quarta-feira, 16 de julho de 2014

NENHUM DOS SOBREVIVENTES MORREU…!




Estamos a sair da crise…!

Sem grandes preocupações ou já sem necessidade de o justificar, o governo vai acabando com a crise.

Dois casos:

1º Caso – a Fome
«Os hospitais Amadora-Sintra e Pedro Hispano, em Matosinhos, registaram casos de grávidas ou crianças que ficaram internadas para se alimentarem.

Alguns hospitais portugueses estão a receber grávidas e crianças com fome que, por vezes, acabam por ser internados para suprir as suas necessidades alimentares. A realização de alguns exames médicos, como o CTG (que mede a frequência cardíaca do feto e as contracções), é posta em causa pela falta de alimentação, já que se a mãe não estiver alimentada o feto não está reactivo.

O Ministro da Saúde, Paulo Macedo, anunciou, esta semana, que está em curso uma "uma revisão da legislação para que todos os casos de carácter social possam ser tratados na sua esfera própria, que é a social"». (aqui)

Mas… Até agora, onde eram tratados…? Ou não passavam fome, ou regiam-se por normas normais de sobrevivência, à margem das leis – em suma, simplesmente viviam.

2º Caso – a Saúde

«Dois doentes morreram enquanto esperavam por uma intervenção no Hospital Santa Cruz, alegadamente por falta de dispositivos médicos devida a “limitações administrativas”, denunciou hoje a Ordem dos Médicos, com base na denúncia de clínicos da unidade de saúde.

[…] Além destas duas mortes, os médicos do Hospital de Santa Cruz que efectuaram a denúncia à Ordem garantem que a Unidade de Intervenção Cardiovascular “ficou sem capacidade de resposta desde o dia 04 de Julho por falta de manutenção e material”». (aqui)


Será isto acabar com a crise…?

Por este andar, quando conseguirem acabar com a crise, poucos sobreviventes restarão. Poderão, então, apregoar aos quatro ventos que nenhum dos sobreviventes morreu…! Todos os sobreviventes se salvaram…!


quarta-feira, 9 de julho de 2014

O FUTEBOL – RELIGIÃO SECULAR MUNDIAL




O presente Campeonato Mundial de Futebol que se realiza no Brasil, bem como outros grandes eventos futebolísticos, semelhante ao mercado, assumem características, próprias das religiões. Para milhões de pessoas o futebol, o desporto que possivelmente mais mobiliza no mundo, ocupou o lugar que comumente detinha a religião. Estudiosos da religião, somente para citar dois importantes como Emile Durkheim e Lucien Goldmann, sustentam que “a religião não é um sistema de ideias; é antes um sistema de forças que mobilizam as pessoas até levá-las à mais alta exaltação”(Durckheim).

A fé vem sempre acoplada à religião. Esse mesmo clássico afirma no seu famoso “As formas elementares da vida religiosa”: “A fé é antes de tudo calor, vida, entusiasmo, exaltação de toda a actividade mental, transporte do indivíduo para além de si mesmo”(p.607). E conclui Lucien Goldamnn, sociólogo da religião e marxista pascaliano: “crer é apostar que a vida e a história tem sentido; o absurdo existe mas ele não prevalece”.

Ora, se bem reparamos o futebol para muita gente preenche as características religiosas: fé, entusiasmo, calor, exaltação, um campo de força e uma permanente aposta de que seu time vai triunfar.

A espectacularização da abertura dos jogos lembra uma grande celebração religiosa, carregada de reverência, respeito, silêncio, seguido de ruidoso aplauso e gritos de entusiasmo. Ritualizações sofisticadas, com músicas e encenações das várias culturas presentes no país, apresentação de símbolos do futebol (estandartes e bandeiras), especialmente a taça que funciona como um verdadeiro cálice sagrado, um santo Graal buscado por todos. E há, valha o respeito, a bola que funciona como uma espécie de hóstia que é comungada por todos.

No futebol como na religião, tomemos a católica como referência, existem os onze apóstolos (Judas não conta) que são os onze jogadores, enviados para representar o país; os santos referenciais como Pelé, Garrincha, Beckenbauer, Eusébio, Ronaldo e outros; existe outrossim um Papa que é o presidente da FIFA, dotado de poderes quase infalíveis. Vem cercado de cardeais que constituem a comissão técnica responsável pelo evento. Seguem os arcebispos e bispos que são os coordenadores nacionais da Copa. Em seguida aparece a casta sacerdotal dos treinadores, estes portadores de especial poder sacramental de colocar, confirmar e tirar jogadores. Depois emergem os diáconos que formam o corpo dos juízes, mestres-teólogos da ortodoxia, vale dizer, das regras do jogo e que fazem o trabalho concreto da condução da partida. Por fim vêm os acólitos – os “bandeirinhas” – que ajudam os diáconos.
O desenrolar de uma partida suscita fenómenos que ocorrem também na religião: gritam-se jaculatórias (palavras de ordem), chora-se de comoção, fazem-se rezas, promessas divinas, figas e outros símbolos da diversidade religiosa brasileira. Santos fortes são aí evocados e invocados.

Existe até uma Santa Inquisição, o corpo técnico, cuja missão é zelar pela ortodoxia, dirimir conflitos de interpretação e eventualmente processar e punir jogadores.

Como nas religiões e igrejas existem ordens e congregações religiosas, assim há as “torcidas organizadas”. Elas têm os seus ritos, os seus cânticos e a sua ética.

Há famílias inteiras que escolhem morar perto do Estádio que funciona como uma verdadeira igreja, onde os fiéis se encontram e comungam seus sonhos. Tatuam o corpo com os símbolos do clube; a criança nem acaba de nascer, mas a porta da incubadora já vem ornada com os símbolos do clube, quer dizer, recebe já aí o baptismo que jamais deve ser traído.

Considero razoável entender a fé como a formulou o grande filósofo e matemático cristão Blaise Pascal, como uma aposta: se aposta que Deus existe tem tudo a ganhar; se de facto não existe, não tem nada a perder. Então é melhor apostar de que exista. O adepto vive de apostas (cuja expressão maior é a lotaria desportiva) de que a sorte beneficiará a equipa ou de que outra coisa, no último minuto do jogo, tudo pode virar e, por fim, ganhar por mais forte que for o adversário. Como na religião há pessoas referenciais, da mesma forma vale para os craques.

Na religião existe a doença do fanatismo, da intolerância e da violência contra outra expressão religiosa; o mesmo ocorre no futebol: grupos de um clube agridem outros do clube concorrente. Os autocarros são apedrejados. E podem ocorrer verdadeiros crimes, de todos conhecidos, que claques organizadas e de fanáticos que podem ferir e até matar adversários de outro clube concorrente.

Para muitos, o futebol transformou-se numa cosmovisão, uma forma de entender o mundo e de dar sentido à vida. Alguns são sofredores quando seu clube perde e eufóricos quando ganha.

Há jogadores que são geniais artistas de criatividade e habilidade. Não sem razão, o maior filósofo do século XX, Martin Heidegger, não perdia um jogo importante, pois via, no futebol a concretização de sua filosofia: a contenda entre o Ser e o Ente, enfrentando-se, negando-se, compondo-se e constituindo o imprevisível jogo da vida, que todos jogamos.

Adaptado de Leonardo Boff.


terça-feira, 8 de julho de 2014

UM TUFÃO QUE AMEAÇA OS EUROPEUS




E se de repente a Europa começasse a pensar em baixar os impostos relacionados com o trabalho, em Portugal; a Alemanha criasse um salário mínimo nacional (€ 1.496,00) … enfim, desconfiaríamos. Será que pretendem garantir a observância de uma certa estabilidade financeira (que não económica) para cumprir acordos…?

– Tratado Transatlântico.

Vejamos o que se poderá “especular”, depois de se ler o artigo de Lori Wallachi, Directora da Public Citizen’s Global Trade Watch (Washington), publicado no Le Monde diplomatique (edição portuguesa).

“Iniciadas em 2008, as discussões sobre o Acordo de Comércio Livre entre o Canadá e a União Europeia foram concluídas a 18 de Outubro. Um bom presságio para o governo americano, que espera concluir uma parceria deste tipo com o Velho Continente. Este projecto, negociado em segredo e intensamente apoiado pelas multinacionais, permitirá que estas processem os Estados que não se verguem às normas do liberalismo”.

Será imaginável que multinacionais processem judicialmente os governos cuja orientação política tenha o efeito de diminuir os seus lucros? Será concebível que elas possam exigir – e conseguir! – uma generosa compensação por ganhos cessantes (não realizados), induzida por um direito do trabalho demasiado constrangedor ou por uma legislação ambiental demasiado espoliadora? Por inverosímil que pareça, este cenário não é novo. Ele estava já presente, com toda a clareza, no Projecto de Acordo Multilateral sobre o Investimento (AMI) negociado secretamente entre 1995 e 1997 pelos vinte e nove Estados-membros da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Divulgado “in extremis”, nomeadamente pelo Le Monde diplomatique, o texto suscitou uma vaga de protestos sem precedentes, forçando os seus promotores a retirá-lo. Passados quinze anos, eis que regressa com novas roupagens.

O Acordo de Parceria Transatlântica (APT), negociado desde Julho de 2013 pelos Estados Unidos e pela União Europeia, é uma versão modificada do AMI. Prevê que as legislações em vigor dos dois lados do Atlântico se verguem às normas do comércio livre estabelecidas por e para as grandes empresas europeias e norte-americanas, sob pena de sanções comerciais para os países infractores ou de reparações de vários milhões de euros em benefícios dos queixosos.

Segurança dos alimentos, normas de toxicidade, seguros de saúde, preço dos medicamentos, liberdade da Internet, protecção da vida privada, energia, cultura, direitos de autor, recursos naturais, formação profissional, equipamentos públicos, imigração: não há qualquer domínio de interesse geral que escape à vergonha do comércio livre institucionalizado.

Eis alguns assuntos que, com as suas gravíssimas implicações, não foram descurados pelos “outorgantes”:

- Tribunais especialmente criados

- Processo por aumento do salário mínimo

- A “injusta” rejeição da carne de porco com ractopamina

E se, de repente, os grandes da Europa começassem a viajar (em negócios) por países fora do TTA  (por exemplo, a China) …?

– Não, não é Impulse…! Talvez… esperteza… ou poder…

Está já estipulado que os países signatários deverão assegurar a “colocação em conformidade das suas leis, regulamentos e procedimentos” com as disposições do tratado. Ninguém duvida que procurarão honrar escrupulosamente este compromisso. No caso contrário, poderiam ser alvo de processos judiciais num dos tribunais especialmente criados para arbitrar os litígios entre os investidores e os Estados, que serão dotados do poder de sentenciar sanções comerciais contra estes últimos.

Enfim…! É o que nos espera.

O projecto de grande mercado americano-europeu é defendido há muitos anos pelo Diálogo Económico Transatlântico (Trans-Atlantic Business Dialogue, TABD), um lóbi hoje mais conhecido pela designação de Trans-Atlantic Business Council (TABC). Criado em 1995 com o patrocínio da Comissão Europeia e do Ministério do Comércio norte-americano, este grupo de ricos empresários milita a favor de um “diálogo” altamente construtivo entre as elites económicas dos dois continentes, a administração de Washington e os comissários de Bruxelas. O TABC é um fórum permanente que permite às multinacionais coordenarem os seus ataques contra as políticas de interesse geral que ainda se mantêm de pé dos dois lados do Atlântico.


segunda-feira, 7 de julho de 2014

O BANQUEIRO



Este texto seguinte, escrito por Craig-James Moncur, ilustra bem o que é a trapalhada de banqueiros e poderosos. Somente a incompetência de uns e a “zanga de comadres” permitiu que pudéssemos pôr os pés no chão e tenuemente vislumbrássemos um resquício do poder medonho que nos escraviza.


Vejamos o texto e o vídeo de "O Banqueiro", de Craig-James Moncur, interpretado por Mike Daviot:

Olá. O meu nome é Montague William III. O que vos vou contar pode parecer absurdo; mas, quantos menos acreditarem, melhor para mim. É que, sabem, eu estou na finança e na grande indústria.

Por muitos anos controlámos as vossas vidas, enquanto muitos de vós lutam e sofrem. Nós criámos as coisas que vocês, de facto, não necessitam: os carros desportivos, as modas e os plasmas…

Lembro-me, com clareza, como tudo começou – segredos de família de pai para filho. Conhecimento herdado, que me dá a vantagem.

Enquanto vós, camponeses, digo, pessoas jazem a dormir à noite nas vossas camas, nós controlamos o dinheiro que controla as vossas vidas. Enquanto vocês adoram falsos ídolos e não pensam duas vezes em vender as vossas almas por um lugar ao sol – estas coisas que não interessarão quando a vossa hora chegar. Mas enquanto eles lá estiverem para controlar as massas, eu apenas me reclino e pondero os meus activos, seguro na certeza de que tudo possuo, enquanto vós, pessoas comuns, perdem os vossos empregos. Estão a ver, por vós apenas tenho o máximo desprezo.

Mas o sorriso na minha face torna-me isento porque eu tenho a arma da televisão global que nos une e convida à empatia. Vocês acreditarão genuinamente que nós temos os vossos interesses em mente. Mas, se vocês vissem isso então tomariam de volta o poder. Daí os terrores diários que vos amedrontam; os pânicos e os colapsos bolsistas, as guerras e as doenças que impedem que encontrem a vossa integridade espiritual. Nós deturpamos o jogo; nós compramos ambos os lados para vos manter escravos nas vossas tristes vidas. Por isso, vão e trabalhem à medida que o vosso relógio perde corda. E quando tudo estiver acabado, a uns anos da cova, olharão para tudo isto e, apenas nessa altura, verão que a vossa vida foi nada – uma mera fantasia.

Há muito poucas coisas que nós não controlamos. Possuir os advogados e a polícia sempre foi um objectivo, cumprindo os nossos propósitos à medida que marcham na rua; mas eles nunca se aperceberão que são apenas gado, pois o poder real reside nas mãos de uns poucos.

Vocês votaram por partidos; que mais poderiam fazer? Mas o que vocês não sabem é que eles são um e o mesmo. O velho Gordon passou as rédeas ao velho David e vocês seguirão o líder que foi lá posto por vós.

O vosso sangue corre vermelho, enquanto o nosso corre azul; mas vocês simplesmente não vêem – faz tudo parte do jogo.

Outra distracção como o dinheiro e a fama. Preparem-se para as guerras em nome dos livres: Vacinas para doenças que nunca o serão, o assalto às impressionáveis mentes das vossas crianças e um mundo “microchipado” vocês nem darão luta. A supressão de informação manter-vos-á em sentido. O despovoamento de camponeses sempre foi o nosso objectivo; mas, a eugenia não foi o que nós esperávamos que fosse.

Oh sim, fomos nós quem financiou os Nazis! Mas, desde que sejamos donos de todos os media, o que realmente está a acontecer não vos diz respeito. Por isso continuem apenas a ver a vossa televisão de plasma e o mundo será governado por aqueles que vocês não podem ver”.




sexta-feira, 4 de julho de 2014

CARLOS DO CARMO, PARABÉNS!




Agora, sim…! Consigo perceber a dimensão do prémio atribuído a Carlos do Carmo. A sua dimensão, a exemplo do Prémio Nobel atribuído a José Saramago, não foi tomado em consideração por Cavaco Silva – transcendem-no.

Este reconhecimento que o mundo, na sua globalidade cultural, atribuiu a Carlos do Carmo – como já o fizera a José Saramago – supera a capacidade do primeiro magistrado da nação. A grandeza destes reconhecimentos – Prémios – está muito acima da compreensão do presidente; talvez não seja por mal, simplesmente não os compreende…

Carlos do Carmo, parabéns pelo prémio cujo reconhecimento está muito acima da compreensão dos “simples” (de compreensão)… Se fosse futebol (mesmo perdendo) talvez tivesse direito a um “telefonemazinho” a felicitá-lo (como o fez o presidente americano à sua equipa).

Todavia, estranho, porque é um prémio que também reconhece o Fado… Mas a sua arte, Carlos do Carmo, não se enquadra na trilogia do passado – Fado, Fátima e Futebol. Aquilo que o Carlos nos tem dado é Arte. Não pode esperar que todos a compreendam (principalmente os… vá lá… facciosos.