Um candidato a PM, por um partido que aspira a ser governo,
tem a noção dos tempos e não gasta o seu latim pesado numa campanha prévia,
numa disputa interna, um ano antes das eleições (João Miguel Tavares, aqui).
Um candidato a PM não se deve desgastar com promessas
futuras, defesa de projectos à distância e apontar para resoluções a tomar
daqui a mais de um ano, desconhecendo como estará a situação concreta dos
acontecimentos, findo esse período de tempo – é muito tempo para analisar o
comportamento do actual governo, sabendo a forma como trampolinam os factos e as
realidades.
Um candidato a PM deve preocupar-se, isso sim (enquanto
candidato, à distância de um ano), com a análise dos acontecimentos actuais, com
a denúncia das iniquidades que afectam os cidadãos, com a competência e as
provas dadas, promovendo, na análise dos eleitores, a antevisão da sua gestão, quando
for PM.
Todavia, um óbice se nos apresenta – o veículo de
divulgação. Esse veículo é, de um modo geral, a comunicação social, o tipo de jornalismo praticado e de comentadores escolhidos. Em suma, a manipulação da informação. Longe vai o tempo em que era condição
suficiente para a verosimilhança da narrativa que determinado acontecimento ou
facto tivesse sido veiculado pela televisão ou por determinado jornal.
Os jornalistas trabalham num regime de “liberdade vigiada”. A
sua autonomia é limitada pelas posições editoriais que os profissionais da
imprensa devem seguir. As notícias são elaboradas e editadas em redacções
hierarquizadas que exercem forte coerção sobre quem produz e o que é produzido
dentro delas. A imprensa histórica tem compromissos com os interesses
corporativos e comerciais que ela deve acolher e isso compromete a sua
credibilidade aos olhos da crítica e do público. (Luís
Carlos Lopes [1])
Como escreve Estrela Serrano, no “Vai e Vem” (aqui),
“uma explicação para esta súbita fixação dos jornalistas no “concreto” quando
falam com António Costa está talvez no facto de pretenderem contrariar a ideia,
corrente até há pouco, de que Costa tem “boa imprensa”. A demarcação surge
então sob a forma de um jornalismo agressivo ou sob a (nova) forma de um
jornalismo que, à falta de melhor termo, se pode chamar “jornalismo concreto”.
Como resolver…? – Não sei!
Todavia, quanto mais penso numa solução, mais me lembro de
Guerra Junqueiro:
“Um povo imbecilizado
e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta
de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma
rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as
orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se
lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que
eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência
como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio
escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica
e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem
palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida
íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de
toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao
roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença
geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder
legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do
moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio
da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem
ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo
utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,
iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e
fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem
todos duma vez na mesma sala de jantar” [2].
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