[…]
Ao passar os olhos pelas
páginas do Público, antes de o ler com mais atenção, os meus olhos quedaram-se
na página 42 no anúncio do livro de John Locke – Dois tratados do governo
civil.
Foi o suficiente para pôr a
minha imaginação a trabalhar e fazer ressurgir a minha revolta surda.
Passados quase três séculos,
depois de múltiplas revoluções e contra-revoluções na área social e dos
direitos humanos, de se discutir Karl Marx e Hengel, sem que, na maioria das
vezes, tenham lido algo deles, de se opinar sobre os direitos sociais, sem
saber nada do que isto representa, de apelarem aos grandes marcos da sociedade
livre – a revolução americana, a revolução francesa, a revolução soviética
(desvirtuada rapidamente) e da própria revolução de Abril de 1974 – sem se
importarem pelas suas géneses, não vou estranhar que pouco se saiba sobre John
Locke.
E, foi assim, que percebi: se
a maior e mais antiga democracia do mundo, pelo menos na visão mais moderna de
democracia elege uma figura tão asna, iliterata e desrespeitosa dos mais
elementares direitos humanos, como se poderia saber que Locke escrevera o
primeiro tratado como refutação ao pensamento absolutista e do direito
hereditário de Robert Filmer, em Patriarche?
Mais, ainda, quando em pleno
século XXI, o servilismo do poder absoluto e das benesses atribuídas aos seus
lacaios consente o exercício “político” de um homem que ignora os mais
elementares princípios de Equidade, Justiça e Liberdade – Donald Trump –, pondo
em risco o equilíbrio social da Humanidade? […]
[…]