segunda-feira, 2 de abril de 2012

ILITERACIA


O termo iliteracia provém do termo Inglês "illiteracy" e, de certa forma, é a falta de capacidade de perceber e interpretar o que está escrito. O significado é diferente de analfabetismo. O analfabeto é aquele que não possui a habilidade de compreender o código da língua.

Segundo Kirsch, Jungeblut, Jenkins e Kolstad (Adult Literacy in America: a First Look at the Results of the National Adult Literacy Survey, Washington, National Center for Education Statistics - 1993), literacia é a "capacidade de utilizar informação escrita e impressa para responder às necessidades da vida em sociedade, para alcançar objectivos pessoais e para desenvolver os conhecimentos e os potenciais próprios".

Em 1979, Lyman (em "Literacy education as library community services" - 1979) define literacia como “a habilidade de compreender matérias, ler criticamente, usar materiais complexos e aprender por si mesmo”.

Em Portugal, a introdução e vulgarização do conceito na esfera pública remonta a meados dos anos 90 do século XX e a um estudo coordenado por Ana Benavente, A Literacia em Portugal: Resultados de Uma Pesquisa Extensiva e Monográfica. No documento é explicitado que não se trata de saber o que é que as pessoas aprenderam ou não, mas sim de saber o que é que, em situações da vida, as pessoas são capazes de usar ("CIES e-Working Paper N.º 110/2011" – do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia – "Literacia(s) e literacia mediática", Ana Paula Cristina Lopes).

Segundo Ana Benavente e outros, "não se pode traçar uma correspondência absoluta entre 'níveis de instrução formal' e 'níveis de literacia' ".

Poder-se-á, talvez, complementar que a iliteracia será um novo tipo de “analfabetismo funcional” – uma “nova pobreza”.

Patrícia Ávila – Doutorada em Sociologia, pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) – afirma que, em Portugal, “os défices de escolarização que afectam a grande maioria da população são reforçados e agravados por níveis de literacia desses mesmos indivíduos ainda mais baixos do que seria de prever, o que leva a que as desigualdades sociais neste campo específico sejam das mais elevadas entre os países estudados”.

Segundo "The International Adult Literacy Survey" (IALS), o perfil de literacia dominante da população portuguesa corresponde ao nível mais baixo, como se mostra no quadro seguinte:

Níveis de Literacia
Literacia em prosa
Literacia documental
Literacia quantitativa
Nível 1
48%
49.1%
41.6%
Nível 2
29%
31%
30,2%
Nível 3
18,5%
16,6%
23%
Nível 4 e 5
4,4%
3,2%
5,2%

Cerca de 80% da população portuguesa situa-se nos níveis 1 e 2.

Ricardo Jorge – médico, investigador e higienista, professor de Medicina e introdutor em Portugal das modernas técnicas e conceitos de saúde pública – disse: "O maior mal não é o analfabetismo, é o iletrismo das classes dirigentes". Queria, com esta afirmação, dizer que o maior mal não é o povo não saber ler, mas os dirigentes do país não terem capacidade de interpretar os textos que lêem, como leis, contratos, processos que assinam, muitas das vezes, sem ter conhecimento pleno do que se trata.

E, setenta anos depois de proferir essa frase sobre a iliteracia das classes dirigentes, a situação mantém-se…

Vejam o que temos como dirigentes…!

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