Recebi, via e-mail, um soneto de José Régio que transcrevo a seguir. Não o conhecia (o próprio título o considera quase inédito…). Todavia, chamo a atenção para o ano da sua escrita – 1969 – Crise Académica, iniciada em Coimbra (17 de Abril).
Em 1969 não havia liberdade de expressão ou de opinião. Hoje, ainda há… Mas, até quando?
Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.
Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.
E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,
Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos – só! – por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.
JOSÉ RÉGIO, Soneto escrito em 1969, no dia de uma reunião de antigos alunos.
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