Meu irmão Fernando
Fazes, hoje, 62 anos. Como seria bom, passados que são estes anos, reveres-te numa situação mais confortável porque te abeiras rapidamente da idade da reforma. A reforma – e como lembro a do nosso pai – deveria ser um corolário de uma vida em que se contribuiu para a restante sociedade; os descontos que foram feitos para a segurança social permitiram garantir a aposentação dos mais antigos e, principalmente, acautelar o futuro de cada um. Infelizmente, não será isto o que te oferecem no teu aniversário.
Ao longo dos anos, antevia a possibilidade de um dia, sem grandes transtornos ou preocupações (os filhos já crescidos…) pudéssemos dedicar mais tempo à realização e concretização dos nossos prazeres de convívio fraternal, como quando éramos novos; reviver, de forma mais madura, algumas experiências de viagens e férias outrora experimentadas; poder visitar-te (e receber-te, em minha casa) sem condicionalismos de tempo, afazeres ou, mesmo, disponibilidade…
Como eu criei ilusões…!
Hoje, queria poder dar-te a esperança. Infelizmente este meu desejo foi-me sonegado. A esperança já não existe; ou, se subsiste, foi-nos furtada.
O que, além de mais é triste, é o facto de que os usurpadores da nossa esperança deveriam ter a obrigação de no-la dar, em vez de a subtrair. A sua ignóbil maldade, coadjuvada por despudorada incompetência de governação, ameaçam, até, a nossa possibilidade de sonhar.
Meu irmão, parabéns! Não posso oferecer-te a esperança, pois já não a tenho; mas quero dar-te, com muito amor, uma sugestão – Sonha! – pois o sonho comanda a vida e poderá trazer-te a concretização das tuas expectativas…
Já nem sonhos te posso oferecer, mas tão só, a possibilidade de sonhares. Se esse sonho que tiveres for a possibilidade de acabar com quem me furtou a esperança, chama-me…! prontamente responderei ao teu apelo e, em conjunto, recrearemos a vida.