueiros, grupos de pressão, estivadores. É fácil ser corajoso com quem não se pode defender.
Foi lamentável que os deputados da maioria (na qual votei) tenham deixado passar normas fiscais deste jaez mais próprias de um socialismo fiscal absoluto e produto de obsessão fundamentalista, insensibilidade, descontextualização social e estrita visão de curto prazo do ministro das Finanças.
E pena é que também o ministro da Segurança Social não tenha dito uma palavra sobre tudo isto, permitindo a consagração de uma medida que prejudica seriamente uma visão estratégica para o futuro da Segurança Social. Quem vai a partir de agora acreditar na bondade de regimes complementares ou da introdução do "plafonamento", depois de ter sido ferida de morte a confiança como sua base indissociável?
Confiança que agora é violada grosseiramente por ditames fiscais aos ziguezagues sem consistência, alterando pelo abuso do poder as regras de jogo e defraudando irreversivelmente expectativas legitimamente construídas com esforço e renúncia ao consumo.
Depois da abortada tentativa de destruir o contributivismo com o aumento da TSU em 7%, eis nova tentativa de o fazer por via desta nova avalanche fiscal. E logo agora, num tempo em que o Governo diz querer "refundar" o Estado Social, certamente pensando (?) numa cultura previdencial de partilha de riscos que complemente a protecção pública. Não há rumo, tudo é medido pela única bitola de mais e mais impostos de um Estado insaciável.
Há ainda outro efeito colateral que não pode ser ignorado, antes deve ser prevenido: é que foram oferecidos poderosos argumentos para "legitimar" a evasão contributiva no financiamento das pensões. "Afinal, contribuir para quê?", dirão os mais afoitos e atentos. Este é mais um resultado de uma política de receitas "custe o que custar" e não de uma política fiscal com pés e cabeça.
Um abuso de poder sobre pessoas quase tratadas como párias e que, na sua larga maioria, já não têm qualquer possibilidade de reverter a situação. Uma vergonha imprópria de um Estado de Direito. Um grosseiro conjunto de inconstitucionalidades que pode e deve ser endereçado ao Tribunal Constitucional.
PS1: Com a antecipação em "cima da hora" da passagem da idade de aposentação dos 64 para os 65 anos na função pública já em 2013 (até agora prevista para 2014), o Governo evidencia uma enorme falta de respeito pela vida das pessoas. Basta imaginar alguém que completa 64 anos em Janeiro do próximo ano e que preparou a sua vida pessoal e familiar para se aposentar nessa altura. No dia 31 de Dezembro, o Estado, através do OE, vai dizer-lhe que, afinal, não pode aposentar-se.
Ou melhor, em alguns casos até poderá fazê-lo, só que com penalização, que é, de facto, o que cinicamente se pretende com a alteração da lei. Uma esperteza que fica mal a um Governo que se quer dar ao respeito.”


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

HÁ QUEM NÃO BRINQUE EM SERVIÇO…!



Este texto não será, quase de certeza, publicado nos nossos órgãos de informação. Sabendo que estes nossos governantes são cegos, surdos e mudos quando confrontados com os reais problemas, alerto para as consequências que poderão advir desta tomada de posição.





Caros Senhores,

Estou a escrever para vos chamar a atenção para a nova legislação Portuguesa de trabalho portuário. Para nosso desapontamento, a nova legislação retalha históricos postos de trabalho dos estivadores, aniquila o efectivo direito dos estivadores a carteira profissional e a anterior obrigação da sua posse, dissemina a precariedade e pressiona para salários de miséria.

Em resumo, tenta demolir a segurança do emprego e as condições de trabalho dos estivadores em largo detrimento das condições de segurança e da qualidade do trabalho, benefícios sociais e organização sindical, com o único objectivo de servir os poderosos interesses do capital, sob a pressão da Troika, por forma a destruir a qualidade de vida dos Estivadores Portugueses.

Posteriormente, os empregadores Portugueses de movimentação de cargas portuárias começaram a aproveitar-se desta reforma portuária legislativa viciada e iniciaram a violação continuada da legislação e do contrato colectivo de trabalho e acordos conexos. As empresas começaram a despedir dezenas de estivadores experientes e indispensáveis e tentaram substituí-los por trabalhadores ilegais subcontratados ao mesmo tempo que criavam um ambiente de quase escravidão nos portos com um número enorme de horas de trabalho impostas e o cancelamento dos períodos de férias garantidos enquanto livremente fecham pools e abrem outras empresas alternativas.

Numa reunião realizada em Liverpool no dia 30 de Julho, todos os membros do IDC-E alcançaram a unânime conclusão de que não tolerariam mais estes ataques ferozes aos seus irmãos e irmãs Portugueses. Todos os membros do IDC-E decidiram então fazer um último apelo ao governo Português e aos empresários de movimentação de cargas portuárias por forma a abrir um fórum de real discussão efectiva e global com o objectivo de parar e inverter este inaceitável assalto social e profissional aos direitos dos estivadores Portugueses.

Esperamos realmente que tenham a capacidade de tomar as medidas necessárias, por toda a preocupação e raiva que atinge os estivadores do IDC, esperando que tudo seja feito para alcançar um acordo comum.

Queremos informar-vos que, se tal não for o caso, todos os membros do IDC-E irão realizar uma Assembleia da Zona Europeia nos dias 18 e 19 de Setembro em Chipre, e vão decidir sobre acções industriais específicas em que se possam comprometer. Estas acções irão seguramente ter impacto sobre os lucros dos empresários portuários, em particular, e sobre a frágil e sensível economia Portuguesa, em geral, a menos que o governo desempenhe o seu papel ao reforçar os direitos dos Estivadores Portugueses e termine com estes ataques inaceitáveis contra as regras de trabalho portuário e a essencial dignidade da profissão dos estivadores.

Enviaremos também informação completa sobre este assunto a todos os estivadores em cada porto à volta do mundo que mantenha relações comerciais com Portugal. Durante mais de um ano tentámos informar-vos constantemente sobre estes problemas e hoje consideramos que a nossa paciência atingiu os seus limites.

Sinceramente

O coordenador IDC-E,
A. TETARD





quinta-feira, 12 de setembro de 2013

UM DESAFIO AO PAPA FRANCISCO: ASSUMIR PLENAMENTE A HUMANIDADE




Dos nossos políticos já nada espero e dos religiosos, como César das Neves, muito menos; os primeiros dão-me vómitos, o segundo faz-me vomitar.

Cansado de aturar estes filhos… (de um deus menor, para não cair na vulgaridade de ofender as suas mães) que nos governam, viro-me para a espectativa utópica de uma outra revolução “prometida” pelo papa Francisco.

Como comentário a uma entrevista que Leonardo Boff concedeu ao jornal “La Libre Belgique”, a 9 de agosto de 2013, um leitor – Marc Den Doncker – escreveu estas palavras que considero dignas de serem reflectidas:

O bom Papa Francisco anuncia francamente uma revolução na linha de uma humanidade mais plenamente humana. Ele diz: ‘se alguém é um homossexual que procura Deus e é de boa vontade, quem sou eu para julgá-lo’? Pode bem ser que em algum tempo, o Papa expressará amor por uma pessoa homossexual que não procura necessariamente Deus mas que é malgrado tudo, alguém de boa vontade. Aí estaria a influência do Espírito Santo”.

E continua:

Pode bem ser que, alguma vez, o bom Papa Francisco reflicta bem no fundo de seu coração sobre uma pobre mulher que se perfura com uma agulha de tricotar para se livrar de um feto, fruto de uma violação, porque já não aguenta mais e se encontra desesperada. Pode bem ser que o bom Deus, alguma vez, na sua infinita bondade, faça o bom Papa Francisco entender a situação desesperada desta mulher que tomada de profunda perturbação deseja morrer. Pode bem ser que o bom Deus, na sua infinita bondade, compreenda que um casal que decidiu não ter mais filhos utilize tranquilamente a pílula. Pode bem ser que o bom Deus, na sua infinita bondade, suscite a consciência de que a mulher goza da mesma igualdade e dignidade que o homem”.

Dilacero-me interiormente” – prossegue Marc Den Doncker – “porque a vida nos dá, dia após dia, uma abundância espantosa de factos trágicos. Face a esta situação real, estaria a Igreja pronta para deslizar por um caminho escorregadio, mas na direcção de uma humanidade plenamente assumida, animada pelo Espírito Santo que não tem nada a ver com princípios e casuísmos que acabam por matar o amor ao próximo? É preciso esperar”.

De facto, não são poucas autoridades eclesiásticas – Papas, cardeais, bispos e padres –, salvo raríssimas e honrosas excepções, que perderam o bom senso das coisas, esqueceram a imagem do seu próprio Deus, de Jesus Cristo. Esse Deus cuja característica principal é o amor incondicional e a misericórdia sem limites.

O Papa Francisco na sua conversa com os bispos no Rio pediu uma “revolução da ternura” e a capacidade ilimitada de compreensão e de misericórdia.

Seguramente, muitos bispos e padres devem estar em crise e são instados a enfrentar este desafio da “revolução da ternura”. Devem mudar radicalmente o estilo de relação para com o povo: nada burocrático e frio, mas caloroso, simples.

Este era o estilo do bom Papa João XXIII. Há um facto curioso que revela como entendia as doutrinas e a importância do encontro cordial com as pessoas. O que conta mais: o amor ou a lei? Os dogmas ou o encontro cordial?

Giuseppe Alberigo, teólogo leigo de Bolonha, foi um dos maiores historiadores do Concílio Vaticano II (1962-1965). O seu grande mérito foi ter publicado uma edição crítica de todos os textos doutrinários oficiais dos Papas e dos Concílios desde os primórdios do Cristianismo: o “Conciliorum Oecumenicorum Decreta”. Ele próprio conta no “Il Corriere di Bologna” que em 16 de Junho de 1967 viajou, orgulhoso, a Roma para fazer a entrega solene ao Papa João XXIII do volumoso livro. João XXIII gentilmente tomou o livro nas suas mãos, sentou-se na sua cadeira pontifícia e tranquilamente colocou o volume no chão, pondo ambos os pés em cima do famoso volume.

É um acto simbólico. Tudo bem que haja doutrinas e dogmas. Existem para sustentar a fé não para inibi-la ou servir de instrumento de enquadramento de todos e de condenação.

Pode bem ser que o Papa Francisco se anime a fazer algo parecido, especialmente com referência ao Direito Canónico e a outros textos oficiais do Magistério que pouco ajudam os fiéis. Em primeiro lugar vem o amor, o encontro espiritual e a criação de esperança para uma humanidade atordoada por tantas decepções e crises. Depois as doutrinas. Oxalá o bom Deus, na sua infinita bondade, conduza o Papa Francisco nesta direcção corajosa e simples.
Se assim for, marcará a diferença de entre os grandes líderes mundiais sem escrúpulos e de entre os seus seguidores acéfalos (como os nossos) ainda com menos escrúpulos – Marionetas.


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

ESCUTAS – ESPIONAGEM




A Presseurop alerta para o artigo do Gardian – Exclusividade: como os EUA e o Reino Unido desbloquearam a vida privada na Internet – em que se chama a atenção para o facto dos serviços secretos americanos e britânicos terem instalado “backdoors” num software encriptado comercial que lhes permitiu aceder aos dados confidenciais de milhões de pessoas, segundo as novas revelações do antigo agente da NSA Edward Snowden.

Estas informações sugerem que algumas empresas de tecnologia cooperaram com os serviços secretos, que têm uma “bateria de métodos” para contornar códigos encriptados, segundo um artigo do Guardian, que também foi publicado no New York Times. O diário explica que esses métodos incluem medidas secretas para garantir que a NSA controla as normas internacionais de encriptação, a utilização de supercomputadores para quebrar a encriptação “de forma brutal” e – o segredo mais bem guardado de todos – a colaboração com empresas de tecnologia e os próprios fornecedores de serviços de Internet.



 Este diagrama de rede, a partir de um programa-piloto GCHQ, mostra como a agência (NSA) propôs um sistema para identificar o tráfego criptografado a partir de seus programas de internet por cabo e decifrar o que pudesse, em tempo quase real.





quarta-feira, 4 de setembro de 2013

OS PRIMEIROS A ABANDONAR O BARCO





Os investidores alemães e britânicos venderam respectivamente 1,8 mil milhões de euros e 450 milhões de euros de títulos do Tesouro português entre maio e Junho, provocando uma enorme subida nas taxas de juro das obrigações portuguesas.

As taxas de juro portuguesas passaram de 5,3% em meados de maio para 7% em Junho, escreve o Diário de Notícias, uma situação que se agravou ainda mais com a fraca economia do país e o aprofundar da crise política, em Julho, altura em que o ministro das Finanças, Vítor Gaspar e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, se demitiram.


Tão bem que estes nossos países aliados nos tratam…! Até dá gosto ver a boa vontade destes agiotas, digo, “animadores de mercado”, para connosco.

Os ratos que nos governam: devoram-nos. Os de fora, abandonam o barco… Isto é o mercado…!


segunda-feira, 2 de setembro de 2013

MADURO



Adj.Diz-se dos frutos em estado de serem colhidos ou comidos; do vinho que não é verde; da idade em que já se não deve estar sujeito a imprudências ou a veleidades; circunspecto, prudente; daquilo que está em estado de ser resolvido”.

N. m. [Popular] “Caloiro; ingénuo, pateta”.

Se considerarmos o ministro Maduro (numa apreciação popular) como um nome (substantivo) masculino temos o verdadeiro retrato do Sr. Ministro, pelo menos nas lides governamentais: é um caloiro ingénuo e pateta (como reza o dicionário).

Dúvidas…? – Vejam-se as tristes figuras passadas com os “finados” briefings, o “discurso” na Universidade de Verão dos jotas…

Se, ao invés, analisarmos como adjectivo (um Ministro maduro), poderíamos qualificar o senhor ministro como estando na “idade em que já se não deve estar sujeito a imprudências ou a veleidades” (consulte-se o dicionário).

Todavia, poderemos considerar ainda as comparações homónimas deste com o presidente da Venezuela – ambos são Maduro.

O Maduro venezuelano “” e “fala” com Hugo Chavez (presidente já falecido);

O Maduro português, através do seu primeiro-ministro, vê e fala (?) com alguém que, dado o conteúdo dos seus relatos inspirados, presumimos seja um [ainda não] esquecido presidente do conselho de ministros, também já falecido.

Até este último caiu (se calhar, de maduro) da cadeira (a do poder e a real, física, palpável, sensível…)!

Percebe-se agora a questão da dúvida existencial do Sr. PM-PPC: “Já alguém perguntou aos 900 mil desempregados de que lhe valeu a Constituição até hoje?

Quem lhe terá sussurrado ao ouvido “esta ‘tirada’ de inspiração”…?

Terá sido uma voz do além…?

Ele há coisas…!


domingo, 1 de setembro de 2013

DESPUDOR



Passos Coelho lança forte ataque ao Tribunal Constitucional


Passos Coelho defendeu hoje, no encerramento da Universidade do PSD, que “não é preciso alterar a Constituição” para fazer a reforma do Estado; o que é preciso é “bom senso”. O conceito de “bom senso” do PM-PPC identifica-se mais com o termo “desonestidade” do que com o sentido de “juízo equilibrado”, “boa ponderação”… Talvez isto se deva à força do hábito – manipulação da verdade.

PPC acusa, ainda, os juízes do Tribunal Constitucional de “travarem medidas estruturais” e de levarem o “princípio da confiançamuito à letra (é natural numa pessoa que desconhece o princípio de “honrar a confiança”).

O PM afirmou, também, que o entrave à reforma do Estado não é a Constituição, mas sim a interpretação que os juízes estão a fazer dela e que terá agora “mais dificuldade de defender” estas reformas perante a troika.

Dr. Coelho, não precisa fazer nada. Nós agradecemos que esteja quieto, pois sabemos o que nos custa quando actua.

Mas o PM deve defender os interesses de Portugal e dos seus cidadãos (procurando alternativas menos gravosas para os interesses nacionais), ou deve preocupar-se em arranjar justificações que impeçam o mau juízo que a troika poderá fazer dele…?

– Será que ainda não percebeu que a Troika não irá pensar pior dele…?

Não terá percebido que o pensamento formado, ou a opinião que dele têm, é a mesma desde o início…?

É de pessoas como ele que, organizações como a troika, necessitam. O conceito em que os têm não será alterado – a troika necessita de marionetas.

De qualquer maneira – o que é evidente – atitudes destas por parte de um órgão de soberania deveriam ser tomadas em consideração pelo Presidente da República, a quem compete zelar pelo correcto funcionamento das instituições… Fa-lo-á?


Também eu, tal como Martin Luther King, tenho um sonho (utópico, mas um sonho): Ouvir da boca do Presidente, relativamente a Passos Coelho, “obviamente demito-o”! Motivos para isso PC já os deu em demasia…