Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos, que pode o povo
qu'rer um mundo novo a
sério
Sem querer fazer juízos de valor ou, tão pouco, especular
sobre os interesses obscuros que estão por detrás do "Negócio" da RTP
(venda, oferta, pagamento-de-promessa, favor, etc.), lembrei-me de António
Aleixo e da simplicidade dos seus versos na análise profunda e magnânima da
sociedade; principalmente, dos poderosos opressores.
Lembrei-me, outrossim, do contraste deste homem – grande, na
sua simplicidade – com a pequenez, mediocridade e incompetência daqueles que –
não passando de meras marionetas – se arrogam a senhores do mundo…
Assim, à laia de desabafo, reproduzo alguns versos de
António Aleixo – eloquente saber popular que ofuscaria, hoje, os "doutores"
que nos governam.
Aleixo, esse sim!…Tinha créditos para ser doutor, não o foi.
Mostrou somente a grandeza da sua simplicidade.
Sei que pareço um ladrão…
mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer o que são,
são aquilo que eu
pareço.
Eu já não sei o que faça
p'ra juntar algum dinheiro;
se te vendesse a desgraça
já hoje eu era
banqueiro.
Tu não me emprestas dinheiro
porque não tenho vintém;
mas se to pede um banqueiro
quer vinte,
ofereces-lhe cem.
Desce à escala a que pertenço
que, com certeza, acharás
muito justo o mal que penso
dos que estão onde tu
estás.
Entre leigos ou letrados,
fala só de vez em quando,
que nós, ás vezes, calados,
dizemos mais que
falando.
Homem que te julgas fino
sem qu'rer que alguém em ti mande,
tornas-te mais pequenino
sempre que te julgas
grande.
Que o mundo está mal, dizemos,
e vai de mal a pior;
e, afinal, nada fazemos
p'ra que ele seja
melhor.
Como és vil, humanidade!…
não olhas para as desventuras:
as chagas da sociedade,
podes curar, e não
curas