sábado, 2 de novembro de 2019

A VANTAGEM DA IMPERFEIÇÃO


UM Hino à Liberdade é, para além do que escreve Leonardo Boff no texto seguinte, a vida do meu irmão mais velho, que hoje – 2 de Novembro – completa 75 anos.
Sempre foste livre; por vezes, incompreendido; mas eras e és autêntico.

Parabéns, Domingos!




«A VANTAGEM DA IMPERFEIÇÃO
Em tempos em risco de nossa liberdade, é importante pensarmos em sua importância. Nascemos completos mas imperfeitos. Não possuímos nenhum órgão especializado, como a maioria dos animais. Para sobreviver, temos que trabalhar e intervir na natureza. Os mitos esclarecem esta situação.
Os indígenas guaicuru, do Mato Grosso do Sul, perguntaram-se o porquê da imperfeição e do alto significado da liberdade. Demoraram longo tempo para chegar a uma resposta. A explicação veio pelo seguinte mito, portador de verdade.
O Grande Espírito criou todos os seres. Colocou grande cuidado na criação dos humanos. Cada grupo recebeu uma habilidade especial para sobreviver sem maiores dificuldades. A alguns deu a arte de cultivar a mandioca e o algodão. Assim podiam se alimentar e se vestir. A outros deu a habilidade de fazer canoas leves e o timbó. Desta forma podiam se locomover rapidamente e pescar.
Assim fez com todo os grupos humanos na medida em que se distribuíam pelo mundo. Mas com os Guaicuru não aconteceu assim. Quando quiseram sair para as vastas terras, o Grande Espírito não lhe conferiu nenhuma habilidade. Esperaram, suplicando, por muito tempo e nada lhes foi comunicado. Mesmo assim resolveram partir. Sentiram logo muita dificuldade em sobreviver. Resolveram procurar intermediários do Grande Espírito para receber também uma habilidade.
Primeiro, dirigiram-se ao vento, sempre soprando e rápido: “Tio vento, tu que sopras pelas campinas, sacodes as matas e passas por cima das montanhas, venha-nos socorrer”. Mas o vento que sacudiu as folhas, sequer ouviu o pedido dos guaicuru. Em seguida, se voltaram para o relâmpago que estremece toda a terra. “Tio relâmpago, você que é parecido com o Grande Espírito, ajude-nos”. Mas o relâmpago passou tão rápido que sequer escutou o pedido deles.
Assim os guaicuru suplicaram às árvores mais altas, aos cumes das montanhas, às águas correntes dos rios, sempre suplicando: “Meus irmãos, intercedam por nós junto ao Grande Espírito para não morrermos de fome,” Mas nada acontecia.
Meio desesperados vagavam por várias paragens. Até que pararam debaixo do ninho de um gavião-real.
Este ouvindo seus lamentos resolveu intervir e disse: “Vocês, guaicuru, estão todos errados e são uns grandes bobos”. “Como assim? responderam juntos. “O Grande Espírito se esqueceu de nós. Você que é feliz, recebeu o dom de um olhar penetrante e perceber um ratinho no boca da toca e caçá-lo”.
“Vocês não entenderam nada da lição do Grande Espírito”, retrucou o gavião-real. “A habilidade que ele lhes deu está acima de todas as outras. Ele vos deu a liberdade. Com ela vocês podem fazer o que desejarem fazer.”
Os guaicuru ficaram perplexos e cheios de curiosidade. Pediram ao gavião-real que lhes explicasse melhor esta curiosa habilidade. Ele, cheio de garbo, lhes falou: “Vocês podem caçar, pescar, construir ‘malocas’, fazer belas flechas, pintar os corpos, os potes, viajar para outros lugares e até decidirem o que vocês querem de bom para vocês e para a própria natureza”.
Os guaicuru se encheram de alegria e diziam uns aos outros: “que bobos nós fomos, pois nunca discutimos juntos a vantagem de sermos imperfeitos. O Grande Espírito nunca se esqueceu de nós. Deu-nos a melhor habilidade, de não estarmos presos a nada, mas de podermos inventar coisas novas, sabendo das vantagens de nossa imperfeição.
O cacique guaicuru perguntou ao gavião-real: “Posso experimentar a liberdade?” “Pode”. O cacique tomou uma flecha e derrubou do alto de uma jaqueira uma grande fruta de jaca. E todos se deliciaram.
Desde aquele momento, os guaicuru, exerceram a liberdade. Tornaram-se grandes cavaleiros e nunca puderam ser submetidos por nenhum outro povo. A liberdade lhes inspiravam novas formas de se defender e garantir a melhor habilidade dada pelo Grande Espírito.
Os mitos nos inspiram grandes lições, especialmente nos dias actuais quando forças poderosas, nacionais e internacionais, nos querem submeter, limitar e até tirar nossa liberdade. Devemos ser como os guaicuru: saber defender o maior dom que temos, a liberdade. Devemos resistir, nos indignar e nos rebelar. Só assim fazemos o nosso próprio caminho como nação soberana e altiva. E jamais aceitaremos que nos imponham o medo nem que nos roubem a liberdade.»


quinta-feira, 27 de junho de 2019

DAS MINHAS CONVERSAS POR E-MAIL (10)







Meu caro[…]

[…]

Hoje, fiquei, deveras, furioso com o pasquim que lemos habitualmente. Já não falo do escriba-chefe – Manuel Carvalho. Com este já não gasto os olhos, não perco tempo nem procuro compreender ou avaliar as suas fontes; sei que é ódio, vingança, justificações do “porque sim” e “ad hominum”.
Tento, tanto quanto possível, ignorar e evitar ler os escribas arregimentados pelo M. Carvalho. Aventuro-me, uma ou outra vez, a ler atravessado eventuais títulos dos apaniguados do Carvalho; e, na maioria das vezes, sem concluir.
Se te deres ao cuidado de cruzar informação relativamente à parangona do artigo da Leonete Botelho (até o nome respira falsidade), na página 9 do jornal Público de hoje, quarta-feira, sob o título “O terceiro país do mundo onde menos se acredita no Governo”, com aquela caixaO seu Governo age em função do interesse público? A sua voz conta em política? Questões colocadas pela Fundação Aliança de Democracias (Rasmussen Global) e pela Dalia Research em 50 países”…
Está descansado, não te maçarei muito, embora queira relembrar quem é a Fundação Aliança de Democracias (Rasmussen Global): A Aliança Social Democrática é um partido político da Islândia. O partido foi fundado em 1999, através da fusão de quatro partidos de centro-esquerda e esquerda, com o objectivo de criar um grande partido de centro-esquerda. (Fonte)
Ideologicamente, a Aliança segue uma linha social-democrata, defendendo a intervenção do Estado na economia e a nacionalização da gestão dos recursos naturais, além de, defender a integração da Islândia na União Europeia. Hoje, estes partidos dividem-se (dois a dois) entre Direita e Esquerda em alternância.
A Dalia Research é uma gestora de dados que comercializa justificações objectivas, como ela própria se define:
Every month, we ask millions of people across the world questions.
We do this to generate insights that help companies to improve their products, politicians to make better decisions, and academics to better understand human behavior.” Todos os meses, fazemos perguntas a milhões de pessoas em todo o mundo. Fazemos isso para gerar “insights” que ajudem as empresas a melhorar os seus produtos políticos a tomar decisões melhores e académicos, a entender melhor o comportamento humano. (Fonte).
Eles não definem estratégias – sugerem-nas.
Quere isto dizer que se limitam a gerir uma base de dados de perguntas cujas respostas poderão vir a ser utilizadas aleatoriamente pelos clientes.
Depois do que temos visto por cá em termos de sondagens, a confiança no Governo (que não no partido) anda por valores bastante mais invejados do que se pensa e que a Leonete Botelho apregoa.

[…]