Para quem ainda não acredita na manipulação da informação.
Contributo para compreender a ética deontológica do
jornalismo em Portugal.
Percebe-se, agora, como se consegue ter no ar, durante mais
de uma hora, jornalistas e comentadores a falar da queda de um avião, sem
sequer confirmarem o desastre. A sede de sangue é tanta que nem se confirma a
origem ou a veracidade da notícia.
Qual o objectivo?
«Nos últimos dias, à semelhança de toda a imprensa
espanhola, o El Mundo (Espanha) tem publicado inúmeras notícias sobre o
incêndio de Pedrógão Grande. Mas ao contrário da generalidade dos jornais, como
o El Pais e outros que o têm feito de forma neutra, o El Mundo tem publicado
textos, sem excepção, que demonstram uma orientação claramente
anti-governamental e que procuram atribuir responsabilidades a António Costa,
Ministros e autoridades portuguesas.
Alguns exemplos: “Caos no maior incêndio da história de
Portugal: 64 mortos, um avião-fantasma e 27 aldeias evacuadas.”, “gestão
desastrosa da tragédia”, "A evidente falta de coordenação entre as
autoridades, provocou uma enxurrada de críticas à gestão do desastre por parte
do Governo do primeiro-ministro António Costa, e em particular da ministra da
Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, a menos de quatro meses das
eleições legislativas.”
O caso atinge mesmo proporções políticas colossais. Não só é
sugerido que o caso pode fazer cair ministros e até todo o governo, sugere
ainda que pode mesmo “pôr fim à carreira política de António Costa.” É este o
clima que o El Mundo diz que se vive em Portugal.
A torrente de notícias duras e o tom crítico não tardaram a
chegar a Portugal, e a imprensa portuguesa, na sua maioria, deu eco às críticas
do El Mundo: Sábado, SIC Notícias, Jornal Económico, Observador, Expresso,
Correio da Manhã são exemplos de órgãos que foram publicando notícias sobre
aquelas notícias. Casos destes são frequentes: recorrer à imprensa
internacional para validar posições sobre questões internas; ver o que “o que
se anda a dizer de nós lá fora” e, se disserem mal, há quase automaticamente um
enorme potencial mediático.
O autor de todos estes textos do El Mundo é sempre o mesmo:
Sebastião Pereira. E é justamente aqui que o problema começa. Até ao último
Sábado, Sebastião Pereira nunca tinha escrito um único texto no El Mundo ou em
qualquer outro órgão de comunicação social português ou espanhol. Uma conclusão
que resulta de uma pesquisa em todos os arquivos online. Não há também qualquer
registo com o nome de Sebastião Pereira na Comissão da Carteira Profissional de
Jornalista (CCPJ), a única instituição que pode habilitar jornalistas
portugueses a exercer a profissão em Portugal. Nas redes sociais, nas escolas
de jornalismo e entre jornalistas que estiveram no local do incêndio, ninguém
sabe ou ouviu falar de tal nome.
Segundo o El Mundo, Sebastião Pereira é um freelancer a
actuar em Lisboa, que, no Sábado, se ofereceu directamente ao jornal para fazer
a cobertura dos incêndios florestais de Pedrógão Grande, aproveitando para isso
o facto de já estar pela zona.
É este o estranhíssimo caso de Sebastião Pereira, o
jornalista-fantasma.
Neste momento, e depois de investirmos algumas horas no
assunto, podemos afirmar com segurança que o "jornalista português
Sebastião Pereira" não existe, logo:
1. Ou Sebastião Pereira não é jornalista e, usando o seu
nome próprio ou um pseudónimo, enganou um dos maiores jornais espanhóis e a
imprensa portuguesa foi de arrasto num enorme logro.
2. Ou Sebastião Pereira é um jornalista português com
carteira (ou carteira de estagiário) que está a usar um pseudónimo para
dissimular a sua verdadeira identidade (na consciência, talvez, de que a
verdadeira identidade cortaria a corrente mediática que se formou e que deu
origem às notícias em Portugal)
3. Ou o El Mundo está a enganar todos os seus leitores e não
contratou nenhum jornalista, estando apenas a reproduzir textos de outros
órgãos, criando a assinatura de uma personagem fictícia.
Em qualquer das hipóteses, o caso é gravíssimo por várias
razões. Desde logo, porque podemos já dizer que grande parte da imprensa
portuguesa foi caixa de ressonância de uma notícia que tem, no mínimo, um
problema de consistência enorme no plano da autoria. Mas pode ainda ser mais
grave, dependendo do que vier a saber-se a partir deste preciso momento.
Entendemos que o El Mundo tem de dar explicações sobre este
caso, identificando inequivocamente Sebastião Pereira. Tem de dar explicações
urgentes. É nesse sentido que propomos a todos os nossos seguidores que nos
ajudem a contactar Paco Rosell (Diretor) e Silvia Roman (Jefa Sección
Internacional), para que ambos se pronunciem sobre o que se está a passar.
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