Faço hoje, 22 de Julho, 63 anos.
Sou daquela geração:
· Que, quando bebés, os pais não tinham que dar de comer aos filhos (final da 2ª Guerra Mundial), porque não havia;
· Que era impedida de se reunir com os seus amigos, livremente, na rua, durante a adolescência (“vamos a circular. Qualquer ajuntamento superior a 2 pessoas é uma multidão… temos que reprimir as multidões… – dizia o guarda, quando nos interpelava);
· Sobre quem pairou o espectro da morte anunciada na guerra colonial;
· A quem ditadura impediu o acesso ao saber, à cultura, ao conhecimento;
· Que lutou pelos seus ideais com denodo, coerência e convicção (desde o Maio de 1968 e passando pelas revoltas estudantis de 1968 e 1969…);
· Que aprendeu e desenvolveu a solidariedade.
Conquistei a liberdade com muita luta. Sofri, lutei e, com o restante povo, alcancei o que queria – ser livre! Em 25 de Abril de 1974.
Aprendi a democracia! Sim, a democracia aprende-se. Aprende-se, respeitando os outros e as minorias; aprende-se, quando somos convencidos (que não vencidos) pela vontade da maioria e a transformamos num objectivo pessoal; aprende-se quando, livremente, escolhemos as organizações que nos representam e, democraticamente, lutamos na defesa dos nossos ideais.
Desde o Estado Novo, no período revolucionário e, já em democracia, sempre pugnei pelo respeito dos direitos humanos, pela liberdade de opinião e pela afirmação do homem como valor fundamental da sociedade.
Não é o homem que deve servir as organizações, mas sim as organizações que devem contribuir para o seu bem-estar. As organizações foram criadas pelo homem para seu benefício; são um meio estruturado posto ao serviço da sociedade.
Os partidos políticos já aprenderam alguma coisa sobre democracia, mas falta-lhes aprender muito sobre ética. Quando falo em ética (ou à falta dela), não me refiro somente a quem não cumpriu o prometido, mas, também, àqueles que, intimamente reconhecendo as impossibilidades de fazer cumprir o apalavrado, desgastam as maiorias eleitoras, combatendo por promessas desajustadas, contrárias ao interesse das populações.
Reconheço que quem, voluntariamente, se escusar a votar (a escolher quem o represente), deveria aceitar quaisquer decisões que proviessem da maioria; desde que essa maioria respeitasse a vontade do eleitorado e não fosse manipulada, a posteriori, por interesses e arranjinhos que não estavam consignados nos programas eleitorais – promessas que levaram os eleitores a escolher. Todavia, os que, votando, não são representados pela maioria, deveriam poder fazer ouvir a sua opinião e as suas críticas. Esta manifestação de vontade seria (ou deveria ser) feita pelos partidos e em sede própria. Este exercício deveria pautar-se pelo respeito dos eleitores, isto é, os partidos deveriam estar obrigados a cumprir e a fazer cumprir as promessas feitas ao eleitorado, salvo se este cumprimento, por motivos até então imprevistos, fosse contrário aos interesses do próprio povo.
Sou da geração que vive o espectro da regressão, que permitiu que o poder fosse conquistado por homens sem coluna vertebral, que, antes da real consolidação da liberdade, adormeceu – se calhar cansado da luta…
Quero acordar e, com os meus filhos e com os meus netos, reconquistar a Liberdade e o Direito de Ser Feliz. Não por mim – que já sei o quanto é bom ser feliz e já conheci liberdade –, mas por eles!
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