A
Igreja não é somente para homens.
«Uma questão que está sempre em estudo, sem nenhuma conclusão, é
o papel das mulheres na Igreja e nos chamados ministérios ordenados como, por
exemplo, o da presidência da Eucaristia.
Posso estar muito enganado, mas esta Carta é um exercício magnífico de ironia pastoral. Bergoglio
tem-se esforçado por realçar que o lugar das mulheres na Igreja está muito desfasado
em relação ao papel que desempenham na vida social, cultural, económica e
política em muitos países. Homens e mulheres gozam cada vez mais, ainda com
muitas distorções, dos mesmos direitos e deveres cívicos.
No entanto, o Papa Francisco esbarra com a Carta Apostólica de João Paulo II, Ordinatio Sacerdotalis (22.05.1994): “A ordenação sacerdotal, mediante a qual se transmite a função confiada por Cristo aos apóstolos, de ensinar, santificar e reger os fiéis, foi reservada sempre, na Igreja Católica, exclusivamente aos homens.” Esta Carta precisa de uma hermenêutica rigorosa que mostre que ela continua com as imagens de um mundo que está condenado a desaparecer. Ao publicar um Motu Proprio sobre o que já não precisava de nenhuma publicação, o Papa Francisco manifesta o ridículo da situação actual. 1»
Cristo não entregou a missão de divulgação do reino somente a
homens; fê-lo, também e por excelência, a mulheres. Lembremos:
Maria
Madalena, quando chegou ao sepulcro e não encontrou lá o corpo do Senhor,
julgou que alguém O tinha levado e foi avisar os discípulos. Estes vieram
também ao sepulcro, viram e acreditaram no que essa mulher lhes dissera. Destes
está escrito logo a seguir: E regressaram os discípulos para sua casa. E depois
acrescenta-se: Maria, porém, estava cá fora, junto do sepulcro, a chorar.
Estes
factos levam-nos a considerar a grandeza do amor que inflamava a alma desta
mulher, que não se afastava do sepulcro do Senhor, mesmo depois de se terem
afastado os discípulos. Procurava a quem não encontrava, chorava enquanto
buscava e, abrasada no fogo do amor, sentia a ardente saudade d’Aquele que
pensava ter-lhe sido roubado. Por isso, só ela O viu então, porque só ela ficou
a procurá-l’O. Na verdade, a eficácia das boas obras está na perseverança, como
afirma também a voz da Verdade: Quem perseverar até ao fim será salvo.
Começou
a buscar e não encontrou; continuou a procurar e finalmente encontrou. Os
desejos foram aumentando com a espera e fizeram que chegasse a encontrar.
Porque os desejos santos crescem com a demora; mas os que esfriam com a dilação
não são desejos autênticos. Todas as pessoas que chegaram à verdade,
conseguiram-no porque lhe dedicaram um amor ardente. Por isso afirmou David: A
minha alma tem sede do Deus vivo; quando irei contemplar a face de Deus? Por
isso também diz a Igreja no Cântico dos Cânticos: Estou ferida pelo amor. E
ainda: A minha alma desfalece.
Mulher,
porque choras? Quem procuras? É interrogada sobre a causa da sua dor, para que
aumente o seu desejo e, ao mencionar ela o nome de quem procurava, mais se
inflame no amor que Lhe tem.
Disse-lhe
Jesus: Maria! Depois de a ter tratado pelo nome comum de “mulher”, sem que ela
O tenha reconhecido, chamou-a pelo nome próprio. Foi como se lhe dissesse
abertamente: “Reconhece Aquele que te conhece a ti. Não é de modo genérico que
te conheço, mas pessoalmente”. Por isso Maria, ao ser chamada pelo seu nome,
reconhece quem lhe falou; e imediatamente lhe chama “Rabbúni”, isto é,
“Mestre”. Era Ele a quem procurava externamente e era Ele quem a ensinava
interiormente a procurá-l’O e a divulgá-l’O.
Quase
desde sempre as mulheres eram excluídas da sucessão. Quando contraiam matrimónio
recebiam um dote, constituído de bens que seriam administrados pelo marido. O
casamento era um pacto entre duas famílias, o seu objectivo era simplesmente a
procriação. A mulher era, ao mesmo tempo, doada e recebida, como um ser
passivo.
O
marido que amasse excessivamente a sua esposa era visto como adúltero (luta
constante entre o amor platónico e o amor físico/carnal, defendido, também, no
Renascimento). Não deveria usá-la como se fosse uma prostituta. A mulher não
podia tratar o marido como se ele fosse o seu amante. Através do casamento, o
corpo da mulher passava a pertencer ao seu esposo. Mas a alma dela deveria
sempre permanecer na posse de Deus.
Para
a maioria dos pensadores da IdadeMédia, a palavra latina que designava o sexo
masculino – Vir –, lembrava-lhes “Virtus”, isto é, força, rectidão,
virtude. Para Mulier, o termo que designava o sexo feminino lembrava –Mollitia
–, relacionada à fraqueza, à flexibilidade e à simulação.
A
mulher deveria ser vista como submissa, pois, era temida. Considerava-se que a
mulher era o pecado, a carne fraca. O casamento não tinha, como objectivo unir
pessoas que se amassem, ou dar prazer a alguma das partes, mas sim o propósito
da procriação.
A
mulher, quando se casava, simplesmente trocava de homem ao qual tinha de se
submeter – de pai para, depois, marido.
A
prostituição era considerada um “mal necessário”, pois curava vontades de
jovens e clérigos, mas ainda assim as prostitutas eram, tal como ainda hoje,
marginalizadas da sociedade.
Em
algumas doutrinas diferentes do catolicismo a mulher poderia ter os mesmos
direitos que os homens; todavia, embora a religião tenha evoluído bastante a
partir da contra-reforma, a mulher continuava a ser discriminada pela Igreja.
Parece
que o Papa Francisco continua solitário nesta grande tarefa. Creio, contudo,
que a igualdade de género está para breve. Cristo escolheu uma mulher – Maria
Madalena – para testemunhar a sua ressurreição e divulgar aos outros apóstolos
este feito, em primeira mão.
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