sábado, 3 de agosto de 2013

ACTIVOS HUMANOS: TERRORISMO SOCIAL – ESCRAVATURA?




Tenho uma dificuldade enorme em qualificar aquilo que uma grande parte dos patrões das pequenas e médias empresas portuguesas, nos dias de hoje, exercem sobre os seus trabalhadores. Passo a explicar:

Até há três décadas atrás – tal como hoje ainda o são –, as pequenas e médias empresas eram o suporte económico do país. A única diferença residia nas forças aglutinadoras das equipas laborais/empresariais que giravam em torno de valores motivadores próprios. Essas empresas eram, na sua esmagadora maioria, empreendimentos familiares que, graças ao altruísmo, ao respeito pelo “pater familiæ”, mercê do aproveitamento qualitativo/laboral gerado pelo casamento com elementos mais qualificados que até então gravitavam fora da família, graças à boa vontade gerada pelo “senhor da terra” em valorizar o lugar onde cresceu e desenvolveu a sua actividade, garantiam, para além da subsistência dos seus trabalhadores, o empenho destes no crescimento e valorização da mesma. Estes princípios básicos eram, por si sós, garantes de fidelização de emprego e funcionavam como autênticos factores de motivação – que mais não fossem, como factores de subsistência e segurança.

Hoje, os gestores destas empresas, abrangidos pelo fenómeno da globalização, pela aquisição de novos conhecimentos, pelo emprego dos seus descendentes academicamente valorizados (que, apesar de tudo, não são garantia de competência, além de lhes faltar experiência e contacto com outras realidades), contagiados pela incompetência e irresponsabilidade de quem os governa e envolvidos nas querelas dos sistemas político/partidários, têm vindo a modificar-se. A filosofia é explorar, controlar, dominar – exercendo, em muitos casos, terrorismo social ou escravatura

Acontece, ainda, que estes empresários – outrora, patrões – começaram a empregar os filhos, as noras e os genros nas suas estruturas empresariais. Acredito que, inicialmente, com a intenção de descansarem um pouco mais, considerando que a sua empresa ficaria bem entregue à nova geração de gestores. Todavia, o problema agrava-se porque, por um lado, “não estão preparados para as mudanças” (segundo pensam) e, por outro, sentem a “impreparação” ou “falta de experiência” (como costumam classificar) dos seus “colaboradores” o que, na maior parte dos casos, não corresponde à realidade. Em suma, têm medo… Medo de perderem o poder.

Tenho lido diversos artigos em que se consideram como activo mais importante das organizações os colaboradores. Mas, será que no dia-a-dia das empresas esses trabalhadores são valorizados como qualquer outro activo do empreendimento?

Parece-me que não. O ser humano acaba por não ser valorizado como realmente deveria ser; talvez por falta de tempo dos gestores, falta de habilidade da liderança ou até mesmo falta de preparação. Tudo isso são desculpas dadas pelos patrões para justificar a incompetência em lidar com pessoas. Mas, principalmente, porque estão subjugados ao domínio do poder financeiro.

Valorizar (e motivar) o ser humano não é só pagar um bom salário ou ter um pacote de benefícios atraente; trata-se de saber lidar com vidas, com pessoas que têm sentimentos, vontades e anseios próprios diferentes.

Os trabalhadores mais talentosos buscam na empresa respeito, carinho, reconhecimento, acompanhamento, feedback. Alguns procuram crescimento, desafios; outros, segurança. Mas uma coisa é certa: todos querem ser valorizados como seres humanos.

Vivemos numa era globalizada, em que cada vez mais se exige do colaborador velocidade e agilidade em todas as tarefas, buscando incessantemente conseguir resultados para a empresa. Essas exigências trazem consequências boas e más.

As consequências boas:
- O profissional aprende a procurar a informação e a actualizar-se a cada segundo;
- O crescimento profissional não tem fronteiras;
- A exigência do mercado é para que se seja cada vez mais generalista e menos especialista na sua profissão, com conhecimentos bem diversificados.

As consequências más:
- O profissional passa a ser testado e avaliado a cada tarefa e, em muitos casos, o histórico dele não é tomado em consideração;
- A exigência é cada vez maior sobre o acerto e a perfeição: esquece-se de que se lida com pessoas imperfeitas, que normalmente aprendem com os próprios erros. É necessário criar mecanismos para avaliar essa aprendizagem e para que erros passados não sejam cometidos novamente;
- Exige-se cada vez mais o aumento da velocidade na realização das tarefas e nas informações.

Valorizar pessoas é uma das principais virtudes do líder moderno que deverá ser influenciador, servidor, participativo e que obtém resultados com e para as pessoas.

Para conseguir esta valorização não são necessariamente obrigatórios grandes investimentos, mas as atitudes que os líderes e gestores têm com a sua equipa. Isso fará toda a diferença. O líder tem que agir com respeito, sinceridade, carinho e empatia para com todos os seus colaboradores, sem excepção, mas, principalmente, não ignorando os mais qualificados.

Quando se lidera ou gere uma organização tem de se ter sempre bem presente que a sua postura e comportamento deverá ser o espelho da equipa. Todas as acções praticadas pelo gestor (ou patrão) reflectirão positiva ou negativamente nos seus colaborares.

Se o gestor tiver atitudes, palavras e pensamentos éticos em prol “seu pessoal” a organização terá o sucesso esperado por todos; caso contrário, é o fracasso total da organização, embora não seja perceptível no início.

Mas, ainda mais grave, é quando se valoriza a última “aquisição” (escolha pessoal e/ou familiar do patrão), colocando-a nos píncaros da eficácia e da eficiência sem que até então tenha dado quaisquer provas. Este elemento – como é sabido por todos – é, tão só, os “ouvidos” e “olhos” do inseguro patrão.


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