Tenho uma dificuldade enorme em qualificar aquilo que uma
grande parte dos patrões das pequenas e médias empresas portuguesas, nos dias
de hoje, exercem sobre os seus trabalhadores. Passo a explicar:
Até há três décadas atrás – tal como hoje ainda o são –, as
pequenas e médias empresas eram o suporte económico do país. A única diferença
residia nas forças aglutinadoras das equipas laborais/empresariais que giravam
em torno de valores motivadores próprios. Essas empresas eram, na sua
esmagadora maioria, empreendimentos familiares que, graças ao altruísmo, ao
respeito pelo “pater familiæ”, mercê do aproveitamento
qualitativo/laboral gerado pelo casamento com elementos mais qualificados que
até então gravitavam fora da família, graças à boa vontade gerada pelo “senhor da terra” em valorizar o lugar
onde cresceu e desenvolveu a sua actividade, garantiam, para além da
subsistência dos seus trabalhadores, o empenho destes no crescimento e
valorização da mesma. Estes princípios básicos eram, por si sós, garantes de
fidelização de emprego e funcionavam como autênticos factores de motivação –
que mais não fossem, como factores de subsistência e segurança.
Hoje, os gestores destas
empresas, abrangidos pelo fenómeno da globalização, pela aquisição de novos conhecimentos,
pelo emprego dos seus descendentes academicamente valorizados (que, apesar de
tudo, não são garantia de competência, além de lhes faltar experiência e
contacto com outras realidades), contagiados pela incompetência e irresponsabilidade
de quem os governa e envolvidos nas querelas dos sistemas político/partidários,
têm vindo a modificar-se. A filosofia é explorar, controlar, dominar – exercendo, em muitos casos, terrorismo
social ou escravatura…
Acontece, ainda,
que estes empresários – outrora, patrões – começaram a empregar os filhos, as
noras e os genros nas suas estruturas empresariais. Acredito que, inicialmente,
com a intenção de descansarem um pouco mais, considerando que a sua empresa
ficaria bem entregue à nova geração de gestores. Todavia, o problema agrava-se
porque, por um lado, “não estão
preparados para as mudanças” (segundo pensam) e, por outro, sentem a “impreparação” ou “falta de experiência” (como costumam classificar) dos seus “colaboradores” o que, na maior parte dos
casos, não corresponde à realidade. Em suma, têm medo… Medo de perderem o
poder.
Tenho lido diversos artigos em que se consideram como activo
mais importante das organizações os colaboradores. Mas, será que no dia-a-dia
das empresas esses trabalhadores são valorizados como qualquer outro activo do empreendimento?
Parece-me que não. O ser humano acaba por não ser valorizado
como realmente deveria ser; talvez por falta de tempo dos gestores, falta de
habilidade da liderança ou até mesmo falta de preparação. Tudo isso são
desculpas dadas pelos patrões para justificar a incompetência em lidar com
pessoas. Mas, principalmente, porque estão subjugados ao domínio do poder
financeiro.
Valorizar (e motivar) o ser humano não é só pagar um bom
salário ou ter um pacote de benefícios atraente; trata-se de saber lidar com
vidas, com pessoas que têm sentimentos, vontades e anseios próprios diferentes.
Os trabalhadores mais talentosos buscam na empresa respeito,
carinho, reconhecimento, acompanhamento, feedback. Alguns procuram
crescimento, desafios; outros, segurança. Mas uma coisa é certa: todos querem
ser valorizados como seres humanos.
Vivemos numa era globalizada, em que cada vez mais se exige
do colaborador velocidade e agilidade em todas as tarefas, buscando
incessantemente conseguir resultados para a empresa. Essas exigências trazem consequências
boas e más.
As consequências boas:
- O profissional aprende a procurar a informação e a actualizar-se
a cada segundo;
- O crescimento profissional não tem fronteiras;
- A exigência do mercado é para que se seja cada vez mais
generalista e menos especialista na sua profissão, com conhecimentos bem
diversificados.
As consequências más:
- O profissional passa a ser testado e avaliado a cada
tarefa e, em muitos casos, o histórico
dele não é tomado em consideração;
- A exigência é cada vez maior sobre o acerto e a perfeição:
esquece-se de que se lida com pessoas imperfeitas, que normalmente aprendem com
os próprios erros. É necessário criar mecanismos para avaliar essa aprendizagem
e para que erros passados não sejam cometidos novamente;
- Exige-se cada vez mais o aumento da velocidade na realização
das tarefas e nas informações.
Valorizar pessoas é uma das principais virtudes do líder
moderno que deverá ser influenciador, servidor, participativo e que obtém
resultados com e para as pessoas.
Para conseguir esta valorização não são necessariamente
obrigatórios grandes investimentos, mas as atitudes que os líderes e gestores
têm com a sua equipa. Isso fará toda a diferença. O líder tem que agir com
respeito, sinceridade, carinho e empatia para com todos os seus colaboradores,
sem excepção, mas, principalmente, não ignorando os mais qualificados.
Quando se lidera ou gere uma organização tem de se ter
sempre bem presente que a sua postura e comportamento deverá ser o espelho da
equipa. Todas as acções praticadas pelo
gestor (ou patrão) reflectirão positiva ou negativamente nos seus colaborares.
Se o gestor tiver
atitudes, palavras e pensamentos éticos em prol “seu pessoal” a organização terá o sucesso esperado por todos;
caso contrário, é o fracasso total da organização, embora não seja perceptível
no início.
Mas, ainda mais
grave, é quando se valoriza a última “aquisição”
(escolha pessoal e/ou familiar do patrão), colocando-a nos píncaros da eficácia
e da eficiência sem que até então tenha dado quaisquer provas. Este elemento –
como é sabido por todos – é, tão só, os “ouvidos”
e “olhos” do inseguro patrão.
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