quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

ALGORITMO



… ou aleijão…



Como definição, algoritmo é uma sequência finita de instruções bem definidas e não ambíguas, as quais podem ser executadas mecanicamente num período de tempo finito e com uma quantidade finita de esforço.

Um algoritmo é um esquema de resolução de um problema. Pode ser implementado com qualquer sequência de valores ou objectos que tenham uma lógica infinita (por exemplo, a língua portuguesa, a linguagem Pascal, a linguagem C, uma sequência numérica, um conjunto de objectos tais como lápis e borracha), ou seja, qualquer coisa que possa fornecer uma sequência lógica.

Poder-se-á considerar que a gramática de uma qualquer língua (inclusive a língua portuguesa) é um exemplo bem expressivo de algoritmo.

Mas, atenção…! A nossa gramática portuguesa, a gramática imposta por decreto-lei é excepção. A nossa gramática não se estrutura como um algoritmo.

Vejamos:
1. Para se considerar como um algoritmo teria de ser uma sequência finita de instruções; e, cada dia que passa, há um acrescentar de alterações que não se prevê acabarem.

2. Teria de se subordinar a instruções bem definidas e não ambíguas; no caso vertente do acordo ortográfico, as instruções estão extremamente mal definidas, o universo de aplicação está indefinido e indeterminado e as suas normas são incrivelmente ambíguas.

3. As prerrogativas algorítmicas determinam como condição que as instruções possam ser executadas mecanicamente num período de tempo finito; neste caso concreto, as regras (instruções) não podem ser executadas mecanicamente num período de tempo finito porque, não sendo conhecidas nem aceites pela esmagadora maioria dos intérpretes da língua, pura e simplesmente não podem ser executadas…

Para melhor compreender o universo da aplicação do AO – condição para se definir a universalidade da gramática portuguesa na utilização da língua portuguesa – eis um texto bem sintomático do que é o Acordo Otográfico da língua portuguesa:

"O português falado em Angola tem características específicas e varia de província para província. Tem uma beleza única e uma riqueza inestimável para os angolanos mas também para todos os falantes. Tal como o português que é falado no Alentejo, em S. Salvador da Baía ou em Inhambane tem características únicas. Todos devemos preservar essas diferenças e dá-las a conhecer no espaço da CPLP. A escrita é "contaminada" pela linguagem coloquial, mas as regras gramaticais, não. Se o étimo latino impõe uma grafia, não é aceitável que através de um qualquer acordo ela seja simplesmente ignorada. Nada o justifica, Se queremos que o português seja uma língua de trabalho na ONU, devemos, antes do mais, respeitar a sua matriz e não pô-la a reboque do difícil comércio das palavras". [Jornal de Angola, Editorial de 9 de Fevereiro de 2012]

Como diz Paulo Franchetti (crítico literário, escritor e professor brasileiro, titular no Departamento de Teoria Literária da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em entrevista ao blogue "Tantas Páginas":

"O acordo ortográfico é um aleijão. Linguisticamente malfeito, politicamente mal pensado, socialmente mal justificado e finalmente mal implementado.

Foi conduzido, aqui no Brasil, de modo palaciano: a universidade não foi consultada, nem teve participação nos debates (se é que houve debates além dos que talvez ocorram durante o chá da tarde na Academia Brasileira de Letras), e o governo apressadamente o impôs como lei, fazendo com que um acordo para unificar a ortografia vigorasse apenas aqui, antes de vigorar em Portugal.

O resultado foi uma norma cheia de buracos e defeitos, de eficácia duvidosa. Não sei a quem o acordo interessa de fato. A ortografia brasileira não será igual à portuguesa.

[…] Já Portugal deu uma prova inequívoca de fraqueza ao se submeter ao interesse localista brasileiro, apesar da oposição muito forte de notáveis intelectuais, que, muito mais do que aqui, argumentaram com brilho contra o texto e os objetivos (ou falta de objetivos legítimos) do acordo."


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