quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

David Justino, Ex-consultor para os Assuntos Sociais do actual Presidente da República



Dizer que na Educação não se deve mudar à pressa é uma banalidade com que todos concordamos, o problema em que durante os últimos quatro anos muita coisa mudou à pressa e sem qualquer reflexão, sem que David Justino tivesse reparado ou sentido a necessidade de criticar.

Quem esteve tanto tempo calado tem agora pouca autoridade moral para falar; quem se calou com as muitas medidas do pior ministro da Educação que passou pelo país deveria agora respeitar um período de nojo antes de se socorrer do estatuto suprapartidário de presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE) para tomar posições críticas em relação a um governo que, todos sabemos, não ser da sua preferência.

Compreende-se que o PSD e em particular os cavaquistas estejam desejosos de criticar este governo, mas face à realidade que o país tem vindo a conhecer, e que esteve encoberta até às eleições, deveria haver algum cuidado antes de tentar desviar as atenções para questões de lana-caprina, até porque os exames e matéria em que não há inovação, todos os pedagogos conhecem muito bem o seu papel e quando devem ser realizados.

Não é difícil de perceber que o verdadeiro líder da oposição não é Passos Coelho mas sim Cavaco Silva. [Fonte]

«O ex-ministro da Educação e presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), David Justino, critica a “febre” que existe de se estar sempre a revogar e a mudar tudo na educação e, em entrevista ao Diário de Notícias, sugere que as mudanças resultem de avaliações rigorosas.
Questionado sobre o projecto de resolução, apresentado pelo grupo parlamentar do PCP, que recomenda ao governo a suspensão imediata das metas curriculares no primeiro ciclo do ensino básico, David Justino respondeu que “a suspensão não resolve nada”.
O ex-governante admite que “as metas são um instrumento que deve ser alterado” pois “ninguém consegue fazer coisas logo na perfeição”. Mas, para tal, “tem de ser feita uma avaliação exaustiva e ver o que tem de ser melhorado. Estarmos só a suspender, já, não me parecer fazer sentido”, defendeu David Justino, acrescentando que “o processo deverá passar por uma comissão especializada que, junto das escolas, vá ver como essas metas estão a ser apropriadas, como estão a ser aplicadas e em que contextos”.» [Observador]



domingo, 6 de dezembro de 2015

SERVIR OU SERVIR-SE





Um indivíduo que, durante mais de quatro anos, enganou, mentiu, fez falsas promessas, manipulou informação, traiu a confiança dos portugueses e desrespeitou as funções para as quais tinha sido nomeado pode servir o povo no Parlamento...?

Claro que não! Seria impensável que tal acontecesse. Era farta vilanagem! Quem assim procedesse era, no mínimo, estúpido. Então não está mais que visto que, quem assim age não serve o povo e/ou os seus eleitores. Quem assim age não serve… serve-se do povo.



segunda-feira, 23 de novembro de 2015

FRAUDE ELEITORAL






«(…) Desde o dia 4 de Outubro que não param de sair notícias que desmentem a narrativa com que PSD e CDS se apresentaram a eleições. O Novo Banco, afinal, tem um buraco de 1,4 mil milhões de euros e tem de ser recapitalizado. A TAP, que ia ser privatizada, revelou-se uma espécie de PPP. O PIB, que estava a acelerar, estagnou. O emprego, que estava em franca recuperação, caiu. E a sobretaxa, que ia ser devolvida, já não vai ser. Fraude eleitoral é isto.

Durante vários meses, PSD e CDS tentaram passar a ideia de que a recuperação económica era tão evidente que o “contrato de confiança” que esses partidos haviam celebrado com os portugueses iria resultar numa devolução significativa da sobretaxa cobrada em 2015. Os dados conhecidos apontavam para uma devolução em torno dos 36%, mas houve quem sugerisse que a percentagem podia ser ainda mais elevada, sendo mesmo possível uma devolução total. A coligação PaF chegou a fazer cartazes a anunciar a bonança. Quem pusesse em causa o optimismo do Governo era acusado de estar em negação e de não se conformar com o sucesso das políticas seguidas.

(…)

Sendo hoje evidente que não haverá qualquer devolução da sobretaxa paga em 2015, PSD e CDS devem explicações aos portugueses. Depois de ouvir Passos Coelho na passada sexta-feira, parece que essas explicações vão respeitar a tradição dos últimos quatro anos: Passos não enganou ninguém, quanto muito foi enganado. Quem anda preocupado com alegadas fraudes eleitorais tem aqui muito com que se entreter.»


terça-feira, 27 de outubro de 2015

IMPRENSA INTERNACIONAL ARRASA DISCURSO DE CAVACO


RTP 27 Out, 2015, 10:22 | Eleições Legislativas 2015

|Rafael Marchante - Reuters

Portugal votou, Cavaco falou e o mundo reagiu. Depois da imprensa e dos comentadores nacionais, também lá fora se multiplicam as reacções ao discurso do Presidente. Das mais diversas proveniências, da esquerda à direita, o Presidente da República é trucidado por boa parte da imprensa internacional.

THE TELEGRAPH

À cabeça das publicações mais críticas encontra-se o conceituado diário britânico The Telegraph, primeiro com um artigo da autoria de Ambrose Evans-Pritchard, que começa por conceder: "O presidente Cavaco Silva pode ter razão ao calcular que um Governo socialista em aliança com os comunistas precipitaria um confronto de primeira grandeza com os mandarins da austeridade da UE".

O "monstro" que Bruxelas criou
Aquilo que classifica como "o grande plano de reflação keynesiana do sr. Costa", acrescenta Evans-Pritchard, seria "inteiramente incompatível" com os mandamentos austeritários vindos de Bruxelas.
Acontece que, ainda segundo Evans-Pritchard, "o demencial tratado orçamental obriga Portugal a cortar a dívida até 60 por cento do PIB nos próximos 20 anos numa permanente armadilha de austeridade, e a fazê-lo exactamente da mesma forma como toda a Europa do sul está a tentar fazê-lo, e tudo sobre um pano de fundo de poderosas forças deflacionárias à escala mundial".
E comenta: "A estratégia de combater o massivo fardo da dívida do país através de um permanente apertar do cinto é em larga medida auto-destrutiva, visto que o efeito de um PIB nominalmente estagnado agrava a dinâmica da crise".
O articulista considera que "Portugal vai precisar de uma reestruturação da dívida quando vier o próximo abanão global". E lembra que "não há qualquer hipótese de a Alemanha concordar com uma união fiscal europeia em tempo útil para impedir que isto aconteça".
À vista desta análise, não surpreende a conclusão política: "O sr. Cavaco Silva está realmente a usar o cargo para impor uma agenda política reaccionária, no interesse dos credores e do establishment da zona euro e travestindo tudo isto com assinalával Chutzpah [nota do tradutor: descaramento] como defesa da democracia".
A concluir, Evans-Pritchard nota que "os conservadores portugueses e os seus media comportam-se como se a esquerda não tivesse direito legítimo a assumir o poder, e devesse ser mantida ao largo por todos os meios. Estes reflexos são conhecidos – e arrepiantes – para qualquer pessoa familiarizada com a História ibérica do século XX, ou da América Latina". E mais adiante: "Bruxelas criou realmente um monstro".

Cavaco inventou "um papão"
Também no mesmo The Telegraph, um outro artigo de Mehreen Khan nota que o discurso de Cavaco excluiu do poder a aliança de esquerda e, portanto, "não admira que esta posição tenha reforçado a esquerda radical no país".
A autora lembra que, "até à eleição deste mês, Portugal era considerado excepcional na Europa mediterrânica pela evidente inexistência de um movimento populista anti-austeridade nos moldes de Podemos em Espanha, ou com a popularidade do Syriza na Grécia".
"O seu obediente Governo era considerado 'mais troika do que a troika' pela sua zelosa aplicação dos cortes draconianos na despesa e pelos aumentos de impostos num afã de agradar aos credores". "Ironicamente, muitos observadores notam que a aliança de esquerda do sr. Costa não é de modo nenhum o papão que foi pintado pelo presidente Cavaco Silva"
Agora, que a crise está declarada, sucede que, "ao contrário dos governos tecnocráticos na Itália e na Grécia, Bruxelas não tem as suas impressões digitais sobre a arma em Portugal". Isto porque, explica, a actual crise "é inteiramente fabricada pelas elites políticas [portuguesas]".
Entretanto, trata-se de uma crise que "tem profundas consequências para a democracia no resto da zona euro", como parece denunciar a nervosa reacção do presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy, ao comentar que "não gosta" do que vê em Portugal".
A concluir, afirma Mehreen Khan que, "ironicamente, muitos observadores notam que a aliança de esquerda do sr. Costa não é de modo nenhum o papão que foi pintado pelo presidente Cavaco Silva. Mas a intransigência dele bem poderá desencadear precisamente o tipo de forças anti-UE que supostamente lhe tiram o sono".

LA TRIBUNE

"Jogo perigoso"
Na versão francófona do diário multinacional La Tribune, Romaric Godin, comenta que "o cálculo do presidente da República pode parecer de vistas curtas", mas, na verdade, "visa ganhar tempo para permitir uma dissolução do parlamento logo que seja possível, ou seja, seis meses depois da eleição presidencial prevista para Janeiro".
Esta atitude mostra que "a direita portuguesa tenta contornar a votação de 4 de Outubro instrumentalizando o euro e a UE. Ao fazer da moção de rejeição um voto por ou contra o euro, o inquilino do Palácio de Belém tenta dar à direita a maioria que as urnas não lhe deram". E este jogo, "a médio prazo, parece muito perigoso".

TAGESSPIEGEL

O presidente menos querido de sempre
No diário conservador alemão Tagesspiegel, Elisa Simantke considera que "uma coisa é certa: seja como for que a luta pelo poder agora desencadeada em Portugal venha a resolver-se, o presidente Aníbal Cavaco Silva só pode perder. Já hoje o septuagenário de 76 anos é o presidente da República menos estimado que Portugal alguma vez teve". E contrasta esta cordial detestação do presidente com as taxas de popularidade que, considera, tinha nos anos 80 e 90 o Cavaco primeiro-ministro.
Entre os motivos para a antipatia por Cavaco Silva, cita a autora o modo "como ele fundamentou a sua decisão [de reconduzir Passos Coelho]. Disse ele que um Governo em aliança com forças anti-troika põe em perigo a 'segurança nacional', quando é de importância vital a colaboração com os investidores".

HUFFINGTON POST

Um ataque à democracia
Na imprensa norte-americana, destaca-se o artigo de Daniel Marans, no Huffington Post, ao fazer notar como "o dilema colocado na ordem do dia em Portugal mostra como as imposições económicas da zona euro minam o empenhamento na democracia".
E cita o historiador António Costa Pinto, apoiante declarado da coligação encabeçada por Passos Coelho, que no entanto declarou àquele jornal norte-americano o seu repúdio pela tentativa de Cavaco Silva para ostracizar os partidos de esquerda.
Segundo Costa Pinto, "o presidente não pode excluir da democracia portuguesa dois partidos – o Bloco de Esquerda e dos comunistas – que representam um milhão de eleitores e 20 por cento do eleitorado português".

MARIANNE

"Golpe de Estado silencioso"
Um golpe de Estado. Silencioso, mas um golpe de Estado. É a expressão usada pelo economista Jacques Sapir num artigo de opinião publicado no site da revista francesa Marianne. Sapir censura a decisão de Cavaco Silva mas concentra críticas na “antidemocrática” União Europeia.
O economista começa por defender que é falsa a ideia de que a coligação Portugal à Frente venceu as eleições, uma vez que “uma maioria dos eleitores portugueses votou contra as medidas de austeridade”. “Qualquer outra decisão assemelha-se a um acto inconstitucional, um ‘golpe de Estado’ ”.
O economista aponta que o Presidente da República “não tem o poder de interpretar as intenções futuras para se opor à vontade dos eleitores” e que, a ser apresentado um acordo para um executivo de esquerda, Cavaco “deve dar-lhe uma oportunidade”. “Qualquer outra decisão assemelha-se a um acto inconstitucional, um ‘golpe de Estado’”, aponta Sapir.
O ensaísta justifica a decisão de Cavaco Silva em rejeitar uma coligação de esquerda pelo receio de entrar em “confronto” com a União Europeia e o Eurogrupo. Jacques Sapir compara mesmo a actual situação ao impasse grego que marcou o último ano e culminou com a assinatura do terceiro resgate.
O economista rejeita que Portugal seja a prova de que a austeridade resulta, apontando para o crescimento “muito precário” da economia e para os números do défice, da dívida pública e da taxa de desemprego. A culpa, defende Sapir, é da pouca produtividade do trabalho, cimentada numa mão-de-obra “mal ou pouco qualificada” e na falta de investimento.
Nas décadas de 1980 e 1990, Portugal conseguiu acomodar a sua baixa produtividade com a desvalorização da moeda. Desde 1999 e com a entrada no euro, isto é impossível”, ressalva, voltando a apontar armas à moeda e às instituições europeias.
A responsabilidade do euro na situação económica de Portugal é inegável. Mas a responsabilidade das autoridades europeias no caos económica e político que poderá ocorrer é igualmente certa”.


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O COSTA DO EXPRESSO


Diz o povo, na sua ancestral sabedoria, “pelo andar da carruagem se vê quem lá vai dentro”; assim se vê, pelo seu director e pela formam como se comportam os seus responsáveis (salvo raríssimas e honrosas excepções), o tipo de informação produzida num órgão de comunicação.

O Aspirina B retrata bem quem é o Costa do Expresso…

O Costa do Expresso, que já foi o Costa da SIC (e ainda é), não está assim porque foi contaminado por esta onda de direita, nem somente deixou cair a máscara… O Costa do expresso está em missão, está a servir. Só não sabemos a quem, nem a troco de quê…




segunda-feira, 19 de outubro de 2015

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DE ANGOLA



ALÍPIO DE FREITAS, hoje um cidadão do mundo, nasceu no Nordeste de Portugal, na cidade de Bragança. Ordenou-se sacerdote em 1953. Emigrou para o Brasil em 1957. Foi professor de História e Filosofia da Universidade do Maranhão. Jornalista. Vigário de subúrbio. Assistente da Juventude Operária Católica e da Acção Católica Operária. Participou da organização do movimento camponês no Norte e Nordeste do Brasil. Foi membro do Secretariado Nacional das Ligas Camponesas. Em 1962, por questões político-ideológicas, desligou-se da Igreja. Sequestrado no Recife (1962) e preso em João Pessoa (1963), respondeu a dois IPMs por causa da sua actividade política junto aos camponeses. Em 1964 foi, como exilado político, para o México. Regressou clandestinamente ao Brasil e participou da organização e deflagração da luta armada contra o regime militar. Em meados de 1970, foi preso pelo DOl-CODl/RJ. Sobreviveu à tortura e à prisão. Em Fevereiro de 1979, depois de ter cumprido as condenações impostas pela Justiça Militar, recuperou a liberdade.

Escreveu o livro RESISTIR É PRECISO que, como ele próprio escreveu, é o testemunho de um militante político que sobreviveu à tortura e à prisão, [que] é a denúncia de um tempo em que os falsos pressupostos de uma doutrina, chamada de segurança nacional, se cravaram como garras no corpo social da nação, dilacerando-a bárbara e impunemente.

RESISTIR É PRECISO é a afirmação de que se alguém está disposto a morrer por aquilo em que acredita, pode ser triturado pela máquina do terror, que a sua condição de homem sobrevive, pois todo o homem pode manter-se VIVO enquanto resistir.

RESISTIR É PRECISO é um libelo contra a opressão como forma de vida política, contra o silêncio das mordaças, contra todos os processos de aviltamento do homem, contra a corrupção ideológica erigida em serviço da comunidade.

RESISTIR É PRECISO é a constatação de como o arbítrio avilta os homens e as instituições, corrompendo-os pelo abuso do poder…

Este lutador escreveu uma carta aberta a José Eduardo dos Santos. Todos serão poucos para fazer chegar esta carta ao seu destino. Por isso publico, na expectativa de chegar a Eduardo dos Santo. Ei-la:

Carta aberta ao Presidente de Angola

Senhor Presidente:
Ao mandar prender Luaty Beirão e os 14 ativistas, que estão até agora encarcerados sem culpa formada, não devia saber que um homem se quiser pode resistir e sobreviver vitoriosamente a qualquer forma de opressão.

Não devia saber porque se esqueceu. Esqueceu que já foi jovem, que já lutou por ideais. Ideais de liberdade de democracia e bem-estar social. Esqueceu tudo porque infelizmente o seu país é o exemplo contrário de tudo isto. É uma ditadura cruel, um valhacouto de ladrões, uma associação de interesses mesquinhos, melhor dizendo, um país sem povo. Quem lho afirma é alguém que durante dez anos esteve preso, sobreviveu às greves de fome e à tortura. Esta é a afirmação de um homem que esteve disposto a morrer por aquilo em que acreditava. E digo-lhe que um homem pode ser triturado pela máquina do terror que a sua condição de homem sobrevive, pois todo o homem pode manter-se vivo enquanto resistir.

A luta dos jovens angolanos é um libelo contra a opressão como forma de vida política, contra o silêncio das mordaças, contra todos os processos de aviltamento dos seres humanos, contra a corrupção ideológica. A luta dos jovens angolanos é a constatação de como o arbítrio avilta os indivíduos e as instituições, corrompendo-os pelo abuso do poder, pela falsa certeza da impunidade, pela imposição imoral de uma vontade sem limites, pelo silêncio indigno, pela conivência criminosa, pela omissão filha do medo, em que o silêncio do terror tem que ser aceito como paz social.

Se me atrevo a dizer-lhe tudo isto é porque Angola fez parte do meu ideário político e das minhas preocupações revolucionárias e muitos revolucionários angolanos foram meus amigos. Quando parti de Portugal para o Brasil devia ter partido para Angola, mas já nesse tempo as condições da minha ida não foram possíveis, devido às minhas ligações com a resistência angolana. No Brasil, colaborei com a resistência angolana e fui seguindo os seus passos como pude a té porque eu já estava umbilicalmente ligado à resistência brasileira. Mesmo assim, à minha única filha, coloquei o nome de Luanda.

Senhor Presidente, é tempo de não se deixar enredar por intrigas palacianas, por intrigantes gananciosos, por saqueadores de todo o tipo. Quando esse saque acabar o único responsável será o senhor. Se tiver ainda um momento de reflexão possível recorde-se dos seus tempos de jovem quando a revolução do seu país lhe ocupava a sua força, a sua inteligência e todas as suas capacidades. O tempo em que provavelmente era feliz.

Como sabe, o poder tanto pode chegar aos que dele abusarão como àqueles que o usarão com legitimidade a favor dos seus povos. Mas só os poderosos podem ser magnânimos, cometer actos que aos outros mortais não são possíveis Tem agora tempo de ser magnânimo: retire os presos da prisão, ouça-os e depois peça-lhes desculpa. Eles merecem.

Lisboa, 18 de Outubro de 2015

Alípio de Freitas



domingo, 18 de outubro de 2015

SÍNODO DAS FAMÍLIAS OU DOS BISPOS? (1)





Não serão as famílias a poderem apontar caminhos possíveis para a felicidade familiar?

1. Há dias, um amigo dizia-me, com ar sentencioso: a vida de uma pessoa, comparada com a duração do mundo, não é apenas breve, é insignificante. Vós, os católicos, tendes a mania de negar a evidência, inventando a ideia de vida eterna quando, de facto, não passa de um fruto enganador da megalomania do desejo. Para não entrar numa discussão estéril, citei-lhe uma frase de Manuel da Fonseca, mais radical e evidente: isto de estar vivo, ainda vai acabar mal!

A conversa tinha começado pelos rumores em torno do Sínodo dos Bispos. Segundo este amigo, está a preparar-se a primeira grande derrota do Papa Francisco. O seu raciocínio era simples: os bispos de todo o mundo dispõem de um passado e do Direito Canónico que lhes oferece a ilusão - assim como à Cúria vaticana - de mandar no imaginário de uma realidade universal, com uma longa história de muitas configurações culturais e religiosas: a Família. Para eles, as normas contam mais do que a felicidade ou infelicidade das pessoas e dos casais. O Papa Francisco, pelo contrário, acordou para as exigências do humanismo cristão, mas não conseguiu acordar os outros bispos do sono dogmático.

Anselmo Borges fez muito bem em apresentar um artigo de J. M. Castillo que mostra e documenta que não existe nenhuma declaração dogmática que imponha a indissolubilidade absoluta do casamento [1]. Nestas crónicas, notifiquei, desde 1993, as posições que justificavam a possibilidade do acesso dos divorciados recasados à Eucaristia, assim como a discussão aberta em torno da indissolubilidade do Matrimónio que o Direito Canónico impôs [2].

Além disso, se a vida das pessoas é muito breve, a ética inter-geracional não pode pensar apenas em termos do tempo curto das pessoas, mas insistir no tempo longo: o mundo não começou agora nem vai acabar hoje. Não é saudável deixar para o futuro o que já é possível resolver. A espiritualidade do provisório, do pão nosso de cada dia, é parecida com o dito do poeta: não há caminho, o caminho faz-se caminhando. De qualquer modo, o Evangelho de Jesus Cristo segue a lei do alívio dos oprimidos, não a atitude farisaica que carrega os abatidos sempre com mais pesos.

2. Ao que parece, há agitações no Sínodo e fora do Sínodo, com ameaças de cismas, de cisões na Igreja e não sei que mais!

Parece-me que se está a esquecer algo de muito elementar: estamos perante o Sínodo dos Bispos sobre a Família, não do Sínodo das Famílias traçando orientações para a sua caminhada segundo as diferenças de continentes e culturas. Este virá a seguir. Agora estamos perante o Sínodo dos bispos celibatários, com responsabilidades inalienáveis na Igreja universal, confrontando pontos de vista antropológicos, cristológicos e pastorais para oferecerem um bom contributo para a felicidade das famílias. Não alimento sonhos delirantes nem visões apocalípticas sobre esta grande reunião.

Procurou-se esquecer o Vaticano II (1962-1965) que foi a grande revolução católica do séc. XX. Agora, estamos a colher as consequências desse vazio. Foram várias gerações que o não aprofundaram e que ouviram, a vários níveis, as vozes que apresentaram a sua memória como uma desgraça para a Igreja. Quando se julgava que estava enterrado para sempre, surge o Papa Francisco estragando esse cálculo.

Muitos queixam-se de que é no seio do clero mais novo que surgem os padres mais reaccionários. Talvez. São, porém, facilmente cooptados pelos movimentos e grupos que desejam neutralizar o impacto Bergoglio, a nível interno da Igreja e da sociedade. São manipulados que tentam manipular.

3. Em vez de perder tempo com as atoardas sobre os possíveis cismas na Igreja, devido à livre discussão que o Papa Francisco introduziu na sua orientação pastoral, talvez fosse melhor começar a pensar e a desenhar o próprio Sínodo das Famílias, segundo os continentes geográficos e culturais, a partir das paróquias, dos movimentos, dos casais, de forma inclusiva, em termos de caminhada, mais ou menos longa, segundo os contextos. Os Bispos têm mensagens e orientações para as famílias, mas não serão as famílias que vivem experiências de êxitos e fracassos matrimoniais a poderem apontar caminhos possíveis para a felicidade familiar?

Várias vezes nestas crónicas, destaquei a falta de senso quanto ao acesso dos divorciados recasados à Comunhão Eucarística, cuja simbólica é uma ceia. Como é possível convidar uma pessoa para jantar e dizer-lhe: vem, mas não podes comer!? Além disso, recomenda-se a estes pais – cuja norma os impede de comungar – que preparem e acompanhem a comunhão dos filhos. De repente, a criança pode pensar: mas a comunhão será só para crianças? Aí começa a debandada.



[1] Anselmo Borges, Casamento católico: indissolúvel? DN 10.10.2015; José Maria Castillo, El Papa puede admitir a la eucaristía a los divorciados vueltos a casar, Religión Digital, 26.08.2015

[2] Frei Bento Domingues, A Humanidade de Deus, p. 203-206, 1995; As Religiões e a Cultura da Paz, p 88-91, 2002. Cf. Fidélité et Divorce, Rev.Lumière & Vie, n.206, 1992; Francisco Gil Delgado, Divórcio en la Iglesia.História y Futuro, 1993; Michel Legrain, Os Divorciados e a Igreja, 1995



sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A NATO recusa envolver-se na guerra secreta Russo-Turca




Os ministros da Defesa dos países membros da NATO, reunidos em Bruxelas, a 8 de Outubro de 2015, aprovaram o plano da Força de Intervenção Rápida e a criação de dois novos quartéis-generais na Hungria e na Eslováquia.

Abordando a questão das violações do espaço aéreo turco pela Rússia, como parte de sua operação contra as organizações terroristas na Síria, a Aliança rejeitou o pedido turco de manutenção dos mísseis Patriot.

Estes mísseis antimíssil tinham sido instalados na fronteira turco-síria, quando a Aliança entendia impedir o Exército Árabe Sírio de retomar o controlo do norte do seu país. A NATO havia anunciado a sua retirada logo que os presidentes Obama e Putin se tinham posto de acordo sobre a operação russa, e antes mesmo desta ser anunciada.

Desde o primeiro dia de bombardeio, a aviação russa matou oficiais turcos ilegalmente colocados em solo sírio.

No decurso dos últimos dias, a aviação russa multiplicou as violações do espaço aéreo turco pretextando problemas meteorológicos imaginários. Numerosos especialistas ocidentais asseguraram que o Exército russo estava testando o tempo de reacção do seu homólogo turco. Na realidade, a Rússia conduz a guerra contra o exército turco que continua a enquadrar grupos terroristas no solo sírio, e fornece abrigo e assistência aos jhiadistas que fogem aos bombardeamentos russos.

O Conselho do Atlântico Norte contentou-se em declarar, através do seu Secretário-Geral, que essas violações do espaço aéreo eram inaceitáveis, e que manifestava a sua firme solidariedade para com a Turquia.

Tradução Alva


Está bem! Fiquemos por aqui…



sábado, 19 de setembro de 2015

NÃO HÁ ESCOLHAS IDEAIS



Por maioria esmagadora, com a contribuição crucial de jovens, o Partido Trabalhista acaba de eleger o secretário-geral mais à esquerda da história do Labour.






Uma amiga querida, espanhola, disse-me há dias que lhe apetecia escrever uma crónica intitulada: “Votem à esquerda e deixem-se de parvoíces”. Com esta frase queria ela expressar a ideia de que, apesar de não haver escolhas ideais para votar à esquerda, o mais importante de tudo é mandar embora este governo e tudo o que ele significou para o país. Os danos mais evidentes aí estão: o país empobreceu, a classe média foi arrasada, muitos dos melhores jovens emigraram, a ciência, a saúde e a educação foram decapitadas, tudo isto para diminuir uma dívida que afinal aumentou e para relançar o crescimento económico que afinal não surgiu e se surgir será um potenciador de desigualdades. E, para além de tudo, a corrupção. Exceptuando o Tribunal Constitucional, o sistema judicial português, além de conservador, é timorato, não sendo capaz de enfrentar políticos enquanto estão no governo (Sócrates é o exemplo mais recente). Esta é talvez uma das razões por que os dois líderes do governo querem tanto ganhar as eleições. Qualquer cidadão minimamente atento não deixará de considerar um escândalo que, no caso dos submarinos, os alemães que corromperam os portugueses tenham sido julgados e punidos enquanto os portugueses corrompidos por eles continuem a exercer funções públicas.

Mas o mais grave do que aconteceu não se vê. Está inscrito no que os portugueses não vêem quando se vêem ao espelho: a contra-revolução do 24 de Abril, a ideia de que somos um povo incapaz, que não merecemos o que conquistámos nos últimos quarenta anos, que afinal nunca tivemos direitos, recebemos uns donativos que aliás malbaratámos, que fomos irresponsáveis em pensar que podíamos ser europeus noutra qualidade que não a de serviçais estrangeiros dos europeus do norte.
Devemos, pois, deixar-nos de parvoíces e votar à esquerda. Porque é que não há escolhas ideais? O Partido Socialista (PS) entende que, não estando sujeito a nenhuma pressão da esquerda, mais dividida do que nunca, e tendo o actual governo assumido uma posição muito mais à direita que a posição tradicional do Partido Social Democrata (PSD), tem à sua disposição o centro onde não tem concorrência. Estratégia arriscada porque, depois de quatro anos de destruição da classe média que sustenta o centro, não se sabe como votarão as suas ruínas. A Europa está a mudar. Vejamos o caso inglês, onde o partido irmão do PS, o Partido Trabalhista, acaba de eleger o secretário-geral mais à esquerda da história do Labour. Por maioria esmagadora, com a contribuição crucial de jovens que só agora se filiaram no partido (3 libras pela filiação), com o objectivo de pôr fim ao centrismo e de poder lutar por uma sociedade onde a injustiça, a precariedade e a pobreza não sejam uma fatalidade de que só os ricos estão isentos. No discurso da vitória, Jeremy Corbyn referiu-se sempre ao partido como partido-movimento.
A esquerda à esquerda do PS é a única que se opõe inequivocamente à austeridade, mas é confrangedor vê-la dividir-se ainda mais quando nunca houve tantas razões para se unir. É confrangedor, mas tem uma razão sociológica. Dado o envolvimento dos partidos socialistas europeus com o neoliberalismo e a corrupção e, por último, com as políticas de austeridade que tanta desigualdade e sofrimento injusto têm causado, abriu-se uma janela de oportunidade para uma verdadeira política de esquerda. Para ela se concretizar, seria necessária uma profunda revisão das ideologias e uma nova forma da fazer política a partir dos cidadãos humilhados e ofendidos. Em Espanha, a oportunidade foi aproveitada; na Grécia, foi tentada mas falhou ou foi feita falhar. Em Portugal, não foi sequer tentada. Pelo contrário, o Partido Comunista Português (PCP) contentou-se em continuar a ter sempre razão ante os erros que sempre e só os outros cometem e o Bloco de Esquerda (BE), pelo seu dogmatismo, criou as condições para novos partidos surgirem à esquerda, nomeadamente o Partido Livre (PL) formado com ex-militantes do BE. Como nunca esteve tão longe de ser relevante, a esquerda à esquerda disfarça a irrelevância com a autenticidade dos princípios e a clarividência das propostas, quando não cai no mais caricato espectáculo de personalismo exibicionista. É um desperdício intolerável. Mas ainda maior é desperdício de não podermos contar com a intervenção política de tantos jovens progressistas, altamente qualificados, que podiam estar politicamente mais activos se a política fosse menos medíocre. Mas nem tudo é mau. Em alguns distritos, em Coimbra por exemplo, há movimentos de cidadãos e cidadãs com uma história que vem de trás e que, parecendo estar atrás de um partido, está, de facto, à frente dele. São o embrião das transformações políticas que acabarão por chegar à sociedade portuguesa.


segunda-feira, 7 de setembro de 2015

PODEM ENGANAR O POVO UMA VEZ, MAS NÃO O PODEM ENGANAR SEMPRE.





Agora percebo porque a maioria (PSD e CDS) e, principalmente o PM, foge às entrevistas e de falar sobre o plano ou projectos de governo – aguardam instruções de Bruxelas.

Assunção Cristas, falando à saída de uma reunião extraordinária dos ministros da agricultura da EU, indicou que a proposta de Bruxelas contempla vários aspectos… No entanto, admitiu que ainda não há suficientes detalhes para se avaliar da "bondade" da proposta, pois a própria Comissão ainda não explicou sequer como vão os 500 milhões ser alocados às diferentes medidas, nem tão pouco foi definida ainda a chave de distribuição entre os Estados-membros, matérias que poderão ser finalizadas no conselho informal de Agricultura que se realiza dentro de uma semana no Luxemburgo.

Embora não saiba quanto vale a proposta, nem se é boa ou má… O que é importante é enganar os “labregos” dos portugueses, acenando-lhes com uma mão cheia de nada.

Nem é preciso estar em campanha eleitoral, basta o descaramento e a falta de pudor desta gente para (lembram-se dos problemas da sardinha?) virem prometer e acenar com o vazio ou com “milhares” de… nada.

E acrescentou aos jornalistas presentes: “é um apoio para que o sector possa resistir neste embate mais difícil, em que se cruza o fim das quotas e o embargo da Rússia, e também alguma diminuição de consumo, e que, ultrapassado este momento, possa também ter mais força para prosseguir”.

Prosseguir o quê, aonde e porquê?

É preciso ter lata…!

O apoio de Bruxelas vai no bom sentido…?

Qual apoio e qual o sentido…?

Acho que já basta…!




terça-feira, 25 de agosto de 2015

ORGULHO E PRECONCEITO – A PARELHA




Perdeu o seu mentor “profissional” – Ângelo Correia –, por orgulho, vaidade e falta de respeito.

Perdeu o seu orientador político e de tantas outras manipulações – Miguel Relvas –, por excesso de confiança que o exercício do poder aparentemente lhe conferiu.

Perdeu o único técnico credível no âmbito da deficiente gestão financeira do seu governo – Vitor Gaspar –, por incapacidade de liderar, conforme denunciou o ex-ministro na sua carta de demissão.

Somente a credibilidade não pode perder, pois ninguém perde o que não tem…

Teme agora perder o ilusionista – Paulo Portas –, que já tudo perdeu de honorabilidade política e que seria o único capaz de garantir o adormecimento dos eleitores, através da manipulação e da ilusão.

Não perde quem desejaria perder – Paula Teixeira da Cruz, Anabela Rodrigues e Nuno Crato (de entre muitos outros) –, porque é teimoso e, certamente, não arranjaria substitutos…

Vai certamente perder o debate televisivo para as legislativas porque, sem Portas, falta-lhe a bengala para criar a ilusão de que esta “maioria” tem planos, projectos e intenções de melhorar a vida dos portugueses.

Qual o orgulhoso e qual o preconceituoso…? São ambos – completam-se.

Só espero que o povo não perca a clarividência e a lucidez que o acompanha nos grandes momentos da nossa história e corra com esta gente… Penso que até os próprios partidos, que eles julgam representar, estão ansiosos para correr com eles.


domingo, 23 de agosto de 2015

Goldman Sachs – NATO, S.A.


Manlio Dinucci
REDE VOLTAIRE | ROMA (ITÁLIA) | 20 DE AGOSTO DE 2015




Depois de ser secretário-geral da NATO, de 2009 a 2014 (sob comando dos Estados Unidos), Anders Fogh Rasmussen assumiu o posto de consultor internacional da Goldman Sachs, o mais poderoso banco dos Estados Unidos.








O mais poderoso banqueiro privado do mundo, Lloyd Blankfein, presidente do Goldman Sachs, disse "fazer o trabalho de Deus" (sic). Para punir os pecadores, ele recorreu aos serviços de Anders Fogh Rasmussen, ex-secretário-geral da NATO.

O currículo de Rasmussen é prestigioso. Como primeiro-ministro dinamarquês (2001-2009), empenhou-se pela “ampliação da União Europeia e da NATO contribuindo para a paz e a prosperidade na Europa”. Como secretário-geral, representou a NATO no seu “pico operativo com seis operações em três continentes”, entre as quais as guerras no Afeganistão e na Líbia, e, “em resposta à agressão russa à Ucrânia, reforçou a defesa colectiva a um nível sem precedentes desde o fim da guerra fria”. Além disso, Rasmussen apoiou a “parceria transatlântica sobre comércio e investimentos (TTIP)” entre os Estados Unidos e a União Europeia, base económica de “uma comunidade transatlântica integrada”.
Competências preciosas para a Goldman Sachs, cuja estratégia é ao mesmo tempo financeira, política e militar. Os seus dirigentes e consultores, depois de anos de trabalho no grande banco, foram levados a postos chave nos governos dos Estados Unidos e outros países: entre estes, Mário Draghi (governador do Banco da Itália, depois presidente do Banco Central Europeu) e Mário Monti, (nomeado chefe de governo pelo presidente Napolitano em 2011).

Portanto, não é de espantar que o Goldman Sachs tenha a mão na massa nas guerras conduzidas pela NATO. Por exemplo, na guerra contra a Líbia: primeiramente, apropriou-se (causando perdas de 98%) de fundos estatais de 1,3 mil milhões de dólares, que Trípoli lhe tinha confiado em 2008; assim, participou em 2011 na grande rapina dos fundos soberanos líbios (estimados em cerca de 150 mil milhões de dólares) que os Estados Unidos e a União Europeia “congelaram” no momento da guerra. E, para gerir através do controle do “Banco Central da Líbia” os novos fundos recebidos das exportações de petróleo, o Goldman Sachs apresta-se a desembarcar na Líbia com a projectada operação EUA/NATO sob a bandeira da União Europeia e “condução italiana”.

Com base numa lúcida “teoria do caos”, desfruta-se a caótica situação provocada pela guerra contra a Líbia e a Síria, instrumentalizando e canalizando para a Itália e a Grécia (entre os países mais débeis da União Europeia) o trágico êxodo dos imigrantes decorrente de tais guerras. Isso serve como arma de guerra psicológica e pressão económica para demonstrar a necessidade de uma “operação humanitária de paz”, visando na realidade a ocupação militar da zona estratégica e economicamente mais importante da Líbia.

Como a NATO, o Goldman Sachs é funcional à estratégia de Washington que quer uma Europa submetida aos Estados Unidos. Depois de ter contribuído com o embuste das hipotecas sub-prime provocando a crise financeira, que dos Estados Unidos chegou à Europa, o Goldman Sachs especulou sobre a crise europeia, aconselhando “os investidores a tirar vantagem da crise financeira na Europa (conforme o relatório reservado divulgado pelo Wall Street Journal, em 2011).

E, segundo documentada pesquisa efectuada em 2010-2012 pelos veículos de informação Der Spiegel, New York Times, BBC e Bloomberg News, o Goldman Sachs camuflou com complexas operações financeiras (“empréstimos ocultos” em condições leoninas e venda de “títulos tóxicos” dos Estados Unidos), o verdadeiro crescimento da dívida grega. Nesse negócio, o Goldman Sachs manobrou mais habilmente do que a Alemanha, o Banco Central Europeu e o FMI, cuja faca no pescoço da Grécia é evidente.

Assim, recruta Rasmussen, com a rede internacional de relações políticas e militares por ele tecida durante os cinco anos em que esteve à frente da NATO.


Tradução
José Reinaldo Carvalho,
Editor do site Vermelho



quinta-feira, 6 de agosto de 2015

ESTES SÃO OS ILUMINADOS QUE NOS REGEM...


No twitter, o secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães, polemizou com o economista britânico e ex-consultor de Durão Barroso, Philippe Legrain. Maçães postou um artigo do "The Wall Street Journal" que demonstrava "como os países em crise da zona euro deixaram para trás os seus problemas", afirmando que Portugal cresceu pela primeira vez sem dívida em 40 anos. Uma resposta imediata surgiu, pelo teclado de Philipe Legrain: "Sim, a economia de Portugal está ainda 7,5% mais pequena que há sete anos. É a isso que chama deixar os problemas para trás?", rematou. Hoje, ao Diário de Notícias, o economista britânico vai mais longe: «o Governo tentou ser mais alemão que os alemães e foi desastroso». (Nicolau Santos - Expresso Curto)

Economista britânico e ex-conselheiro de Barroso teve acesa discussão com Bruno Maçães no Twitter. Traça um cenário na linha do que irritou o secretário de Estado, que acusa de estar a fazer "propaganda"

Pergunta de Rui Pedro Antunes (Diário de Notícias) A Philippe Legrain: «Teve uma troca acesa de opiniões no Twitter com Bruno Maçães sobre a situação portuguesa. Acredita que o secretário de Estado está a tentar "dourar a pílula" da situação portuguesa?
Com eleições à porta, o governo está a defender o seu terrível recorde – inclusive recorrendo à propaganda de que Portugal "deixou os seus problemas para trás", como Maçães escreveu. É propaganda e é um absurdo.»
[…]
O programa falhado foi projectado pela troika dentro das limitações políticas definidas pela Alemanha. E foi entusiasticamente implementado pelo governo português, que tentou ser "mais alemão do que os alemães". Mas as consequências foram desastrosas: uma longa e desnecessária depressão da qual o país ainda não recuperou e que perversamente causou uma dívida pública tão alta que ultrapassa o produto interno bruto. (Fonte)

(Realces e sublinhados nossos)

         Jornal I


quarta-feira, 29 de julho de 2015

APARELHISMO VS. DIGNIDADE




Em conversa com um amigo, citei uma frase de Elísio Estanque, do seu artigo publicado no Público, hoje, 29 de Julho, com o título “Social-democracia e aparelhismo”: “A força do aparelhismo tem como contraponto o vazio da política. Mas a génese disso reside numa cultura difusa, enraizada na sociedade, onde o tráfico de influências prevalece sobre os valores democráticos e a reverência ao poder sobre a autonomia individual”. E acrescentei: Espero que o povo já esteja farto das mesmas caras que se pavoneiam pelo parlamento, sem nada produzirem, quais paus-mandados dos líderes partidários. Em suma, sem carácter e sem dignidade… salvo raras e honrosas excepções.

O meu amigo retorquiu-me: “Não te iludas…! O povo não vota nas pessoas, nem nos programas; vota no clube, no partido… Salvo raríssimas e honrosas excepções, como tu dizes… O aspecto político e social não conta nem interessa ao aparelhismo… Interessam vassalos bajuladores dos Senhores do Partido…”


quinta-feira, 23 de julho de 2015

TESTES FATAIS


A Europa transformou-se num laboratório do futuro. O que nele se experimenta deve causar preocupação a qualquer democrata e a qualquer pessoa de esquerda.



Boaventura de Sousa Santos



A Europa transformou-se num laboratório do futuro. O que nele se experimenta deve causar preocupação a qualquer democrata e, muito mais, a qualquer pessoa de esquerda. Duas experiências estão em curso em ambiente laboratorial, isto é, supostamente controlado. A primeira experiência é um teste de stress à democracia. A hipótese que orienta o teste é a seguinte: a deliberação democrática de um país forte pode sobrepor-se antidemocraticamente à deliberação democrática de um país fraco sem que tal altere a normalidade da vida política europeia. As condições para o êxito desta experiência são três: controlar a opinião pública de modo a que os interesses nacionais do país mais forte sejam convertidos no interesse comum da zona euro; dispor de um conjunto de instituições não eleitas (Eurogrupo, BCE, FMI, Comissão Europeia) capazes de neutralizar e punir qualquer deliberação democrática que desobedeça ao diktat[1] do país dominante; demonizar o país mais fraco de modo a que não suscite nenhuma simpatia junto dos eleitores dos restantes países europeus, especialmente junto dos eleitores dos países candidatos a desobedecer. A Grécia é a cobaia desta tenebrosa experiência. Trata-se do segundo exercício de ocupação colonial do século XXI (o primeiro foi a Missão de Estabilização da ONU no Haiti a partir de 2004), um colonialismo de tipo novo, executado com o consentimento do país ocupado, ainda que sob inaudita chantagem. E, tal como o velho colonialismo, justificado como servindo o melhor interesse do país ocupado. A experiência está em curso e os resultados do teste de stress são incertos. Ao contrário dos laboratórios, as sociedades não são ambientes controlados, por maior que seja a pressão para os controlar. Uma coisa é certa, depois desta experiência, qualquer que seja o seu resultado, a Europa não será mais a Europa da paz, da coesão social e da democracia. Será o epicentro de um novo despotismo ocidental, rivalizando em crueldade com o despotismo oriental estudado por Karl Marx e Max Weber.

A segunda experiência em curso é um exercício sobre a solução final para a esquerda europeia. A hipótese que orienta esta experiência é a seguinte: não há lugar na Europa para a esquerda na medida em que esta reivindicar a existência de uma alternativa às políticas de austeridade impostas pelo país dominante. As condições para o êxito desta experiência são três. A primeira consiste em provocar a derrota preventiva dos partidos de esquerda punindo de maneira brutal o primeiro que tentar desobedecer. A segunda consiste em criar nos eleitores a ideia de que os partidos de esquerda não os representam. Até agora, a ideia de que "os representantes não nos representam" era uma bandeira do movimento dos indignados e do Occupy contra os partidos de direita e seus aliados. Depois de o Syriza ser forçado a beber o cálice da cicuta austeritária apesar do "não" do referendo grego que ele próprio apoiara, os eleitores serão levados a concluir que, afinal, também os partidos de esquerda não os representam. A terceira condição consiste em armadilhar a esquerda em falsas opções entre falsos Planos A e Planos B. Nos últimos anos, a esquerda dividiu-se entre os que pensam que é melhor permanecer no euro e os que pensam que é melhor sair do euro. Ilusão: nenhum país pode optar por sair ordenadamente do euro, mas, se desobedecer, será expulso e o caos desabará implacavelmente sobre ele. Passa-se o mesmo com a restruturação da dívida que até agora tanto dividiu a esquerda. Ilusão: a restruturação ocorrerá quando tal servir os interesses dos credores e é por isso que mais esta bandeira de alguma esquerda se transforma agora numa política do FMI.

Também os resultados desta experiência são incertos e pelas mesmas razões acima referidas. Uma coisa é certa: para sobreviver a esta experiência, a esquerda terá de se refundar para além do que é hoje imaginável. Tal envolverá muita coragem, muita audácia e muita criatividade.




[1] Exigência absoluta imposta pelo mais forte, sem outra justificação que não seja a força

sábado, 18 de julho de 2015

Revelar origem da dívida grega provocaria revolução financeira mundial, diz auditora


Por: Vanessa Martina Silva | São Paulo - 15/07/2015

Membro da comissão que auditou parte da dívida pública grega, Maria Lúcia Fattorelli questiona, em entrevista exclusiva a Opera Mundi: é 'ridículo' culpar Atenas pela crise europeia
A pressão realizada pelos credores europeus para que a Grécia aceitasse o acordo para um resgate financeiro foi, na verdade, uma tentativa de impedir que se conheçam as origens “ilegais e ilegítimas” da dívida, uma vez que isso provocaria “uma revolução no sistema financeiro mundial”. É o que defende Maria Lucia Fattorelli, auditora aposentada da Receita Federal, em entrevista exclusiva a Opera Mundi. Ela fez parte das primeiras atividades da comissão internacional que realizou a auditoria da dívida grega, a convite da presidente do Parlamento grego, Zoe Konstantopoulou.
As conclusões iniciais a que o levantamento do qual Fattorelli fez parte chegou nas primeiras sete semanas de investigação revelam que “os mecanismos inseridos nesses acordos [de resgate do país] eram para beneficiar os bancos e não a Grécia. (…) A questão é: por que eles [troika] têm que jogar tão pesado?”. Ela responde: “Porque a Grécia pode revelar o que está por trás. A tragédia da Grécia esconde o segredo dos bancos privados. Ela poderia colocar a nu as estratégias utilizadas para salvar bancos e colocar em risco toda zona do euro, toda a Europa”, aponta a também fundadora do movimento “Auditoria Cidadã da Dívida” no Brasil.

Nilson Bastian/Câmara dos Deputados
Auditora aposentada da Receita Federal, Maria Lúcia Fattorelli participou do levantamento da dívida pública de Grécia e Equador

Fattorelli explica que no mesmo dia em que foi criado, em 2010, o plano de suporte à Grécia, a Comissão Europeia criou uma empresa privada em Luxemburgo e os países europeus se tornaram sócios da mesma, colocando garantias na ordem de 440 bilhões de euros, e que um ano depois chegaram à soma de 800 bilhões. A empresa, explica Fattorelli, serviu para “fazer o repasse de papéis podres dos bancos para os países, utilizando o sistema da dívida”. Paralelamente, também no mesmo dia, o Banco Central Europeu anuncia um programa de compra de papéis no mercado para ajudar bancos privados: “Isso é um escândalo. É ilegal, mas é colocado como se isso tivesse sido feito para salvar a Grécia”, aponta a economista.
“Eles poderiam vir a público denunciando o que já foi descoberto, as regularidades que já foram apuradas. Todos nós gostaríamos que a Grécia reagisse agora diante dessa camisa de força do euro, desse poder dado ao Banco Central Europeu, das  instituições acima dos países e toda essa situação financeira de dependência”, comenta a auditora, fazendo referência ao fato de que o sistema do euro impede que os países-membros exerçam uma política monetária independente.
Questionada sobre a possibilidade de os termos do acordo com a Grécia serem uma “punição política” ao premiê grego e também um recado aos demais países em dificuldades na Europa, como Portugal, Irlanda, Itália e Espanha, Fattorelli observa que essa é a estratégia que vem sendo adotada desde 2010. "A Grécia foi colocada sob os holofotes da grande mídia no mundo inteiro como se fosse a responsável pela crise Europeia. Isso é ridículo, porque quando você olha o tamanho da economia grega, em comparação com a europeia, o PIB da Grécia é em torno de 3% do europeu. Então, como 3% pode abalar 97%? Isso é uma criação e é absurdo que ninguém questione isso”, afirma.

Reestruturação da dívida
Apontada por Tsipras como uma vitória nas negociações com os credores, a reestruturação da dívida é, na opinião da auditora, contra indicada caso não tenha sido concluída a auditoria da dívida.
Fattorelli explica que se for feita neste momento, o país “vai reestruturar grande parte de uma dívida que deveria ser anulada. Antes de reestruturar, deveria ser concluída a auditoria para que se analise o que realmente deve ser reestruturado. Agora, como está, vão empacotar tudo junto: a parte ilegal e a ilegítima”, esclarece.

Agência Efe
Manifestantes protestaram nesta terça-feira (14/07) contra medidas de austeridade

Entre a dívida ilegal, ela aponta os quase 50 bilhões de euros usados para salvar os bancos nos últimos anos. “Isso não é dívida pública, isso é outra coisa. Deveria ser considerado um empréstimo aos bancos privados, não uma dívida pública do país”, destaca.

Perda da soberania
Após a assinatura do acordo por Tsipras, analistas e mesmo setores da esquerda grega avaliaram que a adoção das medidas caracteriza uma perda da soberania do país. Fattorelli discorda. Para ela, Atenas perdeu a soberania já em maio de 2010, quando foi assinado o primeiro pacote de resgate e a troika [conjunto de credores gregos formado por FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia] "passou a mandar lá".
"Inclusive, a lei vigente sobre esses acordos é a lei inglesa, não é a grega. Além disso, se a Grécia tiver que ir a algum tribunal, ficará submetida ou ao tribunal de Luxemburgo ou ao de Londres”, acrescenta Fattorelli, que considera essa situação jurídica "um abuso".

Agência Efe
 
Tsipras classificou acordo como 'mau acordo', no qual não crê, e disse ter lutado 'até o fim' pelo povo grego


Ela avalia, no entanto, que a oportunidade que os gregos tinham agora de retomar as rédeas sobre os rumos do país foi perdida. “O país está à venda desde que foram criados o fundo de estabilização para salvar os bancos e o fundo de privatização. Ambos determinados pelo FMI em 2010”.

‘Sistema é inviável’
A crise grega abre a possibilidade de que se discuta a fundo a questão do sistema da dívida, defende Fattorelli. No país helênico, os "bancos privados criaram derivativos em cima de derivativos. Papéis podres que estavam inundando seus balanços. Ou seja, eles estavam quebrados, mas foram considerados grandes demais para quebrar e continuaram com seus patrimônios intocáveis” Mas, quem está assumindo esse ônus são os países “e é um ônus que não tem fim”, aponta.

Agência Efe
Indigentes dormem nas ruas de Atenas

“O último dado conhecido do volume de derivativos tóxicos divulgado pelo BIS (Banco Central dos Bancos Centrais), em 2011, informava que o montante chegava a 11 PIBs mundiais. Então eu questiono: esse salvamento vai resolver alguma coisa? Não! Será somente o adiamento até uma nova crise. E aí o que vai ser feito depois?”, questiona.
Na verdade, esse sistema “além de não ter lógica está comprometendo o emprego real, está comprometendo a indústria, o comércio. Ou seja, toda a economia real está comprometida, assim como a vida das pessoas”. Ela ressalta, no entanto, que isso não ocorre só na Grécia: “olha no Brasil, o que está acontecendo [com o ajuste fiscal levado a cabo pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy]. É o mesmo esquema, o mesmo sistema da dívida atuando”.

Argentina e Equador
Para um melhor entendimento da crise grega, Fattorelli a comparou à que foi vivenciada pela Argentina em 2000: “depois de cumprir todas as privatizações que o FMI queria, o fundo deu as costas ao país e deixou espaço aberto para os bancos privados oferecerem o acordo. Eles colocaram juros equivalentes ao crescimento do PIB e como consequência, hoje a dívida argentina já é um problema novamente e não significou nenhum benefício aquilo [o receituário do FMI]. Além disso, o país também não fez a auditoria”.
Em 2008, o presidente equatoriano, Rafael Correa, anunciou que não pagaria parte da dívida externa do país, após a realização de uma auditoria, da qual Fattorelli participou. A diferença do pequeno país sul-americano para a Grécia, Argentina ou mesmo o Brasil é explicada pela economista: “Correa conseguiu enfrentar o sistema porque, como o Syriza, chegou ao poder sem financiamento privado, não chegou lá atrelado aos interesses dos financiadores. Se olharmos no site do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] do Brasil, quem financiou as campanhas presidenciais e legislativas foram os bancos privados e as grandes corporações”, aponta.
Ela conta também que o processo completo no Equador durou um ano e quatro meses. Além disso, o relatório foi submetido a um crivo jurídico nacional e internacional para garantir sua legitimidade.  
Outro ponto é que o Equador, que diminuiu em 70% o valor devido aos credores, tinha, segundo Fattorelli, dinheiro para recomprar a dívida: "Fez a proposta e honrou".
“O problema da Argentina [de 2000] é que não fez auditoria, chegou ao fundo do poço e quebrou. Já a Grécia, quando o Syriza chegou ao poder, já estava quebrada e dentro da camisa de força da estrutura da zona do euro, em que não tem moeda própria. Nesse aspecto, a situação grega é até pior do que a Argentina, que tinha moeda própria”, acrescenta.

Solução possível
Apesar das conclusões de Fattorelli, ela não considera que o acordo feito por Tsipras era o único possível: “Eles poderiam criar uma moeda paralela temporária — solução apontada por economistas famosos, inclusive — até resolver a situação. Se adotassem isso, fariam um bem a toda a humanidade. Mas prosseguir com este modelo suicida não tem futuro”.