domingo, 22 de fevereiro de 2015

CAMUFLAR A MENTIRA




Como diz Francisco Seixas da Costa, no “duas ou três coisas”: «o destino político da senhora ministra [das Finanças – Maria Luís Albuquerque] estará, daqui a meses, na mão dos portugueses. E esses, a seu tempo, dirão de sua justiça. Só que, até lá, a senhora ministra não tem um mandato que lhe permita, ainda que temporalmente, conspurcar fora de portas o nome do país honrado em que exerce funções. Alguém deveria conseguir explicar à senhora ministra que o espectáculo a que se prestou ao lado do seu colega alemão foi de uma indignidade, quase sem par, na representação externa do Estado. Deixar-se utilizar como instrumento comparativo por parte de Berlim na sua cruzada de isolamento da Grécia configurou uma das mais tristes figuras que alguma vez vi fazer a um governante português na ordem externa – e, podem crer!, já vi bastantes e bem lamentáveis. E prolongar essa atitude no Eurogrupo, para entrar no "quadro de honra" com que Berlim premeia os "alunos" bem comportados, ajudando cobardemente à humilhação de um país também amigo e aliado, provocou um incómodo muito raro no país, ao que se diz até nas hostes da maioria. Este governo – e meço as palavras – consegue, dia após dia, surpreender-nos na sua capacidade de rebaixar a dignidade do Estado que circunstancialmente titula».

Ou, como ela própria afirma: “Não sugeri a alteração de uma única vírgula”… Expresso.

Ninguém, que eu saiba, acusou Maria Luís Albuquerque de sugerir alteração de vírgulas. Não é a alteração simples do texto que está em causa. É, de entre outras coisas, o facto de bastante antes da conferência de imprensa dada por Yanis Varoufakis (que teve início pelas 20:45, hora de Lisboa), já a SKAY TV grega ter referido as pressões exercidas pelos ministros das Finanças espanhol e português durante a reunião do Eurogrupo (citada em The Guardian, às 19:31). E é a própria imprensa alemã a noticiar que MLA terá discutido a questão previamente com Schäuble.

Deveras, MLA disse (ou terá dito) a verdade – não sugeriu a alteração de uma única vírgula. Pois não… Limitou-se a rebaixar a dignidade do Estado que circunstancialmente titula. Não mentiu, camuflou a verdade. Com a verdade, tenta (ainda, apesar do descrédito) enganar-nos.

Situações deste género, confrontadas com as do Primeiro-ministro, do Vice-primeiro-ministro, do Ministro dos Negócios Estrangeiros, do Ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, sobre o “problema grego” indiciam uma permanente manipulação da verdade e a tentativa de ridicularizar-nos cada vez mais.

Resta-nos a consolação de nos estarmos a aproximar do fim deste pesadelo. Espero que até ao princípio do próximo ano Portugal recuperemos a sua dignidade.


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