… ou aleijão…
Como definição, algoritmo é uma sequência finita de instruções
bem definidas e não ambíguas, as
quais podem ser executadas mecanicamente
num período de tempo finito e com uma quantidade finita de esforço.
Um algoritmo é um esquema de resolução de um problema. Pode
ser implementado com qualquer sequência de valores ou objectos que tenham uma
lógica infinita (por exemplo, a língua portuguesa, a linguagem Pascal, a
linguagem C, uma sequência numérica, um conjunto de objectos tais como lápis e
borracha), ou seja, qualquer coisa que possa fornecer uma sequência lógica.
Poder-se-á considerar que a gramática de uma qualquer língua (inclusive a língua portuguesa) é
um exemplo bem expressivo de algoritmo.
Mas, atenção…! A nossa gramática portuguesa, a gramática
imposta por decreto-lei é excepção. A nossa gramática não se estrutura como um
algoritmo.
Vejamos:
1. Para se considerar como um algoritmo teria de ser uma sequência finita de instruções;
e, cada dia que passa, há um acrescentar de alterações que não se prevê acabarem.
2. Teria de se subordinar a instruções bem definidas e não ambíguas; no caso vertente do
acordo ortográfico, as instruções estão extremamente mal definidas, o
universo de aplicação está indefinido e indeterminado e as suas normas são
incrivelmente ambíguas.
3. As prerrogativas algorítmicas determinam como condição que
as instruções possam ser executadas
mecanicamente num período de tempo finito; neste caso concreto, as regras (instruções)
não podem ser executadas mecanicamente num período de tempo finito porque, não sendo
conhecidas nem aceites pela esmagadora maioria dos intérpretes da língua, pura
e simplesmente não podem ser executadas…
Para melhor compreender o universo da aplicação do AO – condição para se definir a
universalidade da gramática portuguesa na utilização da língua portuguesa – eis
um texto bem sintomático do que é o Acordo Otográfico da língua portuguesa:
"O português falado em Angola tem
características específicas e varia de província para província. Tem uma beleza
única e uma riqueza inestimável para os angolanos mas também para todos os
falantes. Tal como o português que é falado no Alentejo, em S. Salvador da Baía
ou em Inhambane tem características únicas. Todos devemos preservar essas
diferenças e dá-las a conhecer no espaço da CPLP. A escrita é
"contaminada" pela linguagem coloquial, mas as regras gramaticais, não.
Se o étimo latino impõe uma grafia, não é aceitável que através de um qualquer
acordo ela seja simplesmente ignorada. Nada o justifica, Se queremos que o
português seja uma língua de trabalho na ONU, devemos, antes do mais, respeitar
a sua matriz e não pô-la a reboque do difícil comércio das palavras".
[Jornal de Angola, Editorial de 9 de Fevereiro de 2012]
Como diz Paulo
Franchetti (crítico literário, escritor e professor brasileiro, titular
no Departamento de Teoria Literária da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
em entrevista ao blogue "Tantas
Páginas":
"O acordo ortográfico é um aleijão.
Linguisticamente malfeito, politicamente mal pensado, socialmente mal
justificado e finalmente mal implementado.
Foi conduzido, aqui no Brasil, de modo palaciano: a universidade não
foi consultada, nem teve participação nos debates (se é que houve debates além dos
que talvez ocorram durante o chá da tarde na Academia Brasileira de Letras), e
o governo apressadamente o impôs como lei, fazendo com que um acordo para
unificar a ortografia vigorasse apenas aqui, antes de vigorar em Portugal.
O resultado foi uma norma cheia de buracos e defeitos, de eficácia
duvidosa. Não sei a quem o acordo interessa de fato. A ortografia brasileira
não será igual à portuguesa.
[…] Já Portugal deu uma prova inequívoca de fraqueza ao se submeter ao interesse
localista brasileiro, apesar da oposição muito forte de notáveis intelectuais,
que, muito mais do que aqui, argumentaram com brilho contra o texto e os
objetivos (ou falta de objetivos legítimos) do acordo."
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