terça-feira, 27 de agosto de 2013

O DISCURSO DELES…





Depois das constantes mentiras, dos vis discursos enganadores, das contínuas promessas por cumprir, do malévolo apregoar de miseráveis expectativas, como de boas se tratassem, apeteceu-me chamar os piores nomes a esta corja que tanto mal nos tem feito. O que mais martelava a minha cabeça era a fantasia da ascendência maternal deles. Não que quisesse visar as mães, pois entendo que qualquer mãe (enquanto tal) merece o meu respeito; mas como expressão tradicional do léxico popular (que, em muitos casos até tem uma conotação positiva). Numa inspiração momentânea, “googlei” para ver a abrangência do termo. E – maravilha das maravilhas – encontrei este poema de Alberto Pimenta. É o retrato perfeito. Ora vejam:

Discurso do filho-da-puta
O pequeno filho da puta
é sempre
um pequeno filho da puta;
mas não há filho da puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,
diz o pequeno filho da puta.
No entanto, há
filhos-da-puta que nascem
grandes e filhos da puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho da puta.
De resto,
os filhos da puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o pequeno filho da puta.
O pequeno
filho da puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno
filho da puta.
No entanto,
o pequeno filho da puta
tem orgulho
em ser
o pequeno filho da puta.
Todos os grandes
filhos da puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno
filho da puta,
diz o pequeno filho da puta.
Dentro do
pequeno filho da puta
estão em ideia
todos os grandes filhos da puta,
diz o
pequeno filho da puta.
Tudo o que é mau
para o pequeno
é mau
para o grande filho da puta,
diz o pequeno filho da puta.
O pequeno filho da puta
foi concebido
pelo pequeno senhor
à sua imagem
e semelhança,
diz o pequeno filho da puta.
É o pequeno filho da puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho da puta,
diz o
pequeno filho da puta.
De resto,
o pequeno filho da puta vê
com bons olhos
o engrandecimento
do grande filho da puta:
o pequeno filho da puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho da puta.

II

O grande filho da puta
também em certos casos começa
por ser
um pequeno filho da puta,
e não há filho da puta,
por pequeno que seja,
que não possa
vir a ser
um grande filho da puta,
diz o grande filho da puta.
No entanto,
há filhos da puta
que já nascem grandes
e filhos da puta
que nascem pequenos,
diz o grande filho da puta.
De resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o grande filho-da-puta.
O grande filho da puta
tem uma grande
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o grande filho da puta.
Por isso
o grande filho da puta
tem orgulho em ser
o grande filho da puta.
Todos
os pequenos filhos da puta
são reproduções em
ponto pequeno
do grande filho da puta,
diz o grande filho da puta.
Dentro do
grande filho da puta
estão em ideia
todos os
pequenos filhos da puta,
diz o
grande filho da puta.
Tudo o que é bom
para o grande
não pode
deixar de ser igualmente bom
para os pequenos filhos da puta,
diz
o grande filho da puta.
O grande filho da puta
foi concebido
pelo grande senhor
à sua imagem e
semelhança,
diz o grande filho da puta.
É o grande filho da puta
que dá ao pequeno
tudo aquilo de que ele
precisa para ser
o pequeno filho da puta,
diz o
grande filho da puta.
De resto,
o grande filho da puta
vê com bons olhos
a multiplicação
do pequeno filho da puta:
o grande filho da puta
o grande senhor
Santo e Senha
Símbolo Supremo
ou seja,
o grande filho da puta.”
Poema de Alberto Pimenta

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