Sou adepto de um clube de Futebol. Quer ele perca, quer ganhe, a minha simpatia, a minha afeição e a minha dedicação mantém-se. Posso criticar as escolhas do treinador, a forma de jogar de um qualquer jogador, mas, à parte isso, a minha paixão mantém-se; mais, dificilmente aceito críticas de adeptos de outros clubes. Festejo, quando ganha; tento justificar as derrotas, quando estas acontecem. A isto tudo chamo paixão clubística.
Esta relação que tenho com o meu clube de Futebol é exclusiva do futebol (eventualmente de um outro desporto qualquer); ou, melhor, é exclusiva da afinidade com a associação clubística, que se confronta tão-só com os resultados alcançados nas diversas competições em que participa.
Tal como eu, muita gente pensa e age assim.
Grave é quando se confundem partidos políticos e a própria equipa governamental com clubes de Futebol.
Os partidos políticos, através dos seus programas e da sua própria ideologia agregam, em determinados momentos, cidadãos: uns aderem às suas linhas ideológicas e filiam-se; outos, não se filiando, simpatizam com as linhas programáticas e, através do voto, expressam a sua opção para que estes partidos os representem em determinado momento.
Não o fazem para que os partidos compitam num hipotético torneio, mas para que os representem, garantindo o cumprimento das linhas programáticas apresentadas; são os programas políticos que garantem os votos aos partidos (não são os pontos conquistados na competição).
Os governos que, em democracia, são fruto de uma votação sustentada nas promessas de fazerem cumprir os programas apresentados, têm a sua expressão no resultado dos votos; isto é:
1 - se a maioria dos votos em determinado partido for superior ao somatório de todos os outros, teremos um governo de maioria absoluta;
2 - se a maioria dos votos não for superior ao somatório de todos os outros, teremos um governo de maioria relativa;
3 - se duas, ou mais, forças políticas se coligarem no intuito de transformarem uma maioria relativa em maioria absoluta (principalmente se este facto acontecer depois das eleições) é o desvirtuamento da vontade dos eleitores;
4 - mas, se essas forças coligadas esquecerem as promessas dos seus programas eleitorais e não cumprirem com o prometido, no mínimo, é traição e abuso de confiança…
Os governantes que governam apoiados no vil embuste e no incumprimento permanente dos seus programas só o conseguem fazer porque a reacção dos eleitores é semelhante à dos adeptos dos clubes de futebol.
Pior, os representantes desse povo eleitor de boa-fé – os deputados –, no parlamento comportam-se como claques organizadas.
Acho que já é tempo das pessoas despertarem para a realidade. As reacções e os comportamentos políticos não devem ser semelhantes às do futebol. No futebol reagimos com paixão e condescendemos com o nosso clube, defendendo-o, a todo o custo, de terceiros.
Na política, o nosso clube é o povo. Se os mandatados para o gerir não cumprirem ou se nos enganarem… só há uma solução – cartão vermelho.
Em política e, principalmente, na governação de um País não há "clubites"; há vidas humanas e herança cultural que não se pode destruir, custe o que custar…!