O ex-primeiro-ministro, José Sócrates, ditou uma carta ao seu
advogado, João Araújo, que foi divulgada esta quarta-feira à noite pela TSF e
pelo Público.
Tal como José Sócrates, considero que as "fugas"
de informação são crime. E, também, não espero que os jornais, a quem elas
aproveitam e ocupam, denunciem o crime e o quanto ele põe em causa os ditames
da lealdade processual e os princípios do processo justo.
Eis a carta:
«Há cinco dias "fora do mundo", tomo agora consciência de que, como é habitual, as imputações e
as "circunstâncias" devidamente seleccionadas contra mim pela
acusação ocupam os jornais e as televisões. Essas "fugas" de informação são crime. Contra a Justiça,
é certo; mas também contra mim.
Não espero que os
jornais, a quem elas aproveitam e ocupam, denunciem o crime e o quanto ele põe
em causa os ditames da lealdade processual e os princípios do processo justo.
Por isso, será em
legítima defesa que irei, conforme for entendendo, desmentir as falsidades
lançadas sobre mim e responsabilizar os
que as engendraram.
A minha detenção para interrogatório foi um abuso e o espectáculo
montado, em torno dela, uma infâmia; as imputações que me são
dirigidas são absurdas, injustas e infundamentadas; a decisão de me colocar em
prisão preventiva é injustificada e constitui uma humilhação gratuita.
Aqui está toda uma lição de vida: aqui está o verdadeiro poder – de
prender e de libertar. Mas, em
contrapartida, não raro a prepotência atraiçoa o prepotente.
Defender-me-ei com as
armas do Estado de Direito – são as únicas em que acredito. Este é um caso da
Justiça e é com a Justiça Democrática que será resolvido.
Não tenho dúvidas que
este caso tem, também, contornos políticos e sensibilizam-me as manifestações
de solidariedade de tantos camaradas e amigos. Mas quero o que for político à
margem deste debate. Este processo é comigo e só comigo. Qualquer envolvimento
do Partido Socialista só me prejudicaria, prejudicaria o Partido e prejudicaria
a Democracia.
Este processo só agora começou.
Évora, 26 de Novembro
de 2014
José Sócrates»
* Sublinhados da minha responsabilidade
1 comentário:
Jornais? televisão?
Estamos a falar de quê? Do jornalismo que “informa” o que se come, aonde se toma banho, que é o nº 44...
Comunicação social que tentou manipular mentes com fins políticos?
Comunicação social que só se repete? Comunicação que se deixa também corromper?
Ando à pagar a televisão pública, para esta colocar funcionários (pois não os considero sequer jornalistas, porque um jornalista a sério recusa-se a ser papagaio), para passarem dias à porta de um tribunal a filmar janelas, portões e carros a entrar e a sair?
Algo de muito mal se está a passar.
Algo de muito mau e perigoso.
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