Hoje, começa o
congresso dos jornalistas…
O que se passou ontem no Público é mais um belo exemplo do
advento da pós-verdade: surge uma notícia adulterada, entretanto desmentida, e um jornal supostamente credível
apropria-se dela, ignorando esclarecimentos posteriores, redesenha-a e gera réplicas noutros meios.
De facto, como escreve João Mendes, do Aventar, o Público do Sr. Dinis está uma miséria. Não admira que não haja lá espaço para o José Vitor Malheiros.
Estou plenamente de acordo...
A cronologia de um truque:
12:47 – The Guardian e FT publicam notícia com
declarações de Robert Goodwil, ministro da imigração do Reino Unido, onde este
diz que vê como bons olhos a aplicação de um imposto de mil libras sobre cada
trabalhador estrangeiro, “útil para os trabalhadores britânicos que se sentem
preteridos.”
16:06 – The Guardian diz que, apesar das declarações do
ministro, não existe qualquer intenção do governo britânico e refere
expressamente, no mesmo texto, que não passou de um comentário. O
esclarecimento vem do gabinete de Theresa May, primeira-ministra, que se
distancia da ideia. http://tinyurl.com/j9wgr6q
16:26 – Público, ignorando o encerramento da história
determinado pela notícia do The Guardian, que desfez todo o seu potencial de
polémica e, provavelmente, animado com o potencial de partilhas e likes de
emigrantes portugueses e familiares, diz que “Londres quer taxar com mil libras
cada trabalhador qualificado europeu.” LONDRES! QUER! TAXAR! – já é outra história
– Só mais adiante, no decorrer da notícia, é que se lê que não é “Londres”, ou
seja, que não é nenhuma proposta ou decisão do governo britânico, mas sim uma
opinião pessoal favorável de um dos seus ministros. (da imigração e não do
interior, como diz erradamente o PÚBLICO) http://tinyurl.com/gl37js9
Para piorar, acrescenta no lead que o Labour considerou a
medida uma forma de “boa gestão da imigração,” o que é mentira, como se pode
ver pela própria peça do The Guardian. O diário português baseou-se nas
declarações de Frank Field, um MP do Labour que está extremamente distante da
liderança do partido e nunca apoiou Jeremy Corbyn. Longe de ser “o Labour.”
17:29 – O Público, face às evidências e às reprimendas
dos leitores, corrige a informação sobre o Labour. Corbyn rejeita.
18:01 – O Público, uma hora e meia depois e após mais
reprimendas de leitores, corrige finalmente a notícia e considera o comunicado
de 10 Downing Street (“No 10”). Ironicamente, usa, como base, uma notícia que é
anterior à sua primeira notícia. http://tinyurl.com/grdtlfe
18:51 – Como um cancro, a notícia falsa alastra-se pela
imprensa portuguesa, que, quando não é a primeira, tem toda a pressa em ser a
segunda e, logo, dar a notícia sem verificar. “Londres admite impor imposto
para trabalhadores qualificados de outros países europeus”, diz o Negócios. http://tinyurl.com/znc4jbg
—
1000 partilhas geradas com uma não notícia. Receitas de
publicidade. Clicks, clicks! Alarme! Choque! E a decadência progressiva da
imprensa portuguesa, arrasada na sua credibilidade.
[Fonte]
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