– Coitado! Nunca imaginei…
– Mas, é a realidade… As pessoas parecem uma coisa, mas, lá no fundo vivem uma outra vida; é um drama permanente que leva a isto…
– Ele tinha assim tantos problemas que conduzisse a isto…?
– Estava sempre disposto a ajudar os outros; toda a gente podia contar com ele; havia, sempre, uma palavra de conforto para qualquer um… No entanto, vivia solitário com os seu problemas. A quem ele ajudou, se calhar, nunca se preocupou em reparar na mão estendida de quem dá. Por vezes, essa mesma mão estendida é o sinal de quem precisa…
– Que idade tinha ele…?
– De sofrimento, por volta de sessenta anos. De alegrias – parcas e pontuais de quem dá – dificilmente se contabilizam, pois diluem-se no esquecimento de quem recebe; talvez da infância e, mesmo essa, nem toda… Talvez dois ou três anos…
– Se eu soubesse, teria feito qualquer coisa para o ajudar… Há sempre uma solução…
– De certeza que esta não era a solução que ele quereria; mas, foi a que encontrou, depois de se lhe fecharem todas as portas…
– Mas, de qualquer maneira, nada justifica o suicídio…!
– Excepto o sofrimento…
Este poderia ser o diálogo ocorrido no velório de um dos suicidas, em cada vez maior número. Diálogos destes poderão ocorrer se, rapidamente, o governo não inverter o sentido da sua governação na destruição avassaladora da classe média. O sofrimento das pessoas é cada vez maior. Roubam-lhes Deus, a Pátria e a Humanidade. E, quando esta última lhes é subvertida, com ela cai a dignidade; e, com esta, o sentido da vida e a justificação de viver…
O alerta é-nos dado pelo aumento exponencial de suicídios nos últimos tempos. As pessoas valem mais do que estratégias políticas e económicas, na vã tentativa de justificar teorias pouco credíveis na defesa do capital. Uma vida vale mais que qualquer dívida, mesmo que esta seja a de um país. Principalmente quando se sabe que as dívidas dos países não são para se pagarem – são para se ir gerindo…!
Sem comentários:
Enviar um comentário