Durante o
Estado Novo, apesar do infame exercício da censura, muitos homens e mulheres punham
em risco a sua liberdade para conseguirem informar as populações. Faziam-no com
a consciência da importância dos seus actos; para eles, a informação era uma
arma fundamental para a conquista da liberdade e, consequentemente, da
democracia. Foi assim que se foi consciencializando as gentes deste povo cujos
filhos estavam condenados à morte nas guerras coloniais, iludidos com os estribilhos
"pela defesa da Pátria".
Foi este
enorme trabalho – mais do que trabalho, missão – que homens e mulheres
abnegados formaram o espírito que tornou possível fazer o 25 de Abril. Não
foram os militares que fizeram a Revolução – iniciaram-na. O povo, já
sensibilizado ao longo de anos pelos jornalistas de então, despertou e deu
seguimento ao movimento iniciado pelos capitães – fez a revolução.
Hoje, o jornalismo
desta estirpe acabou. A grande maioria dos actuais jornalistas (e quero
ressalvar algumas digníssimas e raras excepções) é constituída por técnicos de
comunicação, ao serviço de algumas instituições de duvidosa credibilidade e
fazendo-se passear nas passerelles
para assessores governamentais. São quase todos (apesar dos seus vinte e poucos
anos) especialistas em "qualquer
coisa", que mais não seja em obedecer cegamente ao seu patrono na tentativa de ludibriar os
demais.
E é por isto
que, apesar de vivermos na era das tecnologias da comunicação e da informação,
as notícias e os acontecimentos não são conhecidos ou, no mínimo, são
manipulados para iludir as pessoas ávidas de informação.
Exemplo do
que acabo de referir é este episódio em que Pedro Marques, nas Comissões de Orçamento,
Finanças e Administração Pública e Segurança Social e Trabalho, fez uma
avaliação demolidora da gestão de Mota Soares no Ministério da Solidariedade e
Segurança Social.
Vídeo do
Parlamento – Comissões de Orçamento, Finanças e Administração Pública e
Segurança Social e Trabalho
Noutros
tempos, este bloco informativo seria muitíssimo mais divulgado e os
comportamentos do Ministro sobejamente denunciados. Todavia, hoje, tal não
acontece. A comunicação do acontecimento passa em directo, num canal de televisão
por cabo, num país cujo interior nem sequer televisão tem, depois da instalação
da TDT.
Os actuais
jornalistas já não informam, nem mesmo "sensacionalisticamente", para dizer que o governo (que, no
máximo, representará 25% do eleitorado) quer eliminar paulatinamente os mais
desfavorecidos.
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