O
Castelo de Soure terá sido edificado ainda antes do início da Fundação de
Portugal.
Numa
segunda abordagem Salvado remonta a edificação (ou reconstrução) do Castelo de
Soure após a segunda reconquista de Coimbra, em 1064, por D. Fernando I, o
Magno, rei de Leão. Mais precisamente Salvado refere que o castelo terá sido
erguido por D. Sesnado Davides, um moçárabe que ser terá tornado concelheiro de
D. Fernando o Magno quando a reconquista de Coimbra.
O
Castelo de Soure terá nascido nesta segunda abordagem, pela necessidade de
organizar a defesa da cidade de Coimbra das investidas muçulmanas posicionadas
a sul do Mondego. Surgem nessa altura seis castelos: Sta. Eulália
(Montemor-o-Velho), Montemor-o-Velho, Soure, Penela, Miranda do Corvo e Lousã.
Construído
na confluência de dois rios, o Anços e o Arunca este assumia uma enorme
importância, porque permitia controlar: a antiga estrada romana Olisipo (Lisboa)
– Aeminum (Coimbra) – Bracara Augusta (Braga),
uma das estradas medievais mais utilizadas para as incursões, quer muçulmanas,
quer cristãs; permitia também controlar o rio Arunca, que até à época medieval
foi navegável por barcos de pequeno calado entre Soure e Alfarelos (junto ao
rio Mondego), escoando por essa via os produtos da região (trigo, centeio,
cevada, azeite, vinho, linho, cânhamo, mel, cera, caça e pesca). Soure era um
ponto essencial em termos geoestratégicos para a defesa meridional de Coimbra.
A
necessidade do garantir o controlo fluvial sobre o rio Arunca originou a sua
edificação numa zona baixa, ao contrário de outros castelos. Tratava-se de um
“Castelo de Muro” construído numa península protegida por dois rios. É difícil
perceber como terá sido esta fortificação naquela época pois o seu estado actual
apresenta-se alterado após muitos danos sofridos ao longo do tempo. Para o
especialista em história militar medieval Mário Jorge Barroca, tendo por base
os elementos arquitectónicos e arqueológicos existentes, a primeira edificação
teria um formato rectangular conforme descrição com maior detalhe descrita por
Mário Barroca, tendo por base um texto encomendado por D. Mendo Arias e
redigido cerca de 1147-1150 por Salvado (monge de Sta Cruz).
Foi
neste espaço que em Junho de 1111 D. Teresa e D Henrique outorgaram a Carta de
Foral à Vila de Soure e incentiva a fixação de povos junto desta zona
fronteiriça com os muçulmanos.
Esta
estrutura ter-se-á mantido inalterada até 1116 quando os habitantes
conhecedores da aproximação das forças almorávidas, que já tinham atacado,
saqueado e destruído os castelos de Stª Eulália (junto a Montemor-o-Velho) e
Miranda do Corvo, incendiaram o castelo e refugiaram-se em Coimbra, evitando
assim que a fortaleza caísse nas mãos das forças muçulmanas e fosse utilizado
como apoio a outras intervenções militares.
Em
novembro de 1122, D. Teresa, viúva do Conde D. Henrique, numa tentativa de
repovoar a vila abandonada e assegurar a defesa militar de Coimbra, doou o
Castelo de Soure ao conde Fernão Peres de Trava (um nobre galego). O pouco
interesse do conde galego levou a que D. teresa no ano seguinte doa-se
novamente, em “préstamo”, ao cavaleiro Gonçalo Gonçalves (mordomo de D. Teresa
em Viseu).
Em
1123 por determinação do bispo de Coimbra, Martinho de Áreas veio para Soure,
como pároco, reconstruir a comunidade cristã. Martinho de Áreas terá então
reparado a antiga igreja que estava abandonada em estado de ruína junto ao
Castelo de Soure, dando-lhe o nome de Igreja de Santa Maria (em homenagem á
terra de onde era proveniente o clérigo). Edificada junto ao Castelo porventura
protegida por muralhas externas que formavam um Adro. Esta igreja possuía um
arco que faria a comunicação entre o piso superior do castelo e o primeiro
andar da igreja, que dispunha também de um telheiro. Esta igreja seria também
conhecida como igreja de Santa Maria de Finisterra ou de Nossa senhora de
Finisterra, hoje, apenas existem as ruinas deste monumento bem como algumas
pedras encontradas em locais diversos nas proximidades.
Em
19 de março de 1128 D. Teresa entregou o Castelo de Soure à Ordem dos
Templários. A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo foi fundada em Jerusalém em
meados de 1118, por um grupo de cavaleiros de origem francesa, com o objectivo
de proteger a Terra Santa dos ataques muçulmanos. Dez anos depois, em Janeiro
de 1128, S. Bernardo de Claraval redige e a regra da Ordem do Templo que é
promulgada no Concilio de Troyes, formalizando assim a Ordem do Templo. A 19
março de 1128, cerca de dois meses depois da Criação da Ordem, D. Teresa
entrega o castelo de Soure aos Templários, tornando-se assim a primeira sede do
Templo em Portugal e também um dos primeiros castelos possuídos pelos
Templários na Europa. A sua localização numa zona meridional do Condado
Portucalense foi estratégica no apoio á reconquista cristã. D. Teresa terá
doado aos Templários todas as terras que estiveram sobre o domínio muçulmano
desde Coimbra até Leiria. Um ano depois, D. Afonso Henriques confirmou essa
doação e afirma-se no texto de doação como Irmão da Ordem
“(…)
esta doação faço, não por mando, ou persuasão de alguém, (…) e porque em a
vossa Irmandade sou Irmão (…). Eu o Infante D. Afonso com a minha própria mão
roboro esta carta.“
(excerto
da carta de doação de Soure por D. Afonso Henriques à Ordem dos
Templários, 13 de Março de 1129).
Os
Templários permaneceram no castelo de Soure, como sede da ordem, de 1128 até
1160-69.
O
seu primeiro alcaide e mester da Ordem terá sido D. Guilherme Ricardo
(cavaleiro franco), isto segundo frei Joaquim de Santa Viterbo, este mestre
terá sido, ainda em 1128, substituído por D. Raymundo Bernardo.
O
2.º mestre D. Raymundo Bernardo terá dirigido a ordem e iniciado a reconstrução
do castelo de Soure até 1140.
3.º
mestre D. Pedro Froilar no ano de 1140 – 1143
4.º
mestre D.Ugo de Martonio (Hugues de Montoire), de 1143 a1147
5.º
mestre D. Pedro Arnaldo, de 1147-1157
6.º
apartir de 1157 D. Gualdim de Paes
As
tarefas desempenhadas pelos templários em Soure iniciaram-se em 1128 com o
mestre D. Raymundo Bernardo.
A
primeira tarefa foi a reconstrução do Castelo de Soure: Numa primeira fase com
a construção de duas torres, uma a sudoeste e outra a sudeste, ambas de planta
quadrada, uma das quias ainda existe nos nossos dias. A torre sobrevivente
permitia o acesso ao segundo andar do castelo. Nesta torre foi usada na sua
construção um ajimez, de origem árabe ou visigótica (depende do historiador),
reaproveitado de um velho mosteiro de Soure, fundado pelo presbítero João e
seus irmãos no início do seculo XI e por eles doado, em 1043, ao Mosteiro da
Vacariça (este mosteiro terá sido arruinado em 1116 quando os habitantes se
refugiaram em Coimbra utilizando a politica de terra queimada).
A
segunda intervenção surge na década de 1140/1150 com a construção de uma Torre
de Menagem. Com construção de planta sub-rectangular esta torre tem como
principal característica individualizadora, a presença de um alambor, ou seja,
uma estrutura de base reforçada e inclinada em rampa. Segundo Mário Jorge
Barroca esta terá sido a primeira vez que os templários utilizaram esta técnica
arquitectónica da defesa numa fortificação em Portugal, esta solução defensiva
terá sido trazida da terra santa e introduzida nos castelos construídos pelos
templários em território português.
“Para
alem dos muros ainda hoje visíveis, o castelo teria um outro plano de muralha,
uma espécie de cerca, que contornaria o espaço denominado Adro”. Ainda é
visível junto à parede externa da Torre de Menagem, na proximidade da porta que
dá acesso a alcáçova, o sito de arranque desse muro (“alias parte da entrada
dessa muralha foi encontrada alguns anos durante as escavações para a
construção de uma piscina a poucas dezenas de metros do castelo), Neste
sentido, a fortificação seria constituída por duas áreas distintas: por um
lado, uma cerca externa que protegia o núcleo original do povoado, nomeadamente
a igreja de Santa Maria; por outro lado, a alcáçova, ou seja, a zona habitada
pelos Templários e que englobava um espaço retangular com dois pisos, duas torres
de defesa a sul e a torre de Menagem a nordeste.
Os
templários organizaram militarmente e economicamente o território
circunvizinho, pois eram os senhores dessas terras, que pertenciam a comenda
sourense, e fundaram alguma povoações, como são exemplos a Ega (no concelho de
Condeixa-a-Nova), a Redinha e Pombal (estas duas ultimas terá sido fundadas na
década de 50 já no tempo de Gualdim de Paes, o responsável pela construção do
castelo de Pombal).
Nos
vales do rio Anços os Templários construíram moinhos hidráulicos em Paleão,
Novos e dentro da vila de Soure, ao longo de uma levada – a do Ourão – por eles
aberta. Ainda existe esta levada e alguns deste moinho embora já com alterações
tecnológicas introduzidas no seculo XVI e XVII.
Em
1144, os Templários, travam a primeira batalha, aquando de uma incursão
muçulmana àquela região e os cavaleiros templários são obrigados a intervir.
Não correu muito bem pois perderam a batalha, muitos cavaleiros foram feitos
prisioneiros, inclusive Martinho de Áreas o presbítero de Soure, e são levados
para Santarém (nessa altura sobre domínio árabe). Esta derrota esta na origem
de uma vitória, em Março de 1147, as tropas de D. Afonso Henriques saem de
Coimbra com o objetivo de conquistar Santarém no caminho são reforçados por um
contingente significativo de cavaleiros templários, liderados na altura por D.
Ugo de Martonio que, na expectativa de resgatar os seus irmãos prisioneiros,
vão ter um papel decisivo na conquista de Santarém e depois de Lisboa.
Com
a conquista de Santarém e Lisboa a linha defensiva do reino passa a ser o Tejo
e não o Mondego, os Templários mantem-se no castelo de Soure, mas, deslocam a
sua sede para Sul, primeiro para Santarém e depois já no tempo de Gualdim de
Pais para Tomar.
1217-
Confirmação do foral de Soure por D. Afonso II e D. Urraca
1312,
22 Março – extinção da Ordem dos Templários, seguindo-se a incorporação dos
seus bens na Coroa e “Com a extinção da Ordem, os domínios de Soure e seu
castelo passam para a Ordem de Cristo, através de Bula papal de 14 de Março de
1319, constituindo-se de imediato como cabeça de comenda.”
“Durante
a crise de 1383-1385, a povoação e o seu castelo tomaram o partido pelo Mestre
de Avis. Datarão do período subsequente, entre o século XV e o XVI, obras de
reforma na defesa, conforme o testemunham a configuração das ameias e o segundo
registo na torre Sul.”
A
discrição do castelo de Soure que se encontra no Tombo da Villa de Soure, uma
obra redigida em 1508, onde se revela uma estrutura militar que neste inicio de
seculo (XVI), ainda se preservava num relativo bom estado de conservação. No
entanto tratava-se de uma estrutura esvaziada de valor militar estratégico.
Foram feitas obras de restauro realizadas por D. Manuel I.
1508
– consta no registo de bens móveis e imóveis, rendas, direitos e privilégios de
que a Ordem era detentora, na vila de Soure, o castelo, casas, açougues, Igreja
de Santa Maria de Finisterra, Igreja de Santiago (v. 0615090020), granjas de
São Pedro da Várzea (v.0615090024), de São Tomé, de Alencarce de Baixo e do
Ulmeiro (termo de Montemor-o-Velho, entre outras;
1834
– até esta data pertence à Ordem de Cristo; duas torres são vendidas por João
Ramos Faria ao Conde de Verride, João Lobo Santiago Gouveia;
1880
– moradores dinamitam a torre SO. que ameaçava ruir.
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