sábado, 26 de outubro de 2024

Castelo de Soure

 




O Castelo de Soure terá sido edificado ainda antes do início da Fundação de Portugal.

 Numa primeira abordagem, por José Barbosa Canaes de Figueiredo Castelo-Branco este monumento terá sido construído no século IX, quando o Rei D. Afonso III, rei das Astúrias, concretizou a primeira reconquista de Coimbra e mandou construir uma linha de castelo em sua defesa, estes factos não foram posteriores a 883, época em que já existiam os castelos de Santa Eulália e Montemor-o-Velho, mas não há qualquer registo documental o testemunho arqueológico que testemunhe essa abordagem, apenas uma alusão á vitoria alcançada pelo rei de Oviedo, D. Afonso II (791-842), sobre os mouros, nas margens do rio Anços.

Numa segunda abordagem Salvado remonta a edificação (ou reconstrução) do Castelo de Soure após a segunda reconquista de Coimbra, em 1064, por D. Fernando I, o Magno, rei de Leão. Mais precisamente Salvado refere que o castelo terá sido erguido por D. Sesnado Davides, um moçárabe que ser terá tornado concelheiro de D. Fernando o Magno quando a reconquista de Coimbra.

O Castelo de Soure terá nascido nesta segunda abordagem, pela necessidade de organizar a defesa da cidade de Coimbra das investidas muçulmanas posicionadas a sul do Mondego. Surgem nessa altura seis castelos: Sta. Eulália (Montemor-o-Velho), Montemor-o-Velho, Soure, Penela, Miranda do Corvo e Lousã.

Construído na confluência de dois rios, o Anços e o Arunca este assumia uma enorme importância, porque permitia controlar: a antiga estrada romana Olisipo (Lisboa) – Aeminum (Coimbra) – Bracara Augusta (Braga), uma das estradas medievais mais utilizadas para as incursões, quer muçulmanas, quer cristãs; permitia também controlar o rio Arunca, que até à época medieval foi navegável por barcos de pequeno calado entre Soure e Alfarelos (junto ao rio Mondego), escoando por essa via os produtos da região (trigo, centeio, cevada, azeite, vinho, linho, cânhamo, mel, cera, caça e pesca). Soure era um ponto essencial em termos geoestratégicos para a defesa meridional de Coimbra.

A necessidade do garantir o controlo fluvial sobre o rio Arunca originou a sua edificação numa zona baixa, ao contrário de outros castelos. Tratava-se de um “Castelo de Muro” construído numa península protegida por dois rios. É difícil perceber como terá sido esta fortificação naquela época pois o seu estado actual apresenta-se alterado após muitos danos sofridos ao longo do tempo. Para o especialista em história militar medieval Mário Jorge Barroca, tendo por base os elementos arquitectónicos e arqueológicos existentes, a primeira edificação teria um formato rectangular conforme descrição com maior detalhe descrita por Mário Barroca, tendo por base um texto encomendado por D. Mendo Arias e redigido cerca de 1147-1150 por Salvado (monge de Sta Cruz).

Foi neste espaço que em Junho de 1111 D. Teresa e D Henrique outorgaram a Carta de Foral à Vila de Soure e incentiva a fixação de povos junto desta zona fronteiriça com os muçulmanos.

Esta estrutura ter-se-á mantido inalterada até 1116 quando os habitantes conhecedores da aproximação das forças almorávidas, que já tinham atacado, saqueado e destruído os castelos de Stª Eulália (junto a Montemor-o-Velho) e Miranda do Corvo, incendiaram o castelo e refugiaram-se em Coimbra, evitando assim que a fortaleza caísse nas mãos das forças muçulmanas e fosse utilizado como apoio a outras intervenções militares.

Em novembro de 1122, D. Teresa, viúva do Conde D. Henrique, numa tentativa de repovoar a vila abandonada e assegurar a defesa militar de Coimbra, doou o Castelo de Soure ao conde Fernão Peres de Trava (um nobre galego). O pouco interesse do conde galego levou a que D. teresa no ano seguinte doa-se novamente, em “préstamo”, ao cavaleiro Gonçalo Gonçalves (mordomo de D. Teresa em Viseu).

Em 1123 por determinação do bispo de Coimbra, Martinho de Áreas veio para Soure, como pároco, reconstruir a comunidade cristã. Martinho de Áreas terá então reparado a antiga igreja que estava abandonada em estado de ruína junto ao Castelo de Soure, dando-lhe o nome de Igreja de Santa Maria (em homenagem á terra de onde era proveniente o clérigo). Edificada junto ao Castelo porventura protegida por muralhas externas que formavam um Adro. Esta igreja possuía um arco que faria a comunicação entre o piso superior do castelo e o primeiro andar da igreja, que dispunha também de um telheiro. Esta igreja seria também conhecida como igreja de Santa Maria de Finisterra ou de Nossa senhora de Finisterra, hoje, apenas existem as ruinas deste monumento bem como algumas pedras encontradas em locais diversos nas proximidades.

Em 19 de março de 1128 D. Teresa entregou o Castelo de Soure à Ordem dos Templários. A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo foi fundada em Jerusalém em meados de 1118, por um grupo de cavaleiros de origem francesa, com o objectivo de proteger a Terra Santa dos ataques muçulmanos. Dez anos depois, em Janeiro de 1128, S. Bernardo de Claraval redige e a regra da Ordem do Templo que é promulgada no Concilio de Troyes, formalizando assim a Ordem do Templo. A 19 março de 1128, cerca de dois meses depois da Criação da Ordem, D. Teresa entrega o castelo de Soure aos Templários, tornando-se assim a primeira sede do Templo em Portugal e também um dos primeiros castelos possuídos pelos Templários na Europa. A sua localização numa zona meridional do Condado Portucalense foi estratégica no apoio á reconquista cristã. D. Teresa terá doado aos Templários todas as terras que estiveram sobre o domínio muçulmano desde Coimbra até Leiria. Um ano depois, D. Afonso Henriques confirmou essa doação e afirma-se no texto de doação como Irmão da Ordem

(…) esta doação faço, não por mando, ou persuasão de alguém, (…) e porque em a vossa Irmandade sou Irmão (…). Eu o Infante D. Afonso com a minha própria mão roboro esta carta.

(excerto da carta de doação de Soure por D. Afonso Henriques à Ordem dos Templários, 13 de Março de 1129).

Os Templários permaneceram no castelo de Soure, como sede da ordem, de 1128 até 1160-69.

O seu primeiro alcaide e mester da Ordem terá sido D. Guilherme Ricardo (cavaleiro franco), isto segundo frei Joaquim de Santa Viterbo, este mestre terá sido, ainda em 1128, substituído por D. Raymundo Bernardo.

O 2.º mestre D. Raymundo Bernardo terá dirigido a ordem e iniciado a reconstrução do castelo de Soure até 1140.

3.º mestre D. Pedro Froilar no ano de 1140 – 1143

4.º mestre D.Ugo de Martonio (Hugues de Montoire), de 1143 a1147

5.º mestre D. Pedro Arnaldo, de 1147-1157

6.º apartir de 1157 D. Gualdim de Paes

 

As tarefas desempenhadas pelos templários em Soure iniciaram-se em 1128 com o mestre D. Raymundo Bernardo.

A primeira tarefa foi a reconstrução do Castelo de Soure: Numa primeira fase com a construção de duas torres, uma a sudoeste e outra a sudeste, ambas de planta quadrada, uma das quias ainda existe nos nossos dias. A torre sobrevivente permitia o acesso ao segundo andar do castelo. Nesta torre foi usada na sua construção um ajimez, de origem árabe ou visigótica (depende do historiador), reaproveitado de um velho mosteiro de Soure, fundado pelo presbítero João e seus irmãos no início do seculo XI e por eles doado, em 1043, ao Mosteiro da Vacariça (este mosteiro terá sido arruinado em 1116 quando os habitantes se refugiaram em Coimbra utilizando a politica de terra queimada).

A segunda intervenção surge na década de 1140/1150 com a construção de uma Torre de Menagem. Com construção de planta sub-rectangular esta torre tem como principal característica individualizadora, a presença de um alambor, ou seja, uma estrutura de base reforçada e inclinada em rampa. Segundo Mário Jorge Barroca esta terá sido a primeira vez que os templários utilizaram esta técnica arquitectónica da defesa numa fortificação em Portugal, esta solução defensiva terá sido trazida da terra santa e introduzida nos castelos construídos pelos templários em território português.

“Para alem dos muros ainda hoje visíveis, o castelo teria um outro plano de muralha, uma espécie de cerca, que contornaria o espaço denominado Adro”. Ainda é visível junto à parede externa da Torre de Menagem, na proximidade da porta que dá acesso a alcáçova, o sito de arranque desse muro (“alias parte da entrada dessa muralha foi encontrada alguns anos durante as escavações para a construção de uma piscina a poucas dezenas de metros do castelo), Neste sentido, a fortificação seria constituída por duas áreas distintas: por um lado, uma cerca externa que protegia o núcleo original do povoado, nomeadamente a igreja de Santa Maria; por outro lado, a alcáçova, ou seja, a zona habitada pelos Templários e que englobava um espaço retangular com dois pisos, duas torres de defesa a sul e a torre de Menagem a nordeste.

Os templários organizaram militarmente e economicamente o território circunvizinho, pois eram os senhores dessas terras, que pertenciam a comenda sourense, e fundaram alguma povoações, como são exemplos a Ega (no concelho de Condeixa-a-Nova), a Redinha e Pombal (estas duas ultimas terá sido fundadas na década de 50 já no tempo de Gualdim de Paes, o responsável pela construção do castelo de Pombal).

Nos vales do rio Anços os Templários construíram moinhos hidráulicos em Paleão, Novos e dentro da vila de Soure, ao longo de uma levada – a do Ourão – por eles aberta. Ainda existe esta levada e alguns deste moinho embora já com alterações tecnológicas introduzidas no seculo XVI e XVII.

Em 1144, os Templários, travam a primeira batalha, aquando de uma incursão muçulmana àquela região e os cavaleiros templários são obrigados a intervir. Não correu muito bem pois perderam a batalha, muitos cavaleiros foram feitos prisioneiros, inclusive Martinho de Áreas o presbítero de Soure, e são levados para Santarém (nessa altura sobre domínio árabe). Esta derrota esta na origem de uma vitória, em Março de 1147, as tropas de D. Afonso Henriques saem de Coimbra com o objetivo de conquistar Santarém no caminho são reforçados por um contingente significativo de cavaleiros templários, liderados na altura por D. Ugo de Martonio que, na expectativa de resgatar os seus irmãos prisioneiros, vão ter um papel decisivo na conquista de Santarém e depois de Lisboa.

Com a conquista de Santarém e Lisboa a linha defensiva do reino passa a ser o Tejo e não o Mondego, os Templários mantem-se no castelo de Soure, mas, deslocam a sua sede para Sul, primeiro para Santarém e depois já no tempo de Gualdim de Pais para Tomar.

1217- Confirmação do foral de Soure por D. Afonso II e D. Urraca

1312, 22 Março – extinção da Ordem dos Templários, seguindo-se a incorporação dos seus bens na Coroa  e “Com a extinção da Ordem, os domínios de Soure e seu castelo passam para a Ordem de Cristo, através de Bula papal de 14 de Março de 1319, constituindo-se de imediato como cabeça de comenda.”

“Durante a crise de 1383-1385, a povoação e o seu castelo tomaram o partido pelo Mestre de Avis. Datarão do período subsequente, entre o século XV e o XVI, obras de reforma na defesa, conforme o testemunham a configuração das ameias e o segundo registo na torre Sul.”

A discrição do castelo de Soure que se encontra no Tombo da Villa de Soure, uma obra redigida em 1508, onde se revela uma estrutura militar que neste inicio de seculo (XVI), ainda se preservava num relativo bom estado de conservação. No entanto tratava-se de uma estrutura esvaziada de valor militar estratégico. Foram feitas obras de restauro realizadas por D. Manuel I.

1508 – consta no registo de bens móveis e imóveis, rendas, direitos e privilégios de que a Ordem era detentora, na vila de Soure, o castelo, casas, açougues, Igreja de Santa Maria de Finisterra, Igreja de Santiago (v. 0615090020), granjas de São Pedro da Várzea (v.0615090024), de São Tomé, de Alencarce de Baixo e do Ulmeiro (termo de Montemor-o-Velho, entre outras;

1834 – até esta data pertence à Ordem de Cristo; duas torres são vendidas por João Ramos Faria ao Conde de Verride, João Lobo Santiago Gouveia;

1880 – moradores dinamitam a torre SO. que ameaçava ruir.

 


quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

A IMPORTÂNCIA DO CÂNHAMO AO LONGO DOS TEMPOS



 

O cânhamo é uma planta da família das Cannabaceae, da mesma espécie da planta da maconha (Cannabis sativa), porém, cultivada de forma a ter baixos níveis de THC, o composto psicoactivo encontrado na maconha. No Século XV, o cânhamo era amplamente cultivado e utilizado por várias culturas ao redor do mundo devido às suas diversas aplicações.

Neste Século, o cânhamo era especialmente valorizado pelas suas fibras, que eram utilizadas na produção de tecidos, cordas, velas de navios, papel e outros materiais. As fibras de cânhamo eram conhecidas pela sua durabilidade e resistência, tornando-as ideais para uso em várias aplicações industriais e domésticas.

Além disso, o cânhamo também era utilizado na alimentação e na saúde. As sementes de cânhamo eram consumidas como alimento e eram consideradas nutritivas, ricas em proteínas, ácidos gordos essenciais, vitaminas e minerais. Óleos derivados do cânhamo também eram utilizados em preparações medicinais para tratamentos de diversas condições de saúde, embora as práticas e conhecimentos médicos da época fossem limitados em comparação com os de hoje.

Todavia, no Século XV, o cânhamo desempenhava um papel importante em várias áreas da vida quotidiana, desde a produção de materiais até o uso na alimentação e saúde.

Não há, contudo, evidências históricas concretas que comprovem o uso do cânhamo para mascar por parte dos marinheiros portugueses no Século XV. No entanto, é importante notar que o cânhamo tem sido utilizado ao longo da história de várias maneiras, incluindo como matéria-prima para cordas e tecidos, bem como para usos medicinais e recreativos.

É possível que, devido à presença do cânhamo em navios como matéria-prima para cordas e velas, algumas tripulações pudessem ter acesso à planta e potencialmente experimentá-la de diferentes maneiras, incluindo o mascar. O uso recreativo ou medicinal de cânhamo foi mais documentado outras culturas e períodos históricos.

O uso do cânhamo, tanto para fins recreativos quanto medicinais, tem uma longa história em várias culturas ao redor do mundo. Alguns exemplos incluem:


 

1.     China Antiga: O cânhamo é cultivado há milhares de anos na China, onde era utilizado para produção de tecidos, papel, alimentos e fins medicinais. Há evidências de que o cânhamo era utilizado como remédio para diversas condições de saúde.

2.    Índia Antiga: Na Índia, o cânhamo era cultivado e utilizado há milhares de anos, principalmente para fins medicinais e religiosos. No hinduísmo, o cânhamo é associado ao deus Shiva e é utilizado em rituais religiosos.

3.    Antigo Egipto: Os egípcios cultivavam cânhamo há milhares de anos para produção de tecidos, cordas e papel. O cânhamo também era utilizado com fins medicinais.

4.    Idade Média e Renascimento na Europa: Durante a Idade Média e o Renascimento, o cânhamo era uma cultura importante na Europa, sendo utilizado para produção de tecidos, cordas, velas e papel. Também era valorizado pelas suas propriedades medicinais e alimentícias.

5.     Séculos XVIII e XIX: O cânhamo era uma cultura comum na América do Norte, Europa e outras regiões durante os séculos XVIII e XIX. Nos Estados Unidos, por exemplo, o cânhamo era cultivado principalmente para produção de cordas e tecidos. Além disso, o cânhamo também era utilizado em preparações medicinais e, ocasionalmente, para fins recreativos.

6.    Século XX em diante: O uso recreativo e medicinal do cânhamo e de seus derivados, como o óleo de CBD, tornou-se mais difundido em muitas partes do mundo no século XX e continua até os dias actuais, à medida que mais pesquisas são realizadas sobre seus potenciais benefícios para a saúde.