Natália Correia nasceu na Fajã
de Baixo, em São Miguel (Açores), a 13 de Setembro de 1923; faleceu em Lisboa, a
16 de Março de 1993).
Até ler o livro
"O Botequim da Liberdade", de
Fernando Dacosta, desconhecia, em absoluto, a capacidade premonitória e profética
da minha mui ilustre conterrânea; principalmente depois de sentir o ódio demonstrado
por este governo (principalmente do PM, também ele retornado) pela geração que
assinou a independência das colónias,
instituiu a democracia e conquistou a liberdade – os actuais
aposentados.
Eis algumas profecias de Natália Correia:
"A nossa entrada (na CEE) vai provocar
gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém,
explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua
vocação é ser colonialista".
"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não
vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças,
crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e
determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que
não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para
sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos
profundas. Isso levará os que
desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer
modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"
"Portugal vai entrar num tempo de
subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".
"Os
neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos.
Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste
desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".
"As primeiras décadas do próximo
milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência,
abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior
conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão
gravíssimas rupturas. Abandonados, os
idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada,
a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A
indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o
incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a
vir".
Convém relembrar,
principalmente para os mais novos, que Natália Correia foi uma dos fundadores
do PPD – Partido Popular Democrático; mais tarde, PSD – Partido Social
Democrático: actualmente PPD/PSD. Mas, Natália defendia ideais social-democratas
e lutou sempre contra os oportunistas, os tíbios, os medíocres inconscientes, os
vingativos e, principalmente, contra os neoliberais.
Quantas voltas não
dará no túmulo ao aperceber-se do triste destino do partido que ajudou a criar…?
Os actuais PPD/PSD rejeitaram a herança e a coragem de Natália Correia.
Sem comentários:
Enviar um comentário